Obstáculos para Vir a Cristo
>> terça-feira, 25 de setembro de 2012
Por A.W. Pink
“Ninguém pode vir a mim” (João 6:44).
O homem natural é incapaz de “vir a
Cristo”. Citemos João 6:44, ” Ninguém pode vir a mim se o Pai que me
enviou não o trouxer.” A razão pela qual “duro é esse discurso”, até
mesmo para milhares que professam ser cristãos, é que eles fracassam
completamente em compreender o terrível estrago que a queda provocou; e,
o que é pior, eles mesmos não se dão contam da “chaga” que existe nos
seus próprios corações (1 Rs. 8:38). Certamente se o Espírito já os
tivesse despertado do sono da morte espiritual, e lhes dado ver alguma
coisa do pavoroso estado em que estão por natureza, e feito sentir que
suas “mentes carnais” são “inimizade contra Deus” (Rm. 8:7), então eles
não mais discordariam dessa solene palavra de Cristo. Mas aquele que
está espiritualmente morto não pode ver nem sentir espiritualmente.
Onde reside a total incapacidade do
homem natural? Ela não está na falta das faculdades necessárias. Isso
tem de ser bastante enfatizado, do contrário o homem caído deixaria de
ser uma criatura responsável. Mesmo que os efeitos da queda tenham sido
terríveis, eles não privaram o homem de nenhuma das faculdades que Deus
originalmente lhe concedeu. É verdade que o pecado tirou do homem a
capacidade de utilizar essas faculdades corretamente, ou seja,
empregá-las para a glória do Criador. Entretanto, o homem caído possui
ainda a mesma natureza, corpo, alma e espírito, que tinha antes da
Queda. Nenhuma parte do ser do homem foi aniquilada, ainda que cada uma
tenha sido contaminada e corrompida pelo pecado. De fato, o homem morreu
espiritualmente, mas a morte não é a extinção do ser (aniquilação) —
morte espiritual é a alienação de Deus (Ef. 4:18). Aquele que é
espiritualmente morto está bem vivo e ativo no serviço de Satanás.
A incapacidade do homem caído (não
regenerado) de vir a Cristo não reside em nenhum defeito físico ou
mental. Ele tem o mesmo pé para levá-lo tanto a um local onde o
Evangelho é pregado, como para caminhar até um bar. Ele possui os mesmos
olhos que podem lhe servir para ler tanto as Escrituras Sagradas como
os jornais. Ele tem os mesmos lábios e voz para clamar a Deus os quais
usa agora em conversas fiadas e em canções ridículas. Assim, também,
possui as mesmas faculdades mentais para ponderar sobre as coisas de
Deus e sobre a eternidade, as quais ele utiliza tão diligentemente nos
seus negócios. É por causa disso que o homem é “indesculpável”. É o mau
uso das faculdades que o Criador lhe concedeu que aumenta a sua culpa.
Que cada servo de Deus veja que essas coisas pesam constantemente sobre
os seus ouvintes não convertidos.
1) A incapacidade do homem está na sua natureza corrompida.
Nós temos de ir bem mais a fundo se
quisermos encontrar a fonte da incapacidade do homem. Devido à queda de
Adão, e por causa do nosso próprio pecado, a nossa natureza se tornou
tão corrompida e depravada que é impossível para qualquer homem “vir a
Cristo”, amá-lO e serví-lO, estimá-lO mais que tudo neste mundo e
submeter-se a Ele, até que o Espírito de Deus o regenere e implante nele
uma nova natureza. A fonte amarga não pode jorrar água doce, nem a
árvore má produzir bons frutos. Deixe-me tentar explicar isso melhor
através de uma ilustração. É da natureza de um abutre alimentar-se de
carniça; no entanto, ele tem os mesmos órgãos e membros que lhe
permitiriam comer grãos, como fazem as galinhas, mas ele não possui nem a
disposição nem o apetite para tal alimento. É da natureza da porca o
chafurdar na lama; e apesar dela possuir pernas como a ovelha para
levá-la à campina, lhe falta entretanto o desejo por pastos verdejantes.
Assim acontece com o homem não-regenerado. Ele tem as mesmas faculdades
físicas e mentais que o homem regenerado possui para empregar no
serviço e nas coisas de Deus, mas não tem amor por elas.
“Adão… gerou um filho à sua semelhança,
conforme a sua imagem” (Gn. 5:3). Que terrível contraste há aqui com o
que lemos dois versículos antes: “… Deus criou o homem, à semelhança de
Deus o fez”. No intervalo entre esses dois versos, o homem caiu, e um
pai caído pode gerar somente um filho caído, transmitindo-lhe a sua
própria depravação. “Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? (Jó
14:4). Por isso nós encontramos o salmista de Israel declarando, “Eu
nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl. 51:5). No
entanto, apesar de por natureza Davi ser um monte de iniquidade e pecado
(como também somos nós), mas tarde a graça fez dele o homem segundo o
coração de Deus. Desde que idade essa corrupção da natureza aparece nas
crianças? “Até a criança se dá a conhecer pelas suas obras” (Pv. 20:11).
A corrupção do seu coração logo se manifesta: orgulho, vontade própria,
vaidade, mentira, aversão ao que é bom, são frutos amargos que cedo
brotam no novo, mas corrupto, ramo.
2) A incapacidade do homem está na completa escuridão em que se encontra o seu intelecto.
Essa importante faculdade da alma foi
destituída da sua glória original, e coberta de confusão. Tanto a mente
como a consciência estão corrompidas: “Não há quem entenda”(Rm. 3:11). O
apóstolo solenemente lembra os santos, “Pois outrora éreis trevas” (Ef.
5:8), não somente estavam “em trevas”, mas eram as própria “trevas”. O
pecado fechou as janelas da alma e a escuridão se estende por todo o
lugar: ela é a região das trevas e da sombra da morte, onde a luz é como
a escuridão. Lá reina o príncipe das trevas, onde não se pratica nada
além das obras das trevas. Nós nascemos espiritualmente cegos, e não
podemos ter essa visão restaurada sem um milagre da graça. Esse é o seu
caso quem quer que você seja, se ainda não nasceu de novo” (Thomas
Boston, 1680). “São filhos sábios para o mal, e não sabem fazer o bem”
(Jr. 4:22).
“O pendor da carne é inimizade contra
Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar”(Rm.
8:7). Existe no homem não regenerado uma oposição e aversão pelas coisas
espirituais. Deus revelou a Sua vontade aos pecadores no tocante ao
caminho da salvação, contudo eles não trilharão esse caminho. Eles sabem
que somente Cristo é capaz de salvá-los, no entanto eles recusam se
separar das coisas que obstruem o seu caminho até a Ele. Eles ouvem que é
o pecado que mata a alma, no entanto o afagam em seu peito. Eles não
dão ouvidos às ameaças de Deus. Os homens acreditam que o fogo há de
consumir-lhes, e estão em grande tormento para evitá-lo; contudo,
mostram com suas ações que consideram as chamas eternas como se fossem
um mero espantalho. O mandamento divino é “santo, justo e bom”, mas o
homem o odeia, e só o observa enquanto a sua respeitabilidade é
promovida entre os homens.
3) A incapacidade do homem está na corrupção dos seus sentimentos.
“O homem, no estado em que se encontra,
antes de receber a graça de Deus, ama tudo e qualquer coisa que não seja
espiritual. Se você quiser uma prova disso, olhe ao seu redor. Não há
necessidade de nenhum monumento à depravação dos sentimentos humanos.
Olhe por toda parte. Não há uma rua, uma casa, e não somente isso,
nenhum coração, que não possua uma triste evidência dessa terrível
verdade. Por que no Dia do Senhor o homem não é encontrado
congregando-se na casa de Deus? Por que não nos achamos mais
freqüentemente lendo nossas Bíblias? O que acontece para a oração ser um
dever quase que totalmente negligenciado? Por que Jesus Cristo é tão
pouco amado? Por que até mesmo os seus seguidores professos são tão
frios em seus sentimentos para com Ele? De onde procedem essas coisas?
Seguramente, caros irmãos, nós não podemos creditá-las a outra fonte que
não a corrupção e a perversão dos sentimentos. Nós amamos o que
deveríamos odiar, e odiamos o que deveríamos amar. Não é outra coisa
senão a natureza humana caída que nos faz amar esta vida mais do que a
vida por vir. É um efeito da Queda o fato do homem amar o pecado mais
que a justiça, e os caminhos do mundo mais que os caminhos de Deus”.
(Sermão de C.H. Spurgeon em Jo. 6:44).
Os sentimentos do homem não regenerado
são totalmente depravados e desordenados. “Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jr. 17:9). O Senhor
Jesus afirmou solenemente que os sentimentos do homem caído (não
regenerado) são a fonte de toda abominação: “Porque de dentro do coração
do homem, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos,
os homicídios, os adultérios, a avareza, a malícia, o dolo, a lascívia, a
inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura” (Mc. 7:21,22). Os
sentimentos do homem natural estão miseravelmente deformados, ele é um
monstro espiritual. O seu coração se encontra onde deveriam estar os
seus pés, seguro ao chão; seus calcanhares estão levantados contra os
Céus, para onde deveria estar posto o seu coração (At. 9:5). Sua face
está voltada para o inferno; por isso Deus o chama para converter-se.
Ele se alegra com o que deveria entristecê-lo, e se entristece com o que
deveria alegrá-lo; se gloria com a vergonha, e se envergonha da sua
glória; abomina o que deveria desejar, e deseja o que deveria abominar
(Pv. 2:13-15) (extraído do Boston’s Fourfold State).
4) Sua incapacidade está na total perversão da sua vontade.
“O homem pode ser salvo se ele quiser”,
diz o arminiano. Nós lhe respondemos, “Meu caro senhor, nós todos cremos
nisso; mas essa é que é a dificuldade — se ele quiser.” Nós afirmamos
que nenhum homem deseja vir a Cristo por sua própria vontade; não, não
somos nós que o dizemos, mas Cristo mesmo declara: “Contudo não quereis
vir a mim para terdes vida” (Jo. 5:40); e enquanto esse “não quereis
vir” estiver registrado nas Escrituras nós não podemos ser levados a
crer em nenhuma doutrina do livre arbítrio. “É estranho como as pessoas,
quando falam sobre livre arbítrio, falam de coisas das quais nada
compreendem. Um diz “Ora, eu creio que o homem pode ser salvo ser ele
quiser”. Mas essa não é toda a questão. O problema é: é o homem
naturalmente disposto a se submeter aos termos do Evangelho de Cristo?
Afirmamos, com autoridade bíblica, que a vontade humana é tão
desesperadamente dada ao engano, tão depravada, e tão inclinada para
tudo que é mau, e tão avessa a tudo aquilo que é bom, que sem a
poderosa, sobrenatural e irresistível influência do Espírito Santo,
nenhum homem nunca será constrangido a buscar a Cristo.” (C.H.
Spurgeon).
“Há uma corda de três pontas contra o
céu e a santidade, que não é fácil de ser rompida; um homem cego, uma
vontade pervertida, e um sentimento desordenado. A mente, inchada pela
vaidade, diz que o homem não deve se humilhar; a vontade, inimiga da
vontade de Deus, diz: ele não quer; as emoções corrompidas levantando-se
contra o Senhor, em defesa da vontade corrompida diz: ele não irá.
Assim a pobre criatura permanece irredutível contra Deus, até o dia do
Seu poder, quando é feito nova criatura” (Thomas Boston).
Pode ser que alguns leitores sejam
inclinados a dizer: “ensinamentos como estes desencorajam pecadores e os
levam ao desespero”. Nossa resposta é: Primeiro, eles estão de acordo
com a Palavra de Deus! Segundo, esperamos que Ele se agrade em usar
essas verdades para levar alguns a desesperarem-se de qualquer ajuda que
possam encontrar neles mesmos. Terceiro, esse ensino manifesta a
absoluta necessidade da obra do Espírito Santo nessas criaturas
depravadas e espiritualmente impotentes, se algum dia vierem
salvificamente a Cristo. Então, até que isso seja claramente entendido, o
Seu auxílio nunca será realmente buscado.
Fonte: Voltemos ao Evangelho
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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