7 Grandes perguntase mistérios da bilbia
>> quinta-feira, 26 de julho de 2012
Quando oramos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus é que fala conosco.”
“Quando
oramos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus é que
fala conosco.” A frase é do bispo Isidoro de Sevilha (560 a 636 d.C.),
considerado um dos mais importantes teólogos medievais, e retrata muito
bem o status que adquiriu a Bíblia. Apesar de seu nome ser usado no
singular, o significado original em grego é “livros”. Isso porque a obra
reúne, na realidade, 66 escritos, produzidos durante 1.600 anos e por
40 diferentes autores, desde humildes agricultores e pescadores a
renomados reis. Sem ela, o mundo não seria o mesmo. Foi a Bíblia que
trouxe as bases das três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o
cristianismo e o islamismo. Ao se transformar na publicação mais lida e
distribuída no mundo, sendo traduzida para mais de 2.400 línguas e
dialetos, também moldou a cultura e os valores da sociedade,
universalizando direitos e promovendo a liberdade de consciência e de
expressão.
Mesmo
diante de tamanha importância, são muitas as dúvidas que ainda cercam
os relatos bíblicos. Milhares de estudos e artigos já foram publicados
sobre os mais diversos trechos e acontecimentos descritos no livro, mas
eles continuam resistindo como fonte de não poucas polêmicas. Tudo bem,
alguém pode culpar Martinho Lutero, João Calvino e os demais
reformadores protestantes e seus ensinos de livre interpretação das
Escrituras como a razão para tantas opiniões diferentes. Mas
convenhamos: compreender por que um Deus tão bondoso permite o
sofrimento e ainda manda matar ou entender o que significam todos
aqueles estranhíssimos seres e eventos registrados no Apocalipse não é
nada fácil.
A
seguir, você conhecerá sete das mais discutidas questões sobre a Bíblia
nos últimos tempos. O debate é bastante diversificado. Na discussão
histórica, a dúvida é se eventos fantásticos como o dilúvio universal, a
Arca de Noé, a abertura do Mar Vermelho aconteceram ou são apenas
simbólicos. Por outro lado, é analisado um assunto bastante prático,
apesar de tantas vezes metafísico: segundo os textos bíblicos, o que
acontece com a pessoa quando ela morre? E aí, nem o inferno escapa. Se
você imaginava ele como um lugar embaixo da terra, onde enormes
labaredas de fogo se misturam a umforte cheiro de enxofre e para onde
vão as almas dos maus logo após seus falecimentos, pode ter uma enorme
surpresa. Encontrar as respostas exige tempo, estudo, oração e, claro,
auxílio divino. Mas a recompensa de conhecer um pouco mais da Palavra de
Deus vale qualquer esforço. Como explicou certa vez o teólogo
presbiteriano Francis Schaeffer (1912 a 1984): “Um simples cristão com a
Bíblia na mão pode dizer que qualquer um, até a maioria, está errado”.
1 – Os grandes eventos e milagres aconteceram mesmo ou não passam de mito?
Durante
séculos, ninguém ousou dizer que algo narrado pela Bíblia poderia não
ser verdade. Se a ciência discordasse de alguma coisa, era ela que
necessariamente estava errada. Esse panorama começou a mudar no começo
do século 18, com a Revolução Industrial e com o Iluminismo. Dentro e
fora da Igreja, pessoas começaram a estudar o livro como qualquer outra
obra histórico-literária, aplicando nele os métodos da análise crítica. O
resultado é visto numa série de questionamentos: A história do dilúvio e
da Arca de Noé não é apenas um mito? O êxodo dos judeus fugindo da
escravidão no Egito e abrindo as águas do Mar Vermelho pode ser
simbólico? E o que dizer dos fantásticos milagres de Jesus, que teria
até ressuscitado? Para os mais críticos, eventos como esses nunca
aconteceram. Canaã, a região que hoje corresponde a Líbano, Palestina,
Israel e partes da Jordânia, do Egito e da Síria, estava sob o domínio
egípcio e era necessário criar um relato que inspirasse as diversas
tribos a lutar contra essa situação. Assim, surgiu grande parte do
Gênesis e do Êxodo. Quando a Bíblia conta que as leis mosaicas foram
encontradas no templo, durante o reinado de Josias, por volta de 622
a.C., também inventa um relato para explicar o surgimento das diversas
regras. “Quem escreveu textos como Deuteronômio foram os próprios
sacerdotes da época de Josias”, destaca a historiadora norte-americana
Karen Armstrong em seu livro A Bíblia (Jorge Zahar Editor).
Ainda
segundo Armstrong, depois da volta do exílio babilônico, por volta de
538 a.C., a fé dos hebreus foi radicalmente transformada. Antes
politeístas e adorando vários deuses, agora eles optam por reverenciar
apenas Yaweh. Sob o comando do sacerdote Esdras, os textos são editados e
enriquecidos. Trechos como os Dez Mandamentos e a proibição de
casamento dos judeus com outros povos teriam surgido ali. Entre aqueles
que fazem coro com a historiadora estão vários teólogos liberais. Para
eles, a Bíblia usa uma linguagem figurada e poética muito forte. Moisés
não abriu o Mar Vermelho, mas faz sentido usar isso como metáfora, já
que o mar é símbolo do caos e, para se libertar, o povo vence as forças
do caos egípcio justamente com a ajuda de Deus.
Ultimamente,
essas versões ganham força principalmente por causa de livros,
documentários televisivos e reportagens em revistas seculares. Mas são
pouco aceitas entre a maioria dos evangélicos. “Como sacerdotes do tempo
de Josias teriam inventado essas histórias se mais de 200 culturas, por
exemplo, preservaram a história de uma grande inundação que destruiu a
Terra e da qual foram salvas algumas pessoas num grande barco? É
bastante provável que esses eventos realmente aconteceram”, afirma o
jornalista adventista Michelson Borges, autor do livro A História da
Vida (Casa Publicadora Brasileira).
Borges
explica que dificilmente os hebreus teriam copiado essas histórias, já
que seus relatos mais simples sugerem tratar-se das narrativas
originais. “Além desses argumentos, há várias evidências geológicas e
achados arqueológicos que confirmam a veracidade dos textos bíblicos”,
completa. No caso do dilúvio, as evidências seriam variadas: metade dos
sedimentos continentais são de origem marinha; fósseis de animais
marinhos são encontrados costumeiramente em grandes montanhas.
Já
a existência de escravos hebreus no Egito é atestada por pinturas nas
paredes das pirâmides e por papiros de sarcedotes egípcios, como Ipuwer,
que menciona as mesmas pragas bíblicas que assolaram a nação. Estudando
os originais hebraicos do Antigo Testamento, ainda é possível encontrar
palavras e expressões que são claramente de origem egípcia, o que
indica que seu autor era versado nos idiomas e tradições de ambas as
culturas, perfil que combina bem com Moisés.
2 – As profecias do Apocalipse são literais?
Grandes
bestas que emergem do mar, multidões vestidas de branco no céu,
julgamentos e vinganças empreendidas por cavaleiros sobrenaturais e
animais monstruosos, que mais parecem ter saído de um filme de terror. O
Apocalipse é um dos mais assustadores e fantásticos relatos da
literatura em todos os tempos. Considerado uma revelação sobre a volta
de Cristo e o fim do mundo, cristãos em todas as épocas o consideraram
profético, ou seja, com descrições do futuro. Mesmo que pouco
entendessem daquilo que está escrito nele.
“Muito
do medo que vem da leitura do Apocalipse existe porque as pessoas
ignoram que essa mensagem foi escrita para um público específico num
contexto específico: as sete igrejas da Ásia Menor do final do primeiro
século”, defendem Wes Howard-Brook e Anthony Gwyther no livro
Desmascarando o Imperialismo (Edições Loyola e Paulus). Durante muito
tempo, acreditou-se que o Apocalipse fora escrito para ajudar os
seguidores de Jesus a manter a fé em meio à desgraça provocada por uma
terrível perseguição, com a promessa de que a iminência do fim
encerraria sua grande tribulação.
Essa
hipótese já não encontra apoio nem entre os estudiosos mais liberais.
Em fins do primeiro século, não havia perseguições generalizadas ou
sistemáticas naquela região. Mas a sombra do poderoso Império Romano e
seus valores corrompidos pairava sobre as pequenas e insipientes
comunidades cristãs. Para que elas não sofressem a tentação de fazer as
pazes com Roma, João revelou o Império como a prostituta sedutora que
oferecia a boa vida em troca de obediência e de uma besta esfomeada que
devorava todos os que ousassem se opor a ela.
Que
o Apocalipse é um texto altamente simbólico parece haver consenso. Mas
muita gente acredita que essa simbologia, sim, já desencadeia e ainda
provocará outros eventos bem reais até o fim dos tempos. “Logo no início
do livro, vemos que seu conteúdo abrange o passado, o presente e o
futuro da Igreja. ‘Escreve as coisas que tens visto, as que são e as que
depois destas hão de acontecer’ é a ordem que João recebe”, explica o
jornalista e pastor assembleiano Ciro Sanches Zibordi, autor do livro
Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria (CPAD). “Eventos como o juízo
final, o trono branco e a Nova Jerusalém não aconteceram. Como pensar
que se referiam àquela época?”, questiona.
Desse
modo, as bestas de Apocalipse 13 são simbólicas. Mas a primeira besta
representaria, na realidade, um líder ou poder político e o falso
profeta, um personagem religioso. Outra passagem real seria a guerra no
céu, descrita no capítulo anterior. Apesar de trazer também
consequências e efeitos futuros, ela mostra a rebelião de Satanás e como
ele foi expulso com um terço dos anjos rebeldes da presença divina.
“Por tudo isso, creio que a advertência para não ignorar as profecias
são muito válidas. Eventos como a grande tribulação, a volta e vitória
de Jesus, a prisão de Satanás e o estabelecimento do Milênio, o
julgamento e o novo céu e nova Terra se cumprirão literalmente”, aposta
Zibordi.
3 – O que acontece com a pessoa quando ela morre?
Um
ditado popular garante que a única coisa certa para quem está vivo é de
que um dia morrerá. Apesar dessa certeza, se existe algo que quase
ninguém quer é morrer. Muito por conta da aura de mistério que cerca
aquilo que está reservado ao ser humano no além-túmulo. Certo mesmo,
segundo a Bíblia, é que essa história de reencarnação não existe. Todos
passam por aqui uma única vez e depois disso serão julgados. E, se a
vida terrena é o ponto de partida, o de chegada será a vida eterna, mas
em corpos ressuscitados. Pelo menos, para aqueles que crerem em Jesus.
No
demais, ou seja, o que acontece nesse meio tempo, enquanto os mortos
não ressuscitam, é que as opiniões se dividem. “De acordo com as
Escrituras, somos constituídos de uma parte material, o corpo, e outra
imaterial e imortal, a alma ou espírito. Alguns defendem que esse
espírito seria um terceiro elemento. Quando a pessoa morre, a alma
continua consciente”, afirma Paulo Sérgio de Araújo, autor do livro Qual
o Destino do Homem? (Editora Lio).
Para
defender seu ponto de vista, ele cita dois exemplos: Moisés, que mesmo
falecido, apareceu no Monte da Transfiguração (Mateus 17.1-9) e o
apóstolo Paulo, que disse preferir partir ou morrer para estar com
Cristo (Filipenses 1.23). “Se o apóstolo acreditasse que sua morte o
lançaria num estado de total e literal inexistência, cortando sua
comunhão com o Senhor, seria um absurdo total ele declarar que morrer
era melhor do que continuar vivo.”
Apesar
disso, esses mortos não ficam vagando por aí como almas penadas e têm
contato com os vivos como algumas religiões acreditam. “Até Cristo,
todos ficavam no lugar que em hebraico quer dizer sheol, em grego,
hades, e em latim, infernus. Daí nossa palavra inferno. Mas longe de ser
um lugar tenebroso, tinha duas divisões. Os ímpios eram atormentados,
mas os justos ficavam no paraíso ou seio de Abraão. Após a ascensão de
Cristo, os salvos vão para o céu e ficam na presença do Senhor”, explica
Araújo.
Nem
todos interpretam os acontecimentos depois da morte dessa maneira.
“Para entender a morte, é preciso compreender a vida”, diz o jornalista e
pastor adventista Wendel Lima. Ele cita a criação do ser humano em
Gênesis 2:7 para desvendar o mistério. Nessa passagem, Deus sopra o
fôlego de vida num boneco de barro e o torna uma alma vivente.
“Diferente do que os gregos diziam, o homem é indivisível. Quando ele
morre, a alma, que é toda a pessoa, com seus intelecto e emoções, acaba.
O corpo volta para o pó e o espírito ou fôlego de vida para Deus, como
ensina Eclesiastes 12:7.”
Ele
também recorre às línguas originais para explicar sua visão. Enquanto
espírito, em hebraico, tem o sentido de “sopro” ou “vento”, alma dá a
ideia de “pessoa” ou “ser vivo”. “Nada de Gasparzinhos”, aponta. O mesmo
acontece com sheol ou hades. “Esse lugar nada mais é do que a
sepultura, onde todos os mortos descansam até o tempo da ressurreição e
do juízo”, defende Lima.
4 – Deus mandou matar?
Guerra
santa é um assunto que ganhou destaque na imprensa depois dos atentados
de 11 de setembro de 2001. E normalmente causa mal-estar e pesadas
críticas de cristãos sinceros ao lembrar que, naquela ocasião, mais de 2
mil inocentes morreram nos choques dos aviões contra as Torres Gêmeas,
em Nova York. Porém, o que poucos se dão conta é que algo muito parecido
aconteceu milhares de anos atrás e está registrado nas páginas da
própria Bíblia. Ali, mais precisamente no livro de Josué, Deus ordena
sem qualquer cerimônia a seu povo que invada a cidade de Jericó e mate
todos os cananeus que lá encontrar, sejam eles homens, mulheres ou mesmo
crianças.
Não
é de hoje que a ordem divina provoca consternação geral. Afinal, por
que um Deus tão bom, que quer a salvação de todos, ordenou tal massacre?
Essa questão já gerou acaloradas discussões e realmente não há
explicações fáceis. À primeira vista, a impressão que dá é que a
divindade do Antigo Testamento é muito diferente daquela que enviou o
próprio Filho para morrer numa cruz pela humanidade no Novo. “De fato,
há uma descontinuidade de algumas práticas do Antigo para o Novo
Concerto. Antigamente, os israelitas eram usados por Deus como
instrumentos de seu juízo. Hoje, é uma traição ao Evangelho pegar em
armas para promover os interesses de Cristo”, diz o teólogo Tremper
Longman III, no livro Deus Mandou Matar? (Editora Vida).
Para
tentar solucionar o imbróglio, Longman propõe analisar a situação sobre
dois atributos pessoais de Deus: seu amor e sua justiça. Ao mesmo tempo
que ele é amor e quer salvar a todos, também é justo e cobrará a cada
um segundo suas obras. O relato de Josué mostra que houve pessoas em
Jericó, inclusive a prostituta Raabe, de quem descenderia Cristo, que
foram poupadas. Se houvesse outras pessoas que mudassem sua posição,
igualmente seriam poupadas. “Deus não é injusto. Porém, naquele
contexto, a população de Jericó teve conhecimento da chegada dos
israelitas e tomou partido de seus deuses contra Yahweh. Naquele tempo, a
revelação ainda começava e demoraria tempo para que os valores cristãos
pudessem ganhar força e moldar a consciência social. Mesmo assim, quem
tem problemas com relação à conquista de Canaã, também terá em
compreender o juízo de Cristo, pois nele, todos os desobedientes,
independente de idade ou condição serão jogados no lago de fogo”,
compara Longman.
Inevitavelmente,
a questão puxa outra: como um Deus amoroso permite tanto sofrimento no
mundo? Para debater “o problema da dor”, como C. S. Lewis certa vez
chamou o assunto, é necessário deixar algumas coisas claras. De acordo
com a Bíblia, nessa história não há inocentes, todos pecaram e estão
sujeitos às mais diversas situações em um mundo de injustiça. Não que
esta seja a vontade divina. Pelo contrário: ele criou tudo perfeito, mas
quando o homem se afastou de seus caminhos, permitiu a entrada da dor,
do sofrimento e da morte no mundo.
“A
lição de que a rebelião – e todo pecado – leva à morte é muito clara no
Jardim do Éden. Na ocasião, Adão e Eva deveriam ser mortos na hora, mas
foram poupados e receberam uma nova chance. Essa graça é o motivo de
qualquer um de nós ainda estar respirando. Deus minimiza o mal causado
pelo homem. Assim operam sua justiça e seu amor, ainda que não aceitemos
muito bem tudo isso”, finaliza Longman.
5 – A lei foi abolida?
Desde
que apóstolo Paulo começou suas viagens missionárias essa questão
divide as opiniões dentro da Igreja. É fato que algo foi abolido por
Cristo na cruz, como propõe o próprio apóstolo dos gentios. Das 613
ordenanças entregues a Moisés no Monte Sinai, algumas reafirmações de
leis já existentes, várias não são mais seguidas pelos cristãos
modernos. Com exceção das comunidades judaico-messiânicas, que têm seus
próprios motivos, ninguém mais pratica a circuncisão ou durante o mês de
setembro acampa no lado de fora de sua casa para celebrar a Festa das
Cabanas.Entretanto, é impensável que alguma igreja aceite que seus
membros adorem outros deuses ou matem. Afinal, o que vale ainda nos dias
atuais?
Primeiro
é preciso esclarecer o que é essa tal “lei”. O termo mais comum em
hebraico para designá-la é torá e em grego nomos, mas tanto pode se
referir ao conteúdo total do Antigo Testamento, literalmente “a Lei e os
Profetas”, quanto aos cinco primeiros livros bíblicos, o Pentateuco,
aos Dez Mandamentos, à vontade revelada de Deus, a preceitos civis de
Israel ou cerimoniais, como os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes
como ofertas ou pelo perdão dos pecados da nação.
Os
preceitos abolidos consistiriam essencialmente em cerimônias, como os
sacrifícios. “Esse cerimonialismo foi usado por Deus para apontar a
figura de Cristo. Mas os preceitos morais, como os Dez Mandamentos,
continuam válidos para o povo de Deus, como Jesus mesmo garantiu ao
repreender aqueles que violavam os mandamentos, por menor que fossem. A
salvação é pela graça, mas para uma vida de obediência”, explica o
professor Rodrigo Pereira Silva, professor do Centro Universitário
Adventista (Unasp), em Engenheiro Coelho (SP), que faz parte de uma
corrente que defende a validade do decálogo, inclusive a guarda do
sábado como dia de adoração a Deus, para os cristãos.
Na
visão do professor Jorge Pinheiro, da Faculdade Teológica Batista de
São Paulo, discutir a graça divina é essencial, pois muita gente
confunde salvação com obediência à lei. “Ninguém é justificado pelas
obras da lei. No Antigo Testamento, a lei fazia parte do arcabouço
salvífico da religião de Israel, junto do sistema sacrificial. Jesus dá
início ao processo de desmistificação do papel da lei na salvação e
Paulo leva essa compreensão a seu ponto mais alto. Ora, a salvação surge
dá fé que a pessoa manifesta em Cristo. Para alcançá-la deve-se crer e
receber de graça e com arrependimento o dom de Deus”, explica.
Pinheiro
esclarece que a graça não exime o cristão de suas responsabilidades,
mas muda sua vida. “A obediência ética sem amor é imposição cruel.
Firma-se um relacionamento com Deus a partir da conversão, no qual, essa
obediência acontece na forma de novidade de vida, porque a graça da
salvação alcançou o indivíduo.”
6 – O que são os dons espirituais?
Corria
o ano de 1906, quando uma série de eventos impressionantes teve lugar
em um antigo estábulo localizado no número 312 da Rua Azusa, em Los
Angeles, Estados Unidos. Todos os dias, mais de mil pessoas de todos os
cantos do país e até do exterior chegavam ali para participar dos cultos
evangélicos comandados por William Joseph Seymour. Todos buscavam a
mesma coisa: o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em
línguas, um revestimento de poder sobrenatural para cumprir a vontade
divina.
O
moderno movimento pentecostal pode não ter nascido em Azusa, mas depois
dali, nenhuma igreja evangélica seria mais como antes. Os dons
espirituais passaram a receber uma nova ênfase, tanto em denominações
que aceitaram a renovação carismática quanto naquelas que, mesmo
fechadas à novidade, descobriram as vantagens de buscar mais
profundidade na vida espiritual mediante um renovado relacionamento com o
Espírito Santo.
írito
encontram-se em passagens como Romanos 12, 1 Coríntios 12 e Efésios 4.
Alguns estudiosos chegam a elencar mais de 30 deles. Cem anos após Azusa
é difícil encontrar igrejas que não aceitem a validade desses dons para
os dias atuais. Mas aquelas mais tradicionais excluem as manifestações
carismáticas, especialmente falar línguas ininteligíveis, de seus
cultos. Para elas, certos sinais e maravilhas eram restritos aos tempos
apostólicos e quando Paulo fala sobre profecia, refere-se à pregação
inspirada no púlpito, ou sobre línguas, à capacidade de aprender outros
idiomas humanos.
“É
verdade que há dons de serviço e ministeriais, mas eles diferem
daqueles nove mencionados em 1 Coríntios. Esses são capacitações
sobrenaturais dadas por Deus para sua Igreja”, aponta o pastor Enéas
Tognini, da Igreja Batista do Povo, em São Paulo, e presidente de honra
da Sociedade Bíblica do Brasil. Em 1958, Tognini, um batista bastante
conservador, teve sua primeira experiência em relação aos dons e falou
em línguas. Nos anos seguintes, tornou-se uma das figuras centrais no
processo de renovação de inúmeras igrejas batistas, presbiterianas e
metodistas Brasil afora.
Ao
analisar os dons espirituais e contar algumas de suas experiências, o
veterano pastor de 95 anos, 68 deles dedicados ao ministério, garante:
não se trata de emoção, mas de realidade. “Dons como profecia,
conhecimento e sabedoria não dependem de estudo prévio. São revelações
que Deus dá a respeito da realidade ou do que deve fazer uma pessoa em
circunstâncias que para ela são impossíveis de resolver. O discernimento
dá à pessoa a capacidade de saber se aquilo que está operando vem de
Deus, da carne ou do diabo. Já as línguas não são chamadas de estranhas
por acaso. São uma linguagem espiritual e precisam de uma interpretação
sobrenatural para que sejam entendidas. Junto com dons de curar e de
realizar milagres são ferramentas que não podemos desprezar se queremos
fazer o melhor para o Senhor.”
7 – Qual é o pecado que não tem perdão?
Certa
vez, enquanto expulsava demônios, Jesus fez uma advertência que até
hoje causa temor em muitos que lêem as Sagradas Escrituras. Ele alertou
as pessoas para que se prevenissem contra o “pecado que não tem perdão”.
Muitas teorias já foram elaboradas para tentar descobrir o que ele quis
dizer com essa expressão. Há quem fale em suicídio, adultério ou na
rejeição da mensagem do Evangelho. Mais recentemente, os pentecostais
passaram a usar o termo para advertir aqueles que não aceitassem suas
línguas e profecias. “Não há base bíblica para essas suposições.
Primeiro, a pessoa deve ficar calma: se é crente em Cristo Jesus e está
preocupado se, por ventura, já cometeu esse tipo de pecado, pode estar
certo de que nunca o praticou”, explica Josivaldo de França Pereira,
pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil e autor do livro Atos do
Espírito Santo (Editora Descoberta).
Nas
palavras do próprio Jesus, o pecado imperdoável é a blasfêmia contra o
Espírito Santo. “Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos
dos homens, mesmo as blasfêmias contra o Filho do Homem. Mas aquele que
blasfemar contra o Espírito não tem perdão para sempre, visto que é réu
de pecado eterno”, disse ele em Mateus 12.22 a 32. “Por que essa pessoa
não tem perdão?”, questiona Pereira. “Por que não se arrependerá de seu
pecado, visto que jamais sentirá o desejo de confessá-lo.”
Para
entender melhor esse pecado é preciso lembrar aquelas que seriam as
tarefas do Espírito Santo no mundo. Segundo Jesus, além de ensinar e
lembrar os crentes, ele convenceria o homem a respeito do pecado, da
justiça e do juízo divinos. Porém, como completou Paulo, se o indivíduo
não dá ouvidos ao Espírito, pode chegar ao ponto de entristecê-lo e
apagar sua influência (Efésios 4.30 e 1 Tessalonicenses 5.19). E há
pontos tão distantes de Deus que não permitem mais o retorno. Eles
chegam quando surge uma contínua e deliberada rejeição contra o
testemunho do Espírito em toda sua obra. Sem perceber, a pessoa rejeita e
se opõe ao único recurso que pode levá-la ao arrependimento, ao perdão e
a uma mudança. Com isso, seu coração torna-se endurecido e sua
consciência, insensível. Sem arrependimento e confissão, ela ficará
longe de Deus até o fim. Por isso, o perdão torna-se impossível.
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