Sofrer pelo Evangelho: A carta de uma mãe com câncer
>> domingo, 23 de setembro de 2012
Esta é uma carta escrita por Laura Gaultney Black
para seus 3 filhos de 4, 7 e 9 anos. Aos 32 anos de idade, Laura
descobriu que tinha câncer de mama quando estava grávida de sua terceira
filha. Ainda grávida, ela sofreu uma mastectomia e teve sua filha via
cesariana ainda com 33 semanas de gravidez, a fim de começar
imediatamente a quimioterapia. O câncer de Laura foi curado. Porém, 8
meses mais tarde, ele retornou e se espalhou para outros órgãos, como o
pulmão. Durante 5 anos, Laura lutou contra esse inimigo silencioso que
aos poucos a matava. Durante esses 5 anos, Laura esperou por um milagre
de Deus, sabendo que não existia nada na medicina que pudesse curá-la.
Diariamente, ela orava e pedia que Jesus a concedesse o privilégio de
criar seus 3 filhos, mas que a vontade dEle fosse feita, e não a dela.
Como uma serva boa e fiel, Laura combateu o bom combate. Com dignidade,
ela completou a carreira e guardou a fé. Deus não concedeu o milagre que
ela tanto pediu, mas como uma filha obediente ela foi fiel até a morte.
Dois dias antes de morrer, Laura escreveu em seu blog, “chegou a hora de terminar essa corrida do câncer”, e morreu dizendo “eu terminei, mas eu não desisti”.
Num
mundo em que o Evangelho tem sido usado como produto de barganha para
ganho e benefício próprio, o testemunho dessa irmã de fé é um
encorajamento, como também um tapa na cara de todos nos cristãos que
vivem esperando de Deus uma vida confortável, cheia de saúde, riqueza e
felicidade. Como Laura disse nessa carta, viveremos estas coisas
plenamente quando estivermos na presença de Deus. Hoje, Laura entende
completamente o que agora só entendemos em parte.
Marcela Soares Arledge
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Queridos Will, Gracy e Caroline,
isso é o que eu quero que vocês saibam a respeito de sofrer pelo Evangelho.
Ninguém
te avisa que talvez a parte mais difícil de viver seja morrer. Desde o
dia 23 de abril de 2012, meu corpo tem continuamente falhado. Eu já não
posso mais respirar sozinha sem a assistência de máscaras de oxigênio.
Posso andar apenas curtas distâncias. Minhas costas muitas vezes travam.
Estou cansada. Coisas que costumavam ser tão simples agora parecem
muito difíceis. Parte meu coração não poder cuidar mais de minha família
e até de mim mesma. Ah! Como eu adoraria ir pegá-los na escola mais uma
vez. Como desejo poder sentar com todos vocês em uma mesa de
restaurante e comermos uma refeição sem minhas crises de tosse ou sem
estar conectada a um tanque de oxigênio. Só poder levá-los à piscina por
uma tarde e assisti-los nadar seria delicioso. Este é certamente o
momento mais difícil que já encarei.
Will,
esta manhã acordei ao som do seu choro, deitado ao meu lado na cama.
Quando lhe perguntei o que havia de errado, numa tentativa de me
proteger, como você sempre faz, você simplesmente disse “Eu tive um
pesadelo”. Mas eu te conheço, e eu sabia o que você estava pensando.
Apesar de não termos conversado sobre isso, você consegue ver. Você e
Gracy conseguem ver o que está acontecendo diante de seus próprios
olhos. Mas pela graça de Deus, acho que Caroline ainda é muito novinha
para entender. Ver-me assim parte seu coraçãozinho, e vê-lo assim parte o
meu em mil pedaços. Eu simplesmente lhe segurei e disse “Não tem
problema chorar. Eu já chorei. Papai já chorou. Isso tudo é muito
triste. Mas não vamos desistir de ter esperança. Vamos continuar pedindo
por um milagre”. Então nós dois oramos juntos. E aí, você dormiu.
Sim,
meu corpo está morrendo. Não há qualquer esperança na medicina. Não há
esperança em nada, apenas em um milagre. Mas isso já é suficiente. Deus é
suficiente. Vou esperar nEle. Minha oração é exatamente a mesma de
Cristo antes de encarar a cruz. “Meu Pai, se possível, passe de mim este
cálice; no entanto não seja feita a minha vontade, mas a Sua”. Apesar
de ser muito difícil pra eu orar pedindo para que a vontade de Deus seja
feita, porque quero muito viver, não ouso terminar essa oração de outro
modo porque creio que pedir por qualquer coisa que não seja a perfeita
vontade de Deus seria pedir por algo imperfeito para todos nós. Amo
tanto vocês que não posso pedir nada que não seja a vontade perfeita do
Pai. Não posso compreender como eu morrendo seria o melhor para todos
nós, mas confio que se é isso o que Deus decidir, então é o melhor. Isso
é apenas um pouquinho do que andar pela fé e não por aparências
significa. Qualquer que seja o resultado, iremos louvar a Deus sabendo
que é a sua vontade boa e perfeita.
Antes
de ficar muito doente, fui convidada para dar um testemunho em um
estudo bíblico de mulheres na igreja de Briarwood a respeito de sofrer
pelo Evangelho. Depois que fiquei muito doente, percebi que
provavelmente eu não poderia estar presente para dar esse testemunho.
Por isso, decidi escrever o testemunho, para que outra pessoa lesse para
o grupo de mulheres. Decidi que esse conceito é tão importante que
seria bom o incluir em umas das cartas que estou escrevendo para vocês.
Paulo
diz a Timóteo: “participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho,
segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocação;
não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e
graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e
manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o
qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade,
mediante o evangelho, para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e
mestre e, por isso, estou sofrendo estas coisas;” (2 Timóteo 1:8-12).
Então, no capitulo 2:3, Paulo diz: “Participa dos meus sofrimentos como
bom soldado de Cristo Jesus.”.
A
primeira pergunta que você deve se fazer é: “Por quê?”. Por que um Deus
amoroso permitiria que Seus preciosos filhos sofressem ou até mesmo os
chamaria a sofrer? Quero dizer, Deus pode fazer qualquer coisa. Por que o
Evangelho não pode ser: “Venha a mim e te darei saúde, riquezas e
felicidade”? O Evangelho não podia ser assim? Alguns falsos pregadores
da Palavra dizem ser esse o Evangelho. Nada poderia ser mais distante da
verdade! Existem elementos de saúde, riquezas e felicidade na caminhada
cristã, mas não acontece do lado de cá.
O
problema é que somos criados com mentes finitas. Somos limitados em
nossos pensamentos porque foi assim que Deus nos criou – limitados.
Nenhum de nós pode entender plenamente a eternidade. Podemos tentar.
Podemos chegar perto, mas não podemos realmente entender. Então, aqui
estamos nessa terra, com nossas mentes finitas, tentando entender um
conceito que realmente não podemos compreender – então falhamos. E,
quando falhamos, começamos a focalizar e nos concentrar naquilo que
compreendemos, no que sabemos: essa vida. E quando focalizamos nessa
vida, tudo parece tão sofrido, toda nossa dor, todos nossos problemas
parecem tão dolorosos, tão equivocados, tão abandonados por Deus.
Quando, na verdade, sofrimento não deveria ser uma surpresa para nós.
Deus não apenas nos diz para esperamos por sofrimento, Ele quer que
vejamos o sofrer por Ele como um privilégio. Por quê?
Sofrimento
acrescenta ao Reino. Nada atrai mais a atenção das pessoas do que ver
alguém sofrendo e dando um testemunho cristão ao mesmo tempo. Vamos ser
honestos, você pode cantar Aleluias quando você ganha na loteria, quando
seu primeiro netinho nasce no dia do seu aniversário ou quando você foi
promovido, mas quem se importa? Não estou dizendo que não é bom louvar a
Deus por essas coisas. Claro que você deve louvá-Lo por essas coisas e
se alegrar nelas, mas isso não leva as pessoas em direção à cruz. Quando
você se alegra e O louva nos momentos bons, isso é esperado.
Entretanto, quando você se alegra e louva a Deus em meio ao sofrimento,
isso direciona as pessoas à cruz de Cristo. Não há nada em nós que
escolheria fazer isso, então quando outros nos veem tomando uma atitude
como esta, eles percebem que é somente pelo sangue de Jesus. Apenas o
amor de Jesus, somente a fidelidade do Pai, poderiam atrair nossos
corações para tão perto dEle durante essas situações.
É
por isso que sofrer pelo Evangelho é um privilégio tão grande – esse
sofrimento nos dá a chance de levarmos outras pessoas até Jesus. E não é
para isso que existimos? Temos toda a eternidade para viver com Jesus
em saúde, riquezas e felicidade. Mas temos apenas esse breve sopro de
vida na linha do tempo da eternidade para levarmos pessoas até Cristo. E
essa é a única chance que temos de criar qualquer tipo de impacto
verdadeiro durante nossas vidas – levar pessoas a Jesus.
Se
Deus tivesse me perguntado: “Ei Laura, você quer ter câncer por 5 anos e
deixar seus preciosos filhos assistirem seu corpo adoecer e minguar
enquanto se preocupam se vão ou não perder sua mãe, não tendo nada que
você possa dizer ou fazer para confortá-los, por que você mesma não
saberá se irei curá-la ou levá-la? Isso irá trazer pessoas até Mim, o
que você acha?”. Não sei o que eu teria dito. Gosto de pensar que eu
confiaria em Deus o bastante e teria fé o suficiente para dizer:
“Qualquer coisa por Ti, Senhor”, mas não sei. Mas Deus não me deu uma
escolha. Da mesma forma, na vida, vocês não terão uma escolha de sofrer
ou não. Vocês, meus queridos filhos, já foram expostos ao sofrimento
através dessa minha jornada. Vivemos num mundo falho e caído, e vocês
irão sofrer. A pergunta é: vocês irão sofrer em vão ou irão sofrer pelo
Evangelho? Escolham sofrer pelo Evangelho. O que isso significa é que
quaisquer que sejam as circunstâncias que se apresentarem em suas vidas,
vocês irão escolher lembrar que Deus sempre os ama e que Deus é sempre
bom. Se vocês realmente acreditarem nessas verdades, então terão a fé
necessária para andarem com segurança no meio da escuridão. Se tiverem a
fé para continuarem andando, vocês O verão ao longo da jornada e
acharão lugares dignos de louvor e ações de graças. Quando vocês acharem
lugares ao longo da jornada dignos de louvor e ações de graças, então
vão e compartilhem isso com outras pessoas, e isso as levará até Jesus.
Se vocês direcionarem pessoas para Cristo, então vocês terão sofrido
pelo Evangelho.
Deus
não me deu a opção de andar ou não por esse caminho, mas Ele tem me
dado a misericórdia, a compaixão e a graça para andar por esse caminho.
Descobri ser realmente verdade que as Suas misericórdias se renovam a
cada manhã. Sua compaixão nunca falha. Sua graça é realmente suficiente.
Até mesmo esse caminho duro e longo que tenho seguido tem sido repleto
de bênçãos sem medida. Houve muitas, muitas pessoas que sofreram pelo
Evangelho e nunca viram a recompensa por seus sofrimentos até que
chegaram ao céu. Deus tem sido gracioso ao me permitir ver alguns dos
benefícios gerados através desse sofrimento. Pessoas já me disseram que
vieram a conhecer a Cristo por causa do meu sofrimento, outras
aprofundaram na fé por causa do meu sofrimento, que a fé delas é maior
por causa do meu sofrimento. Isso é suficiente. Espero que seja
suficiente para vocês também. Se Deus escolher me levar de volta ao lar,
por favor, saibam que tudo isso não foi em vão. Por favor, saibam que
Deus permitiu que o sofrimento de nossa família levasse pessoas até Ele.
Espero que vocês se alegrem nisso. Eu sinto muito, muito mesmo pelo
sofrimento de vocês. Nem tenho palavras que possam adequadamente
expressar o quanto sinto por vocês. Mas minha oração é que a glória de
Deus seja maior que a dor que vocês estão sentindo. Amo tanto vocês
três. Obrigada por andar por esse caminho comigo. Obrigada por me amar,
apoiar, orar comigo e por mim, e por estarem ao meu lado todos os dias.
Vocês não fazem ideia do quanto isso me ajudou. Sou para sempre grata.
Amo vocês,
Mamãe.
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Por Laura Gaultney Black Copyright © 1997-2012 CaringBridge®, a nonprofit organization.
Tradução: cedida gentilmente ao voltemosaoevangelho.com por Marcela Soares Arledge. Um agradecimento a irmã da Marcela, Débora Pereira por mandar esta pérola para nós!
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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