Missões no Sertão: Desafios Missionários
>> quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Josenildo Virgolino
O
evangelho adentrou pelos sertões, inicialmente, pelo trabalho
desbravador dos colportores e dos evangelistas que naquela época eram
reconhecidos pelas igrejas. Gente sofrida, mas corajosa. Naquela época
enfrentavam-se viagens difíceis nas estradas de barro, em cima de
caminhões ou em lombos de cavalo. Como se não bastasse, a resistência ao
evangelho era muito grande. Pregavam-se na feira, nas ruas, cultos nos
sítios e etc. Havia perseguição instigada pela Igreja Católica. Igrejas
foram depredadas com os crentes dentro em pleno horário de culto. Muitas
Bíblias foram queimadas. Emboscadas foram feitas para matar pastores.
Igrejas foram derrubadas à noite durante o seu processo de construção.
Isso nós nos esquecemos com muita facilidade.
As igrejas iam se firmando nas cidades. Nem todas as denominações
conseguiram fazer com que suas bandeiras fossem também içadas nessas
terras. Algumas não se afastavam do litoral. Mas o trabalho desses
homens e mulheres corajosas rendeu frutos. Talvez pelo fato de se ter
uma área muito grande e os que se dispunham a tais empreendimentos serem
poucos, muitas lacunas ficaram para serem preenchidas, isto é: Muitos
lugares ficaram sem ser alcançados, principalmente na zona rural.
Se por um lado essas barreiras ao avanço do evangelho iam dificultando o
avanço dos evangelistas, ao mesmo tempo ia forjando o caráter e
fortalecendo o testemunho desses homens de Deus que não deveríamos
esquecê-los.
Hoje, olhando para a frente, vejo com pesar o horizonte que esconde o
sol por trás da montanhas com a silhueta do pé de cactos e do vaqueiro
magro em seu cavalo pangaré, sempre acompanhado de Xuxa (a sua
cadelinha) que o ajuda a ajuntar o gado nos finais de tarde no sertão
para trazer para o curral. Vejo com pesar porque essa figura hoje começa
a fazer parte somente do nosso imaginário ou nos registros dos livros
de poesias sertanejas que também começam a desaparecer.
Numa velocidade muito grande a barbárie muda de lado, os prostíbulos
vão à falência pelo surgimento da prática libertina do sexo por
adolescentes, que décadas a trás, meninas dessa idade ainda brincavam de
bonecas.
Confesso que fiquei extremamente chocado ao conhecer uma garota de 13
anos que a 06 meses a trás a sua mãe levou o “abusador” para dentro de
casa para tirar a virgindade da filha e ainda ficou assistindo a cena.
Essa garota se converteu ao Senhor Jesus recentemente. Tive a
oportunidade de orar por ela e meu coração se encheu de compaixão pela
pobre menina que hoje é apenas uma entre milhares de milhares que no
nosso sertão, passam por situações semelhantes, completamente indefesas.
Por isso vejo com pesar esse horizonte à nossa frente. Se de um lado
encontramos casos dessa natureza, pessoas feridas, com chagas profundas
em sua alma, na flor da sua pré adolescência, de outro lado vejo uma
região repletas de pessoas usadas pelos poderes para eleger monstros
políticos que legislam em causa própria, torcem o direito do pobre,
apoderam-se de verbas que seriam destinadas para alimentação como
merenda escolar, fardamento, assistência médica e tantas outras
finalidades e... Pasmem: SÃO INOCENTES!
Vejo o nosso horizonte do sol boreal, causticante, rachando o solo e a
pele do rosto daqueles que insistem em lavrar a terra como a única
esperança; vejo o nosso horizonte ainda com pesar. Com pesar por ver o
meu povo ainda como “objeto esquecido” até e, digo aqui com muita
tranqüilidade: até mesmo pela grande maioria de nossas igrejas e quase a
totalidade de nossas escolas teológicas que não premias em suas pautas
de orações e investimentos como formação de pessoas direcionadas para
essas áreas.
Na minha experiência de campo posso afirmar que tenho encontrado
verdadeiras “jóias”, pessoas com talentos (dados por Deus, é claro),
pessoas sedentas de Deus mesmo vivendo no meio de uma grande idolatria,
como que perdidos dentro desses campos. Gente adulta, crianças,
adolescentes. É uma pena que não possamos garimpá-los todos para o
Senhor!
Vejo com pesar quando percebo que para muitos, infelizmente, fazer uma
viagem missionária ao Sertão torna-se uma oportunidade para arranjar um
namorado (a) na viagem ou ficar com a consciência mais aliviada do
pecado da omissão. O medo que tenho é que o Sertão vire moda e as
caatingas tornem-se passarelas para os viajantes tirarem suas fotos de
recordação na hora de voltarem como “heróis” para contarem em casa da
miséria e abandono aos corações frios e descomprometidos que os aguardam
na volta da viagem da “grande aventura missionária”. Depois... Bom,
depois tudo continua como era antes. Como diz o Chico Buarque: “A mesma
praça, a mesma casa e a moça na janela a ver a banda passar”.
Deleito-me
ao folhear as páginas do livro “Januário Antônio dos pés formosos”-
escrito por Caleb Soares, filho do protagonista da maior parte da
história do livro. Nele estão longos trechos do livro escrito pelo
inglês Frederick C Glass que se preocupa em relatar detalhadamente suas
dificuldades de transporte em lombos de cavalos em noites chuvosas, da
provisão de Deus em lugares áridos. Encontrei num trecho o relato do
momento em que o Januário cruzou com o bando de Antônio Silvino –
cangaceiro valente, mas a resposta do Januário foi mais valente ainda ao
desembainhar a sua metralhadora de 66 cartuchos e apresentá-la ao
bando. Em outra parte, vendo a foto do nosso saudoso pastor Rev.
Josibias Fialho Marinho, que por vezes sofreu perseguição e relatos do
apedrejamento da Igreja Congregacional de Guarabira no dia de sua
inauguração no dia 21 de abril de 1937, por incitação do padre local e
fanáticos do Frei Damião apedrejaram a igreja no momento do culto pondo
em risco a vida de crianças e mulheres no alvoroço da correria ao
apagarem as luzes. A Igreja Presbiteriana de Patos também foi alvo do
vandalismo dos insuflados pelo Frei Damião nas suas andanças das
chamadas “Santas Missões” que eu, inclusive já tive a oportunidade de
participar quando criança, em suas procissões de madrugada levando ramos
de laranjeira juntamente com minha mãe.
Essa
pincelada tem a tentativa de mostrar um sertão que já se foi. E
confesso: não sei se foi bom ele ter ido embora. O sertão de hoje é
diferente. A pós-modernidade adentra pelas caatingas com suas
imposições. Coisas e costumes que chegaram de forma gradativa nas
grandes cidades, no interior chegaram de uma só vez. Nas grandes cidades
a saia das mulheres foi diminuindo de tamanho gradativamente e de igual
modo os aparelhos de televisão que antes eram quase um guarda-roupa
foram reduzidos em seu tamanho, as válvulas foram trocadas pelos
transistores, por outro lado a roupa de banho das mulheres quase
desapareceu e hoje para você ver tem dificuldade, principalmente se
tiver problemas de vista, pois foram reduzidas a “um fio”. Esse assunto
pode parecer cômico, e seria se não tivesse o seu lado trágico. Toda
essa mudança chegou de vez no sertão. Confesso-lhes que não há cidade
pequena que não tenha uma lan house, e não são poucas as casas, dentro
do mato, com problemas sérios de coluna (empinadas para um lado ou para
trás – escoradas com uma forquilha) ostentam garbosamente em seu teto
uma antena parabólica.
O
novo sertão está aí, com as portas abertas, estradas asfaltadas, é
verdade, em alguns lugares há buracos com asfalto, mas dá para passar.
Sempre um orelhão que quando funciona ajuda muita gente quando não há
sinal de celular. - HÁ pouco tempo eu entrei com a caminhonete numa
estrada estreita e cheia de mato para chegar à casa de certo senhor que
morava perto do rio e afastado da cidade e, depois da nossa conversa
perguntei de que outra forma eu poderia entrar em contato com ele. “Ora,
ele não teve dúvida: Ô Zefinha, põe aí num parpé o número do nosso
celular pro moço levá”. – Coisa chique, não?
Pois é, o sertão agora está assim. Os prostíbulos foram à falência. O
tráfico de drogas em toda parte. O cavalo como meio de transporte,
nesses dias vai servir apenas como figura de recordação, pois de uma
maneira muito apressada está sendo substituído pela moto. Hoje há
lugares que alguns vaqueiros tangem o gado de moto. Em algumas cidades
pólo começam a abrir cursos de graduação superior – só não melhora a
qualidade do ensino.
Mas, amados irmãos, 3 (treis) coisas devem ficar muito claras no meio de tudo esse quadro pintado:
1. O Sertão cresceu de tamanho – sua população desde os idos de 1937 para cá tem crescido, apesar do êxodo rural.
2. Os
desafios missionários e a necessidade de se levar o evangelho a essa
gente nunca diminuiu e não transferido para ninguém: “Continua sobre os
nossos ombros”.
3. No
meio de todo esse caos aqui citado (caos que nas capitais não é menor)
há muita gente escolhida por Deus, muitos eleitos do Senhor que precisam
ser alcançados pela Igreja do Senhor Jesus. Muita gente inteligente,
muita gente dotada de dons e talentos e essas pessoas cheias do Espírito
Sato, vocês não têm idéia do que serão capazes de fazer para a Glória
de Deus!
Vejamos aqui alguns detalhes dos desafios missionários do Sertão Nordestino nos nossos dias:
1) Nós
temos no Nordeste quase 400 municípios com menos de 1,0% de
evangélicos. Segundo alguns pensadores em missiologia, um povo com 1,0%
ou menos do que isso é considerado povo não alcançado pelo evangelho.
Então partindo desse princípio podemos dizer que temos no Nordeste quase 400 municípios não alcançados pelo evangelho.
2) O
pequeno percentual de crentes que encontramos nesses municípios
encontra-se necessariamente na zona urbana, isto é: na sede dos
municípios;
3) Conseguimos
encontrar com certa facilidade povoados onde não há nenhuma igreja
evangélica, sítios onde nunca passou alguém antes pregando o evangelho,
onde na verdade pela primeira vez na história alguém passa com uma
Bíblia na mão!
4) Conseguimos
encontrar, normalmente, pessoas sedentas para ouvir a Palavra de Deus.
Um dia de arar, lavrar ou tombar a terra como alguns chamam no interior,
é um dia muito importante. No entanto vimos casos em que famílias
inteiras abandonaram o campo e correm para casa porque os crentes
estavam visitando todas as casas daquela região e alguém viu que os
crentes estavam indo para as bandas da sua casa e eles deixaram a roça e
correram para esperar os crentes, pois eles queriam ouvir o que os
crentes tinham para dizer.
5) Também conseguimos encontrar com facilidade sertanejos que vivem “rezando” para Deus mandar um crente por lá.
6) Nas
situações como falamos existe um universo de 15,5 milhões de pessoas.
Mesmo considerando a posição de alguns defensores de missões urbanas por
considerarem ser grande o êxodo rural, havemos de convir que um
universo de 15,5 milhões de pessoas ainda é um número considerável, por
outro lado a velocidade do êxodo ainda é pequena em relação a explosão
demográfica, e temos que considerar o efeito maléfico para o sertanejo
porque o êxodo o torna em favelado. Nos próximos 15 anos muita gente
estará fazendo o caminho de volta dos grandes centros em busca de
cidades emergentes do interior. No caso do êxodo do sertão ele tem um
direcionamento: Rio ou São Paulo por causa do emprego. – Concluindo: Por
todas as razões citadas temos que entender que avançar com a Igreja
rumo à zona rural do Sertão Nordestino é um imperativo!!!! – Urgente!!! Porém:
a) O desafio do sertão não é somente evangelizar e plantar novas igrejas na zona rural;
b) A
zona urbana do Sertão Nordestino também clama por socorro. As igrejas
precisam de ajuda, de treinamento, de mobilização, motivação,
capacitação;
c) A igreja do Sertão sofre muito com o êxodo de seus membros que vão embora para o eixo Rio São Paulo;
d) Os
investimentos que as igrejas do Sertão faz, com muito sacrifício, ao
enviar seus seminaristas para estudarem nas capitais tornam-se
infrutíferos, pois muitos não voltam sequer para a sua região, muito
menos para a sua igreja;
e) As
pessoas que trabalham com crianças não dispõem de treinamento, de
material e muito menos de motivação, na grande maioria dos casos;
f) A
escassez de recursos, muitas das vezes o sustento aquém do necessário, o
grande peso espiritual, são fatores que contribuem decisivamente para a
apatia de muitos ministérios nas igrejas do Sertão;
g) A
falta de uma preparação adequada de obreiros para as áreas inóspitas
também se constitui num grande problema, pois os seminários não preparam
as pessoas para desenvolverem ministério em situações assim.
A
maior dificuldade para se alcançar o Sertão Nordestino com o evangelho é
ver a Região Metropolitana dos Estados do Nordeste como uma forte BASE
ENVIADORA. As igrejas reúnem muitas condições para ser um Pólo Enviador,
mas:
- Não há conjunto!
- Não há um desprendimento para enxergar missões como uma questão de obediência, e assim missões está virando mais um modismo, mais uma atividade no calendário eclesiástico; Logo após a conferência missionária, onde o preletor falou apaixonadamente sobre os desafios do campo, muitas vezes no encerramento da própria conferência já se começa a fazer os anúncios da próxima festa de aniversário seja lá do que for.
- Numa conferência missionária, hora de levantar ofertas há grande estímulo, grande ênfase nas Escrituras, mas na hora de contribuir para missões os argumentos do “aperto orçamentário” são muito contundentes. Existem casos de missionários que, estando no campo, vê seu sustento despencar através de uma carta ou um telefonema sob a alegação de que a igreja está entrando numa fase de construção.
- Os fatores citados nos itens 2 e 3 não são impercebíveis, mas não são questionados;
- Compaixão é figura de retórica;
- Interesse e gemidos pela expansão da obra missionária e salvação de almas é matéria encontrada em histórias do século XVIII.
7) As dificuldades para responder a esse desafio são:
a) A
disposição de muitas igrejas de investirem em um campo onde não haverá
retorno rápido, onde não haverá condições de auto-sustento do campo em
médio prazo nem em longo prazo.
b) A falta de obreiros dispostos a morarem no campo, isto é: na própria zona rural.
c) Falta de um trabalho consistente de intercessão pelo sertão com orações específicas.
d) Falta
de recursos para se financiar o avanço da igreja. Muitas igrejas quando
ajudam a um missionário esquecem que além de suas despesas com a
família, seu sustento pessoal tem também que desenvolver o ministério e
para isso ele tem despesas, e, portanto, muitas vezes, tira do seu
próprio sustento pessoal para cobrir despesas com o ministério.
Entendemos que falta um conhecimento mais detalhado de FINANÇAS DE
MISSÕES (assunto de matéria oferecida pela AMAI no curso de MOBILIZADOR
DE MISSÕES).
e) Falta
também um conhecimento “in loco” da realidade sertaneja. Temos provas
de que todos os pastores que visitam os campos têm um contato direto com
os nossos desafios missionários no sertão, tornam-se mais sensíveis, e
lhes afirmo: Isso é o começo da mudança! – Não basta conhecimento, é preciso haver sentimento!
Vou
me despedir de vocês por aqui nestas palavras, ma creiam os irmãos,
enquanto o Senhor nos favorecer com saúde haveremos de lutar pelo
alcance do nosso povo com o evangelho, mas vamos celebrar nos próximos
anos, nas nossas próximas conferências missionárias, sempre os mesmos
números, sempre afirmando que temos 15,5 milhões de pessoas na zona
rural do Nordeste, afirmando que só em Pernambuco são 2,0 milhões de
pessoas em sítios, pés de serra e beiras de rios. Só a zona rural de
Petrolina e Juazeiro da Bahia (separadas apenas pelo Rio São Francisco)
soma 105.000 pessoas. Na Bahia temos um universo de 4,7 milhões de
pessoas na zona rural. Irmãos creio que precisamos de um avivamento. Um
avivamento que seja capaz de abalar nossas estruturas e nos fazer
relevar o que hoje é relevante por amor a Cristo, sem discurso e sem
fantasia, mas dispostos a morrer para nós mesmos, para podermos então
vivermos para Cristo para podermos serví-Lo nos campos rachados do
Sertão Nordestino.
Josenildo Virgolino de Lima
Direção da AMAI
55-81-9182 3108
Para investimento no missionário:
Conta Poupança: BANCO DO BRASIL
Ag 1361-7 Conta: 6975-2
CPF: 094.941.204-00
Para investimento na AMAI:
AMAI - Ação Missionária Para Áreas Inóspitas
CNPJ: 05.865.444/0001-03
Banco: BRADESCO
AG. 0289
C/C 133.188-4
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