A religiosidade é contagiante
>> sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Por Marcelo Berti
É interessante como a religiosidade é contagiante: Ela não precisa de
propaganda, não precisa de incentivo, nem mesmo precisa de orientação.
Na verdade, parece que a religiosidade é de certo modo inato a cada um
de nós. Parece que temos a necessidade de criar regras, modelos,
sistemas que tornem nossa “adoração” mais palatável e objetiva.
Entretanto, nos dias de Cristo a religiosidade tinha tudo isso:
Propaganda, incentivo e orientação. Os Fariseus eram os modelos da
religião e tinham tudo o que era necessário para ensinarem o que era a
“verdadeira” religião para o povo.
Eles se distinguiam das outras opções religiosas nos seus dias, por sua
crença e apreço pela Lei que Deus havia dado a Moisés, a Torá. Eles
também advogavam ser os verdadeiros intérpretes da Lei baseada na
tradição oral dos anciões, que posteriormente veio a ser codificada no
documento que conhecemos como Talmud.
Segundo Flávio Josefo, grande parte da população da Palestina do
primeiro século aceitava sua doutrina (Ant.18.15) de modo que até mesmo
os Saduceus (outro grande grupo religioso em Jerusalém) estavam sujeitos
aos Fariseus (Ant.18.17).
Os Fariseus eram os homens que levavam a vida religiosa do Templo para
casas, sinagogas e para a vida pessoal do judeu comum. Eles eram os
heróis da religião. Homens de alta posição social e prestígio em sua
sociedade.
Mas, de modo interessante, o Talmud (Mas. Sotah 22b) registra a existência de sete tipos de Fariseus no primeiro século:
O Fariseu “ombro“: Esse é o tipo de fariseu que carrega todas as suas boas ações em seus ombros para que todos possam ver;
O Fariseu “espera só mais um pouquinho“: Esse é o tipo de fariseu que
prefere esperar para ver o que vai acontecer antes de agir. Ele sempre
tem uma boa desculpa teológica para não realizar uma boa obra.
O Fariseu “machucado“: Esse é aquele que fechava os olhos para evitar
olhar para uma mulher, mas por fazê-lo enquanto andava, normalmente
tropeçava e caia.
O Fariseu “corcunda“: Esse é aquele que evitava qualquer tipo de
tentação por andar olhando para baixo. Há quem diga que isso era também
era uma forma de demonstrar publicamente sua humildade.
O Fariseu “exibido“: Como o nome já diz, esse era o fariseu que tinha
prazer em contar (numericamente) e contar (publicamente) seus feitos. O
objetivo era ter sempre o maior número de boas obras que os outros
participantes da religião.
O Fariseu “cheio de medo“: Esse era o fariseu que temia a Deus, não
exatamente por causa da sua reverência ou respeito por Deus, mas por
medo de Seu julgamento. Em outras palavras, era aquele que por temer o
inferno se certificava de obedecer todos os mandamentos da Lei de Deus,
mesmo aqueles criados pela tradição dos anciãos.
O Fariseu “que amava a Deus“: Esse era considerado o fariseu ideal, que
obedecia a Deus por amor a Deus. Um grupo minoritário, que poderia ter
incluido homens como Nicodemos, José de arimatéia e até mesmo Gamaliel.
Na minha opinião, o mais interessante em ler essa lista é perceber que
esse tipo de farisaísmo ainda existe e está firme e forte em nossas
igrejas. R.H.Stein está correto quando diz que “nem mesmo o cristianismo
está isento dessa infeliz tendência“ (Stein, R. H. (2001). Vol. 24:
Luke, pp. 340–341.).
A verdade é que de alguma forma os fariseus fizeram escola na igreja de
tal modo que essa mesma lista poderia ser escrita para descrever sete
tipos de cristãos religiosos. Deve ser por isso que também podemos dizer
que ainda existe a propaganda, o incentivo e os modelos da
religiosidade entre nós. É fato, a religiosidade é contagiante!
Fonte: NAPEC
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