A Lei mosaica e o cristinismo - PARTE I
>> terça-feira, 20 de novembro de 2012
I. DEFINIÇÃO
Do lat. legale + ismo. Tendência a se reduzir à fé cristã aos aspectos puramente materiais e formais das observâncias, práticas e obrigações eclesiásticas. A palavra traduzida lei (gr. nomos; hb. torah) significa ensino ou instrução.
Legalismo: Relativo à lei: pessoa que pugna pela observância da lei, isto é, briga, combate, batalha, luta pelo cumprimento da lei.
O povo de Deus, desde os tempos da criação, é um povo que vive debaixo de normas e orientações divinas. Essas normas foram anotadas e transmitidas oralmente. Com o povo de Israel, o Senhor mandou que Moisés escrevesse os mandamentos, os juízos e os estatutos, que reunissem a lei do Senhor. Os dez mandamentos são um conjunto de normas espirituais, éticas e morais, para o povo que Deus escolheu para representá-lo entre todas as nações do mundo, como Sua propriedade peculiar, reino sacerdotal e povo santo (Êx 19.5-7).
II. OS DOIS CONCERTOS
Alguns seguimentos insistem em dizer que a lei (o decálogo, para eles) é obrigatória a todos os cristãos. Perguntam: “Por que os cristãos evangélicos guardam apenas nove mandamentos da lei, quando a lei são os dez mandamentos?” E citam Tiago 2.10 para afirmar que os cristãos são transgressores da lei, porque não guardam o sábado do quarto mandamento.
Os Dez mandamentos faziam parte do antigo concerto que, por sua vez, abrangia os cinco livros da Bíblia conhecido como Pentateuco, constituído de 613 mandamentos, e não apenas dez (Dt 4.12-13; 9.8; Ex 34.27-28).
A Lei foi escrita por Moisés em pergaminhos e foram identificados como sendo “o Livro da Lei”. “E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavras desta lei num livro... deu ordem Moises aos levitas... tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do SENHOR vosso Deus” (Dt 31.24).
A Lei continha os “Dez Mandamentos”. Os mandamentos foram originalmente escritos em duas tábuas de pedra pelo dedo de Deus. Moisés os transcreveu das tábuas de pedra e os incluiu no “Livro da Lei” (Êx 31.18; 34.28).
É chamada lei de Deus, porque teve sua origem n’Ele. A lei de Moisés, porque foi Moisés o legislador que Deus escolheu para promulgar a lei no Sinai. Os preceitos, tanto do Decálogo como fora dele, são chamados de lei de Deus ou do Senhor e lei de Moisés (Lc 2.22-23; Hb 10.28). São, portanto, sinônimos e, por isso, não há distinção alguma (Ne 8.1-2, 8, 18).
A Lei e os dez mandamentos precisam ser distinguidos ao lermos o Novo Testamento. Paulo se refere a eles como sendo termos distintos e não sinônimos.
1. Decálogo.
O decálogo é o esboço e a linha mestra da lei de Moisés. Ele está registrado em Êxodo 20.1-7 e Deuteronômio 5.6-21. O termo vem de duas palavras gregas deka “dez”, logos “palavra”, usado na LXX para traduzir as expressões hebraicas asseret hadevarim “as palavras” (Êx 34.28; Dt 4.13; 10.4). “As dez palavras”, nessas passagens, têm o sentido de “mandamento, pronunciamento, princípio”. Por essa razão, o decálogo ficou conhecido universalmente como “os dez mandamentos” que Deus escreveu em pedras e entregou aos filhos de Israel, através de Moisés.
2. Quais as diferença e como identificar a lei moral, lei civil e a lei cerimonial no Antigo Testamento? Qual o lugar de cada uma delas.
Os sabatista dizem que a lei de Deus é o Decálogo, e a de Moisés é a lei cerimonial, ou seja: os demais preceitos, que não são universais. Porém, a Bíblia afirma que existe uma só lei. O que existe, na verdade, são preceitos morais, preceitos cerimoniais e preceitos civis. São divisões distintas, mas uma só lei.
Do lat. legale + ismo. Tendência a se reduzir à fé cristã aos aspectos puramente materiais e formais das observâncias, práticas e obrigações eclesiásticas. A palavra traduzida lei (gr. nomos; hb. torah) significa ensino ou instrução.
Legalismo: Relativo à lei: pessoa que pugna pela observância da lei, isto é, briga, combate, batalha, luta pelo cumprimento da lei.
O povo de Deus, desde os tempos da criação, é um povo que vive debaixo de normas e orientações divinas. Essas normas foram anotadas e transmitidas oralmente. Com o povo de Israel, o Senhor mandou que Moisés escrevesse os mandamentos, os juízos e os estatutos, que reunissem a lei do Senhor. Os dez mandamentos são um conjunto de normas espirituais, éticas e morais, para o povo que Deus escolheu para representá-lo entre todas as nações do mundo, como Sua propriedade peculiar, reino sacerdotal e povo santo (Êx 19.5-7).
II. OS DOIS CONCERTOS
Alguns seguimentos insistem em dizer que a lei (o decálogo, para eles) é obrigatória a todos os cristãos. Perguntam: “Por que os cristãos evangélicos guardam apenas nove mandamentos da lei, quando a lei são os dez mandamentos?” E citam Tiago 2.10 para afirmar que os cristãos são transgressores da lei, porque não guardam o sábado do quarto mandamento.
Os Dez mandamentos faziam parte do antigo concerto que, por sua vez, abrangia os cinco livros da Bíblia conhecido como Pentateuco, constituído de 613 mandamentos, e não apenas dez (Dt 4.12-13; 9.8; Ex 34.27-28).
A Lei foi escrita por Moisés em pergaminhos e foram identificados como sendo “o Livro da Lei”. “E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavras desta lei num livro... deu ordem Moises aos levitas... tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do SENHOR vosso Deus” (Dt 31.24).
A Lei continha os “Dez Mandamentos”. Os mandamentos foram originalmente escritos em duas tábuas de pedra pelo dedo de Deus. Moisés os transcreveu das tábuas de pedra e os incluiu no “Livro da Lei” (Êx 31.18; 34.28).
É chamada lei de Deus, porque teve sua origem n’Ele. A lei de Moisés, porque foi Moisés o legislador que Deus escolheu para promulgar a lei no Sinai. Os preceitos, tanto do Decálogo como fora dele, são chamados de lei de Deus ou do Senhor e lei de Moisés (Lc 2.22-23; Hb 10.28). São, portanto, sinônimos e, por isso, não há distinção alguma (Ne 8.1-2, 8, 18).
A Lei e os dez mandamentos precisam ser distinguidos ao lermos o Novo Testamento. Paulo se refere a eles como sendo termos distintos e não sinônimos.
1. Decálogo.
O decálogo é o esboço e a linha mestra da lei de Moisés. Ele está registrado em Êxodo 20.1-7 e Deuteronômio 5.6-21. O termo vem de duas palavras gregas deka “dez”, logos “palavra”, usado na LXX para traduzir as expressões hebraicas asseret hadevarim “as palavras” (Êx 34.28; Dt 4.13; 10.4). “As dez palavras”, nessas passagens, têm o sentido de “mandamento, pronunciamento, princípio”. Por essa razão, o decálogo ficou conhecido universalmente como “os dez mandamentos” que Deus escreveu em pedras e entregou aos filhos de Israel, através de Moisés.
2. Quais as diferença e como identificar a lei moral, lei civil e a lei cerimonial no Antigo Testamento? Qual o lugar de cada uma delas.
Os sabatista dizem que a lei de Deus é o Decálogo, e a de Moisés é a lei cerimonial, ou seja: os demais preceitos, que não são universais. Porém, a Bíblia afirma que existe uma só lei. O que existe, na verdade, são preceitos morais, preceitos cerimoniais e preceitos civis. São divisões distintas, mas uma só lei.
- A lei Moral. A lei moral compreendia regulamentos estabelecidos para um santo viver. A lei moral reflete a natureza Santa de Deus. Essa lei nunca foi abolida, nem podia ser. A lei, neste sentido, é Santa (Rm 7.12-14).
- A lei Civil. São leis imposta para a nação de quanto a vida social e jurídica.
- Cerimonial, abordavam as cerimônias e os ritos que deviam ser praticado na adoração a Jeová. É um ratando das ordens divinas para o culto até a vinda de Jesus. Eram para Ele que os ritos apontavam. Foi nele que tudo se cumpriu.
3. O que é aplicável aos nossos dias?
A lei cerimonial já não se aplica mais. As leis civis se aplicam em princípios, mas não segundo o culturalismo hebraico da época. As leis morais continuam em vigor. Outro aspecto da lei veterotestamentária é que todas as leis se achavam no contexto da aliança que Deus tinha feito com Israel. A função da Lei era administrar ou superintender a aliança.
4 . Preceito moral fora do Decálogo.
Há princípios que são imutáveis e universais. Não há para eles a questão de transculturação. Onde quer que o Evangelho for pregado tais princípios fazem-se presentes; são preceitos morais e éticos.
Os dois maiores mandamentos são preceitos morais (Mc 12.29-31). Entretanto, não constam no Decálogo; é uma combinação de Dt 6.4-5 com Lv 19.18. Por outro lado, encontramos no Decálogo o quarto mandamento, que não é preceito moral. Jesus disse que o sacerdote podia violar o sábado e ficar sem culpa (Mt 12.5), mas sobre este assunto trataremos mais tarde.
Admitimos que se os sabatistas estivessem certos em sua interpretação, estaríamos desobrigados de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o próximo como a nós mesmo.
Naquilo que os sabatistas chamam de lei cerimonial, há inúmeros preceitos morais. Por exemplo: Não afligir a estrangeiros, órfãos e viúvas (Êx 22.21-22). É preceito altamente moral e não cerimonial. Não torcer o juízo (Dt 16.19). Estes e outros são preceitos morais, que, no entanto, não estão no decálogo. Diante disso, verifica-se que os dez mandamentos e outros preceitos da lei constituem uma unidade do velho concerto, abolido por Cristo (2ª Co 3.14). O Novo Testamento (concerto), traduzido por Cristo, é superior ao de Moisés (Jo 14.15; 1ª Jo 2.3, 10; 3.22-24; 4.21; 5.1-3); Gl 6.2). Os mandamentos de Cristo não são só dez. São todos o NT.
5. A lei cumpriu sua função.
O Senhor Jesus já cumpriu a lei (Mt 5.17). O Concílio de Jerusalém determinou que os cristãos nada têm com a lei (At 15.10-11, 20, 29). O apóstolo Paulo comparou a liberdade cristã à lei de um casamento (Rm 7.1-3). Se a mulher for de outro homem, estando seu marido ainda vivo, é adúltera. Isto porque, está ligada a lei do marido. Por conseguinte, não podemos estar ligados à lei e a Cristo ao mesmo tempo. Por isso, estamos mortos para a lei (Rm 7.4).
A função da lei foi patológica (descobri a causa da doença): revelar o pecado do homem. Mas ela não pode curar (Rm 3.19-20; Gl 2.16; 3.24).
6. Observar a lei é desvio.
O apóstolo Paulo chamou a lei de ministério da morte gravado em pedras (2ª Co 3.7), ministério da condenação (2ª Co 3.9) e transitório (2ª Co 3.13). O antigo Testamento já abolido por Cristo (2ª Co 3.14). Buscar a salvação pela observância da lei é desviar do cristianismo bíblico (Gl 5.1-4). Observe, porém, que Paulo não criticou a lei; reconhecia a santidade da lei (Rm 7.7, 14). O que ele diz é que ela é imponente para salvar, pois sua função é outra.
III. A NOVA ALIANÇA
O antigo concerto foi dado a Israel quando saia do Egito, junto ao monte Sinai (Êx 19.1-6; Hb 9.18-20). Os israelitas aceitaram as condições do antigo concerto, firmado entre Deus e Israel (Êx 24.1-8). Deus propôs o concerto ao Seu povo (Êx 19.3, 6) e Israel aceitou (Êx 24.3-8). O concerto de Deus não foi para todos os homens.
Como o povo de Israel não guardou o antigo concerto, apesar de ter prometido que guardaria, O Senhor Deus prometeu um novo concerto (Jr 31.31-34; Zc 11.10; Mt 27.3-10; Jr 3.16), o qual foi estabelecido por Cristo, como bem declara o escritor da carta aos hebreus:
Hebreus 8.6-7, 13: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. 7 Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda. 13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer”.
“Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei” (Hb 7.11-12).
Todos que aceitam a Cristo Jesus como o único e suficiente Salvador, deve cumprir a mais sublime lei: “a lei da graça”. A Bíblia diz que mudando o sacerdócio há mudança de lei. As leis do Velho Concerto foram escritas para a nação de Israel, mas o Novo Testamento para a Igreja de Cristo. Agora o crente em Jesus vive numa nova dimensão; na dimensão do Espírito, da fé e da graça.
O Cristianismo não judaizou o mundo. O cristianismo teve origem no contexto judaico e deste recebeu uma rica herança teológica e ética. Haja vista o próprio Cristo. Nascido “conforme a Lei” (Gl 4.4), cresceu e viveu dentro da cultura judaica (Lc 2.40-43). Durante o seu ministério, reconheceu as Escrituras Hebraicas e a autoridade de Moisés (Mc 7.13; Lc 5.14). Todavia, não pregou costumes judaicos; Seus apóstolos não judaizaram o mundo. O apóstolo Paulo, discursando no Areópago, não deu uma aula sobre o tetragrama hebraico do Antigo Testamento [Yahweh]. Sua preocupação era pregar a principal mensagem do cristianismo: a ressurreição de Jesus (At 17.31).
“Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda. E, de fato, repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor” (Hb 8.6-9).
Da mesma maneira como Moisés foi mediador da aliança Mosaica, assim Cristo é o mediador da nova aliança. Com a vinda de Cristo a aliança Mosaica terminou, com a declaração do apóstolo Paulo em Rm 10.4 e Gl 3.19.
No dia da instituição da Santa Ceia o Senhor Jesus Cristo apresentou a Nova Aliança “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. Lc 22.20. Jesus havia dito “Isso é o meu sangue, o sangue da nova aliança derramado em favor de muitos para a remissão de pecados” Mt 26.28. A provisão desta aliança era o perdão dos pecados.
A Nova Aliança inclui a presença do “Testamento” que somente tem validade quando acontece a morte do testador, neste caso o testador é Cristo. (Gl 3.15 e Hb 9.16-17).
Esse período jurídico referia-se também a Velha Aliança, pois essa também foi introduzida, delicada e sancionada pelo derramamento de sangue, Hb 9.18-20. O derramamento de sangue significava a morte do testador e concedeu a natureza de dádiva à aliança. A aliança Mosaica era, pois transitória e de qualidade assistencial, não era, pois definitiva. Podemos entender isso pelo fato de animais serem sacrificados como tipos do Cordeiro de Deus que posteriormente daria a sua vida. Quando Jesus anunciou que o seu sangue daria, o sangue da Nova Aliança, entendemos que ele mesmo era o testador, ou seja, doador da Nova Aliança ou do Novo Testamento.
IV. O EVANGELHO E A LEI MOSAICA
“Desviando-se alguns, se entregam às vãs contendas. Querendo ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1ª Tm 1.6-7).
Há ministros que, desconhecendo as regras da hermenêutica, usam a lei mosaica sem conhecer o tempo que deve ser empregada, usam como se estivessem vivendo na época de Moisés. A lei mosaica foi dada por Deus por causa das transgressões do povo hebreu, embora o mandamento fosse santo, bom e justo, cf. Rm 7.12 era inadequado, porque não conseguiu transmitir vida espiritual nem força moral.
No tempo da graça o crente não deve usar como doutrina a lei do Velho Testamento, pois não houve morte do testador ele deixou de ser usado no sentido doutrinário. Todavia a lei moral que fazia parte da lei continua a ter vigência, pois ela faz parte da santidade do cristão.
O legalismo é isso, prima por alguma prioridade em detrimento do que é realmente prioritário isto acarreta um grande perigo, pois falsifica o Evangelho de Cristo.
Legalismo na história da teologia, é a teoria de que um homem obtém e merece a sua salvação fazendo boas obras ou obedecendo a lei.
Paulo era zeloso das tradições judaicas, um fariseu e perseguidor dos cristãos, mas após sua conversão passou a combater os prosélitos da lei; usando suas estratégias e muitas vezes procedia como judeu para ganhar os judeus como se vivesse na lei. “Procedi para os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei” (1ª Co 9.20-21).
Existem “certos líderes” que forçam a exegese bíblica para provar suas teses, sem saber o tempo e a época que foram escritas. Vejamos por exemplo quando Jesus diz: “Passará os céus e a terra, mas minhas Palavras não passarão” (Mt 24.35).
“... minhas palavras não passarão”. Analisando este texto dentro da exegese Jesus se refere ao Seu Evangelho e as Suas profecias; e, nunca a Bíblia num todo.
Todavia os legalistas de hoje interpretam e ensinam erroneamente a Palavra do Senhor dizendo que Jesus cumpriu a lei e que devemos cumpri-la com base em Mt 5.17-18, onde o Senhor diz: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”.
Porque a lei só deixaria de ter vigência depois de cumprida. Pergunta-se: Qual foi o homem, além de Jesus Cristo, que cumpriu a lei? Não existiu e não existe ninguém que cumpriu a lei, senão Jesus. Note o que Jesus diz no verso 18: “Nem um jota ou um til jamais passará da lei, até que tudo seja cumprido”.
O Senhor Jesus prevê a cessação da validade da lei depois de preenchido o seu propósito. Ele disse: Porque em verdade vos digo “... até que tudo seja cumprido”. A permanência da lei permaneceu até o seu cumprimento por alguém, isto é, por Jesus Cristo, que cumpriu e aboliu a lei.
Sabemos também, através de Paulo, que Cristo nasceu de mulher; e viveu sob a lei, a fim de cumpri-la e, cumprindo-a (Mt 5.17-18), findou-se a lei para justiça, deste modo, pode cravá-la na cruz (cf. Ef 2.13-16), para possibilitar a justificação de todo àquele que crê; o que era impossível à lei (At 13.38-39; Rm 3.23-24) e é possível mediante a fé em Cristo (Rm 5.1).
A Igreja não está obrigada a cumprir as regras do Velho Testamento, pois o Senhor Jesus, através de Sua morte, libertou-nos da maldição da lei. O próprio Filho de Deus ensinou: o que realmente importa na lei são as reedificações de Deus quanto á justiça, á misericórdia e a fé (Mt 23.23; cf. Mq 6.8; Mt 5.17; Rm 10.4).
V. PAULO E O JUDAÍSMO
Paulo partilha com outros personagens da antiguidade o mesmo destino de ser conhecido apenas no período mais significativo e produtivo de sua vida.
Pode-se tornar esse período em sentido amplo, desde sua vocação até a sua morte, tendo em vista o Paulo cristão. Uma comparação com o texto objetivamente semelhante de At 9.20, ensina que a vida de Paulo é tipicamente dividida em duas partes (perseguidor….evangelizador).
A história é edificante, assim, bipartida: o perseguidor, que quer destruir a comunidade cristã em Damasco, é quase “destruído” pelo próprio Senhor da comunidade (At 9.1-9).
O Senhor providencia para que, por meio de Ananias, o perseguidor enfermo seja novamente curado e possa anunciar Jesus como Filho de Deus (At 9.10-22).
Deve-se a tudo isso, antes de tudo, ao próprio Paulo, já que para ele sua vida, com base em sua vocação, divide em duas partes, em que o cristão Paulo repeliu praticamente todo o período judaico da sua vida.
Os poucos dados biográficos podem ser recolhidos facilmente: a partir de sua família, Paulo pertence à sinagoga helenista de Tarso na Cilícia (At 21.39; 22.3), era “hebreu, filho de hebreus” (Fl 3.5; 2ª Co 11.22). O próprio Paulo afirma ter pertencido ao partido dos fariseus (Fl 3.5) e que seu zelo pela lei superava o de muitos dos seus contemporâneos (Gl 1.14).
Aqui Paulo responde com firmeza às acusações dos judaizantes. O evangelho de quem vocês pregam? Seu testemunho pessoal explicou a origem divina da sua mensagem (Gl 1.15-16) e confirmou o orgulho que tinha por causa de sua herança judaica. A mão de Deus guiou a vida de Paulo desde o seu nascimento à separação dele desde “o ventre materno” sugere à familiaridade do apóstolo com Jeremias 1.5.
Pouco depois da mudança produzida na vida do apóstolo, ao passar de perseguidor dos cristãos a arauto do evangelho, desenvolve essa logia, de franca circulação, a respeito de sua pessoa. Paulo recorre, possivelmente, a ela em Gl 1.23, quando escreve: “Ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir”.
Paulo define, em Rm 15.14-19, o dom recebido de Deus como chamado ao serviço ministerial de Cristo, em que ele administra para os gentios o Evangelho de Deus.
Muitos observadores se maravilhavam com as mudanças na vida de Paulo (compare (At 8.3 com 9.20-21). Saulo, que perseguia cristão, tornou-se Paulo, que pregava a mensagem do evangelho. Apesar das suas ações não o terem salvo, as mudanças no modo de vida de Paulo trouxe glória a Deus. O poder de Deus pode transformar qualquer pecador numa nova criatura (2ª Co 5.17).
A dupla afirmação de que Paulo tenha sido zeloso da lei e perseguidor dos cristãos se faz para realçar o contraste com a nova vida, que se iniciou com a vocação: o zeloso da lei passa a ser Apóstolo que defende, como nenhum outro, o gentio-cristianismo, livre da lei.
Com essas observações gerais a respeito do farisaísmo limitamo-nos a caracterizar o marco que condicionaria a consciência do judeu Paulo. Deve-se especificar mais? Para isso, deve-se utilizar as outras cartas paulinas de um modo mais conseqüente do que se costuma fazer. Isso quer dizer que quem procura por materiais tradicionais e conceitos judaicos em Paulo, não deve ver nisso apenas conhecimentos gerais cristãos a respeito do judaísmo, mas deveria interrogar, e analisar os conceitos, relativamente à sua antiga mentalidade judaica.
A partir de sua vocação, houve definitivamente e para sempre uma mudança para ele (1ª Co 9.16; Gl 1.16). Ele mesmo havia mudado e, com ele toda sua experiência da realidade e toda sua interpretação do mundo e da história. Não por acaso se reconhece, através de todos os textos, como Paulo rechaça o antigo e acolhe o novo como seu futuro válido. Assim, a experiência vocacional é uma repetição do início da criação (2ª Co 4.6); nesse sentido, isso vale também para a sua mudança de vida:
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2ª Co 5.17).
Ele “morreu para a lei a fim de viver para Deus” (Gl 2.19); não é mais ele que vive, antes, é Cristo que vive nele (Gl 2.20). Conforme Gl 6.14, o mundo morreu para ele e ele morreu para o mundo. Por causa da realidade superior de Jesus Cristo, tudo perde o valor inclusive sua irrepreensível observância da lei (Fl 3.6-9). Paulo luta somente para submeter todo pensamento à obediência de Cristo (2ª 10.5).
Essas perspectivas global iluminam também os conteúdos concretos de fé que tinham relevância antes da situação em Damasco. Alguns aspectos concernentes a isso podem ser indicados: em primeiro lugar e como fundamento de tudo, o Jesus crucificado, e cuja presença pneumática os fez entrar em conflito com a lei, teve que ressuscitar também para Paulo. Se Deus que ressuscita os mortos (cf Rm 4.17) o tem exaltado junto a ele, o Deus dos pais e da lei tornou-se o Pai de Jesus Cristo. Se Deus mesmo se manifestou assim, então, no contexto damasceno, a lei pura e simplesmente norma para o judaísmo deveria ser compreendida de modo novo. Os cristãos que difundiam a salvação de Cristo com o batismo, à margem da lei, estavam com a razão: a fé que aceita a Cristo é suficiente para a salvação. Não é necessário ser judeu e observador da lei, para poder ser cristão. O cristão se encontra em estado de salvação sem a necessidade da lei, pois somente Cristo garante para ele a salvação divina.
A dura polêmica anti-judaica de 1ª Ts 2.15s, que Paulo desencadeia logo após sua saída de Antioquia, faz pensar que este relacionamento não era isento de tensões:
Por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão (1ª Co 15.2).
Talvez as três grandes exegeses de 1ª Co 10.1-21; 2ª 3.7-18; Gl 4.21-31, no que se refere à base do conteúdo teológico, devam ser colocados nessa época para as igrejas cristãs.
O lugar experimental destas três exegeses é o novo Espírito criador que tem feito nos cristãos o que a “Lei” nunca conseguiu: transformar o homem a partir da alma. Em cada um dos três textos, aparece a época da origen e da eleição de Israel (Abraão, Moisés, Êxodo), vinculado e contrastada, por sua vez, com o tempo da eleição gentio, no qual a comunidade cristã tem consciência de encontrar-se.
Deus não mostrou satisfeito com a conduta de muitos israelitas da geração do Êxodo, mas é um Deus fiel para a comunidade cristã (1ª Co 10.5, 12s). Já o castigo que sofreu a geração do deserto, por causa de sua queda na idolatria e a ruptura da eleição, pode repetir-se em casos isolados, numa comunidade gentio-crtistã, se ela recair no antigo mundo da idolatria. Com isso, diz-se, indiretamente, que a Sagrada Escritura de Israel pertence agora à comunidade gentio-cristã independente, e não mais ao judaísmo: Moisés deixa patente a inferioridade da Antiga Aliança. Diferente da Igreja cristã, Israel até agora está dedicado ao serviço da letra que mata e da morte. Somente a sua conversão a cristo pode herdar a salvação.
VI. O CONCÍLIO DE ATOS - 15.
No Concilio apostólico, tratou-se da questão fundamental de se o cristão podia basear-se da questão exclusivamente na fé em Cristo fora da sinagoga e sem o respaldo da lei, bem como se esta comunidade podia ser reconhecida da mesma maneira que a comunidade judeu-cristãs existentes no interior da sinagoga. Essa questão polêmica havia surgido primeiro em Antioquia, com o aparecimento nesta cidade de judeu-cristãos observantes estritos da lei, procedentes da Judéia (cf At 15.1-5; Gl 2.4).
O termo “judeu-cristão” é um conceito artificial do historiador moderno. Nenhuma comunidade cristã se auto dominou assim. São cristãos que se tornam prosélito, observadores da lei judaica e sendo ao mesmo tempo cristãos.
Os inovadores, nesta disputa, fora, os antioquinos, mas nem Gl 2.1 nem At 15.2 nos informam que foram convocados a ir para Jerusalém. Pelo contrário, foi a própria comunidade antioquena que decidiu esclarecer a disputa com os de Jerusalém.
Tendo à frente Barnabé e Paulo, os antioquenos se dirigem a Jerusalém. Sabiam o que queriam: a delegação é encabeçada pelos dois missionários que haviam acabado de realizar, programaticamente, a missão entre os gentios. Havia outros membros na delegação (At 15.2), entre os quais um cristão incircunciso chamado Tito (Gl 2.3). Uma delegação respeitável, que se apoiava na nova posição antioquena, e isto se manifesta na pessoa de Tito.
A posição contrária estava representada por alguns “falsos irmãos infiltrados” (Gl 2.4), como os qualifica Paulo em tom polêmico. Eles acolhiam “liberdade… em Cristo Jesus” e pretendiam “escravizar” os antioquenos, e obrigá-los a se submeterem à lei judaica (2.4). Para Paulo, a “verdade do evangelho” estava em jogo (outra conjuntura). Segundo At 15.1-5, como já foi acenado, a posição judeu-cristã rígida era defendida, por antigos fariseus, com o segundo argumento: para poder salvar-se, é preciso circuncidar-se e observar a lei. Tratava-se, portanto, da importância essência da lei judaica para a salvação.
Paulo e Lucas coincidem, substancialmente, em suas afirmações a respeito da controvérsia: estava em jogo a salvação definitiva. Os judeu-cristãos extremistas afirmavam: somente o povo judeu é eleito. Por isso, um gentio só pode esperar a salvação tornando-se judeu mediante a circuncisão. Também para os cristãos não pode haver salvação à margem da lei. Os cristãos, para eles, são como que os verdadeiros Israel, dentro de Israel; eles não podem construir um cristianismo fora do povo santo: isto seria destruir a lei por meio da fé´(Rm 3.31), fazendo de Cristo ministro do pecado (Gl 2.17). Cristo não elimina a diferença entre o povo eleito e os pecadores, gentios (diversamente do declarado por Paulo em Gl 2.17), mas sim que é a última dádiva ao seu povo eleito. Por isso, não se pode separar Cristo e a lei, eles estão intimamente relacionados.
Paulo sustenta que Deus age sem acepção de pessoas (Gl 2.6). Ele mesmo, mediante o Evangelho, produz a fé e proporciona o Espírito, sem a necessidade de que os gentios sejam circuncidados (1ª Ts 1s). Com isso, Deus mesmo testemunha a liberdade do Evangelho diante da lei. Não é necessário tornar-se judeu para poder ser cristão. Alguém pode ser batizado sem se submeter à circuncisão, onde Espírito age, sem a circuncisão, existe liberdade. Se Deus em Cristo escolhe o que é vil e o que estava perdido (cf. 1 ª Co 1.26-30), então os gentios são destinatários da missão.
Aparecem assim definidas as duas opiniões contrastantes. O desenrolar do Concílio Apostólico descreve apenas uma assembléia geral. Mas, para Paulo, a questão é diferente: segundo Gl 2.2 Paulo se apresenta, “a parte”, aos apóstolos Tiago, Pedro e João (2.9 sobre a ordem), que foi dita anteriormente em Gl 2.2a, a toda comunidade. Paulo informa sobre a assembléia geral; no v. 6ss, sobre as conversões reservadas com os três apóstolos. Aqueles que preferem outorgar logicamente a sua credibilidade.
Mas é importante fazer uma estimativa dos resultados da assembléia geral. Paulo fornece indicações decisivas a esse respeito. O fato de que as comunidades judaicas glorifiquem a Deus pela conversão de Paulo, segundo (Gl 1.22-24), e como ele cita isso, proposital e imediatamente, antes da descrição do concílio Apostólico e como detalhe importante em relação aos acontecimentos referidos em Gl 1.12ss, demonstra que a comunidade de Jerusalém não era contrária a ele. Em todo caso, se agora Paulo quer dar a entender aos gálatas que seu Evangelho independentemente da lei também motivava este louvor da comunidade de Jerusalém (cf 1.16 com 1.23). A logia não coloca a ênfase na liberdade evangélica perante a lei. Também o temor que o apóstolo Paulo sentiu, diante de uma conclusão em Jerusalém, “correr ou ter corrido em vão (Gl 2.2). Surpreende também que Paulo não escreve nenhuma resolução inequívoca de toda a comunidade e se limita a indicar o que ele não exigiu a circuncisão de Tito (v. 3), e como ele mesmo resistiu aos “falsos irmãos” (v. 4s) e nem mesmo convenceu a deixar circuncisão.
Nessa situação, tudo dependia dos apóstolos. A solução tinha que estar no diálogo particular entre “as colunas” de Jerusalém e a delegação de antioquena que tinha Paulo como seu porta voz. Podiam “as colunas” solucionar esta controvérsia sem que a comunhão cristã desmoronasse? Paulo apresenta, à sua maneira, este diálogo e seu resultado é uma longa construção sintática. Usa como referência o apostolado petrino. Pedro era, indiscutivelmente, a primeira testemunha pascal, apóstolo e missionário desde o início (1ª Co 15.5; Lc 24.34). Embora, na época do Concílio Apostólico, já tivesse entregado a direção da comunidade de Jerusalém para Tiago (cf. A precedência de Tiago em Gl 2.9), mas ele continuou sendo a figura simbólica do cristianismo judeu-cristão (pós-pascal).
Mas certas pessoas (Gl 2.12), causaram problemas em Antioquia, contra o que havia sido acertado em Jerusalém, Paulo poderia, conscientemente, ter dado a precedência a Tiago para ressaltar que agora os seguidores de Tiago estavam-se desviando do acordo. Em todo o caso, também para Atos está claro que Pedro deveria pronunciar, em primeiro lugar, a palavra decisiva (At 15.6-15). Conforme as indicações de Paulo, o debate pode ser assim resumido: foi reconhecido, de modo geral, que, no campo missionário Paulino, Deus “atua” do mesmo modo que no campo missionário petrino. Também ali Deus “age” por meio do Evangelho, concede o Espírito e faz sinais e prodígios (cf Rm 15.19; 2ª Co 12.12; At 10.44-47; 11.1-18; 14.27; 15.12). O apostolado de Paulo, portanto, é análogo de Pedro. A conclusão, que Atos põe nos lábios de Pedro em outra passagem (11.17), está clara: “…se Deus lhes (aos cristãos não judeus) concede o mesmo dom que a nós (os judeu-cristãos), … quem seria eu para impedir Deus de agir?” Posição teológica semelhante Lucas assinala no discurso de Pedro no Concílio Apostólico (At 15.7-11). Surpreende que nele se incluam os conceitos decisivos da teologia da eleição de 1ª Tessalonicenses (cf. 6.2): Deus, mediante o Evangelho, escolhe os gentios, concede-lhes o Espírito e, em razão de sua fé, a pureza de coração. Por isso, assim Lucas permite Pedro concluir, não há mais necessidade da lei, pois “é pela graça do Senhor Jesus que nós somos salvos”. Pedro torna-se, assim, o defensor da teologia da missão gentio-cristã.
Em todo caso, se Pedro lucano outorga o batismo, o Espírito e, com isso, a salvação cristã e a comunhão eclesial aos incircuncisos, então, conforme Gl 2, no Concílio Apostólico ocorre o mesmo: a “graça” (o apostolado, cf. Rm 1.5;15.15; 1ª Co 3.10), que recebeu Paulo, encontrando um reconhecimento geral ao mesmo de Pedro, interpreta-se de forma que, desde agora, existem, com igualdade de direitos, uma missão para os judeus com objetivo de fundar comunidades judeu-cristãs e uma missão para os gentios com o objetivo de fundar comunidades gentio-cristãs. O batismo ratifica a ação do Evangelho ainda que falte a circuncisão.
Já foi visto quão fortemente a experiência do Espírito determinava a comunidade. As afirmações acerca do Espírito dos textos paulinos não são, pois meras interpretações teóricas. Bem mais, o Espírito moldava imediatamente a realidade da comunidade. Paulo exorta os tessalonicenses com toda a naturalidade:
“Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias” (1ª Ts 5.19s).
Paulo estava habituado, desde Antioquia, a está familiarizado com o Espírito. Seu transporte extático ao terceiro céu, durante o período antioqueno, permite-lhe ouvir “palavras inaudíveis”, o sobre natural do Espírito.
Paulo dirige-se ao Concílio Apostólico em Jerusalém baseado numa “revelação”, efetuada sob a ação do Espírito (Gl 2.2). De modo semelhante, descreve Atos como o profeta Ágabo se apresenta em Antioquia (At 11.27s), e o envio de Barnabé e Paulo para a assim chamada primeira viagem missionária aconteceu obedecendo a um mandato dado pelo Espírito Santo durante uma reunião litúrgica (At 13.2).
A assembléia comunitária em celebração litúrgica, guiada pelo Espírito Santo, é o órgão de decisão e execução mais importante da Igreja (Gl 2.14; At 13.2; 14.27) A instituição de cinco “profetas e mestres” (At 13.1), o envio de missionários, como no caso de Barnabé e Paulo (At 13.2), bem como a definição da delegação para Jerusalém (Gl 2.1s), tudo isso é impensável sem o consentimento de toda a comunidade cristã. A comunidade se compromete como uma fraternidade guiada pelo Espírito, sendo, portanto, capaz de distribuir tarefas e de dar consentimentos.
Voltar para lei é tentar a Deus.
“Alguns indivíduos que desceram da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (At 15.1).
O relato de Paulo sobre o que havia acontecido entre os gentios em sua primeira viagem missionária (At 14.26-28), havia chegado a Jerusalém e Judéia, de modo que alguns tinham descido da Judéia ensinavam a importância da circuncisão. Eles acreditavam sinceramente que os convertidos do paganismo enfraqueciam os padrões da Igreja.
Não é incomum que os líderes cristãos discordem amplamente. At 15 demonstra como, através do Espírito Santo e diálogo aberto, as diferenças podem ser resolvidas.
“Agora, pois, porque tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?” (At 15.10).
Entre os fariseus convertidos (v. 5) na Igreja de Jerusalém, houve os que insistiram a submissão dos gentios à lei para se salvarem. Eram os “zelosos da lei” (At 21.20) ou judaizantes. A comissão vinda de Tiago excedeu sua autorização (Gl 2.12).
Somar a lei de Moisés à fé cristã é “tentar” a Deus, visto que isso em verdade, significa que a morte sacrifical de Cristo não é suficiente para efetuar a salvação (Gl 2.21).
Havendo grande contenda neste concílio acerca da circuncisão, então Pedro usou a palavra para esclarecer dizendo:
“Irmãos, vós sabeis que, desde há muito, Deus me escolheu dentre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração” (At 15.8-9).
A base dessa declaração é Dt 14.2, que afirma que Deus chamaria um povo (Israel) “de todos os povos que há sobre a face da terra” (os gentios). Mas Tiago dá novo significado ao uso desses termos. Para Tiago, o “povo” que Deus chama aqui é o gentio, em contraste com Israel.
A circuncisão e submissão à lei seria impor o que Deus não pede e desconfiar de Sua direção.
“Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome” (At 15.16.17).
Tiago cita essa referência do AT por causa da profecia evidente sobre a salvação dos gentios. A reconstrução e restauração do tabernáculo de Davi, refere-se à construção da Igreja, que no início compunha-se de judeus, mas que agora incluía muitos gentios. A Igreja, portanto, é o instrumento pelo qual os gentios podem conhecer a Deus (ref. Am 9.11). A integração dos gentios na Igreja significa incluí-los nos benefícios da Nova Aliança (Hb 8.8-13; Jo 10.16).
“Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (At 15.17-20).
As quatro condições para manter comunhão (de mesa) entre cristãos judeus e gentios são:
1) Abster-se de comida consagrada aos ídolos;
2) Evitar incontinência (pode referir-se aos casamentos ilícitos de Lv 18.6-18);
3) Evitar de comer sangue ou
4) animais estrangulados (baseados em Lv 17.10-12, 13).
Os escrúpulos dos judeus são divulgados pelas sinagogas onde se ensina a lei de Moisés. Os crentes gentios devem seguir os decretos do concílio, não apenas para criar harmonia na igreja, mas para evitar escândalos, na evangelização dos judeus (cf 1ª Co 9.20).
“Visto sabermos que alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados, Barnabé e Paulo, homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo (At 15.24-26).
O apóstolo é agente plenamente autorizado (Jo 13.16; 2 Co 11.13), para levar a mensagem as igreja.
“…alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização…”. Com efeito, são falsos apóstolos que saíram transtornando (no grego anaskeuazo que significa: saquear; roubar, desviar violentamente de um estudo reto, alterar, subverter), que saíram sem autorização. Com certeza eram legalistas da parte dos judaizantes que estavam infiltrados no meio cristão para perverter o evangelho.
VII. PAULO E JESUS
Para dizê-lo em fórmula moderna: entre Jesus e Paulo houve uma “mudança de paradigma”. Somente partindo deste caminho e tendo sempre isso em mente, podemos definir corretamente a relação entre Paulo e Jesus. Qual a logia adotado por Paulo na pregação do Evangelho.
Para esta analise, convém tornar claro o sentido de 2ª Co 5.16. A passagem diz: “Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo”. Este texto, que trata com desdém do “reconhecimento”.
Antes da conversão de Paulo, ele havia decidido que Cristo não podia ser, de modo nenhum o Messias. Entretanto, a sua concepção de Cristo era baseada em conhecimento carnal. Sua visão mudou radicalmente quando ele encontrou Cristo face a face na estrada para Damasco (At 9.4). Em Cristo, a nova fórmula de conhecimento é de natureza espiritual. Paulo argumenta que a sabedoria espiritual não avalia as pessoas com base na aparência exterior, como os coríntios costumavam fazer. Portanto, pedia a eles que descartassem seu velho e carnal modo de avaliação para que, então, pudessem avaliar os outros de acordo com a sua nova natureza dada por Cristo (2ª Co 1.12).
Em 2ª Co 5.16, não se fala do Jesus terreno ou de Jesus histórico em contraposição ao Cristo exaltado, mas antes se julga acerca de um determinado modo de conhecimento. O objeto do mesmo é o Cristo na sua unidade como terreno e exaltado. O modo de conhecimento que Paulo depreciava antes da sua conversão, era aquele meramente humano e sem fé, em posição ao modo espiritual, no qual exatamente ele conhece agora, é o Cristo “no qual estava Deus”, enquanto “aquele que não conhecera pecado, Deus o fez pecado por causa de nós” (2ª Co 5.19-21). Agora Paulo conhece um Jesus soteriológico e prega a remissão dos pecados com base em seu sangue.
A razão de expressarmos o contexto histórico do perseguidor Saulo e do perseguido Paulo, é de suma importância para entendermos a teologia defendida por Saulo, com base na “Lei”, e a nova teologia pregada por Paulo, com base na graça salvífica.
“Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios obedecerem a Deus, pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus” (Rm 15.18).
Aparentemente, isso significa que Paulo falara sobre coisas que Cristo fez através dele, por palavra e ações, isto é, pela proclamação da verdade, por sua demonstração em milagres e respostas poderosas à oração e em seu próprio exemplo de vida semelhante a Cristo. A pregação de Paulo foi confirmada por sinais e prodígios perante os olhos daqueles que o ouviam:
“Por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15.19).
Pr. Elias Ribas
Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Blumenau – SC
A lei cerimonial já não se aplica mais. As leis civis se aplicam em princípios, mas não segundo o culturalismo hebraico da época. As leis morais continuam em vigor. Outro aspecto da lei veterotestamentária é que todas as leis se achavam no contexto da aliança que Deus tinha feito com Israel. A função da Lei era administrar ou superintender a aliança.
4 . Preceito moral fora do Decálogo.
Há princípios que são imutáveis e universais. Não há para eles a questão de transculturação. Onde quer que o Evangelho for pregado tais princípios fazem-se presentes; são preceitos morais e éticos.
Os dois maiores mandamentos são preceitos morais (Mc 12.29-31). Entretanto, não constam no Decálogo; é uma combinação de Dt 6.4-5 com Lv 19.18. Por outro lado, encontramos no Decálogo o quarto mandamento, que não é preceito moral. Jesus disse que o sacerdote podia violar o sábado e ficar sem culpa (Mt 12.5), mas sobre este assunto trataremos mais tarde.
Admitimos que se os sabatistas estivessem certos em sua interpretação, estaríamos desobrigados de amar a Deus sobre todas as coisas e de amar o próximo como a nós mesmo.
Naquilo que os sabatistas chamam de lei cerimonial, há inúmeros preceitos morais. Por exemplo: Não afligir a estrangeiros, órfãos e viúvas (Êx 22.21-22). É preceito altamente moral e não cerimonial. Não torcer o juízo (Dt 16.19). Estes e outros são preceitos morais, que, no entanto, não estão no decálogo. Diante disso, verifica-se que os dez mandamentos e outros preceitos da lei constituem uma unidade do velho concerto, abolido por Cristo (2ª Co 3.14). O Novo Testamento (concerto), traduzido por Cristo, é superior ao de Moisés (Jo 14.15; 1ª Jo 2.3, 10; 3.22-24; 4.21; 5.1-3); Gl 6.2). Os mandamentos de Cristo não são só dez. São todos o NT.
5. A lei cumpriu sua função.
O Senhor Jesus já cumpriu a lei (Mt 5.17). O Concílio de Jerusalém determinou que os cristãos nada têm com a lei (At 15.10-11, 20, 29). O apóstolo Paulo comparou a liberdade cristã à lei de um casamento (Rm 7.1-3). Se a mulher for de outro homem, estando seu marido ainda vivo, é adúltera. Isto porque, está ligada a lei do marido. Por conseguinte, não podemos estar ligados à lei e a Cristo ao mesmo tempo. Por isso, estamos mortos para a lei (Rm 7.4).
A função da lei foi patológica (descobri a causa da doença): revelar o pecado do homem. Mas ela não pode curar (Rm 3.19-20; Gl 2.16; 3.24).
6. Observar a lei é desvio.
O apóstolo Paulo chamou a lei de ministério da morte gravado em pedras (2ª Co 3.7), ministério da condenação (2ª Co 3.9) e transitório (2ª Co 3.13). O antigo Testamento já abolido por Cristo (2ª Co 3.14). Buscar a salvação pela observância da lei é desviar do cristianismo bíblico (Gl 5.1-4). Observe, porém, que Paulo não criticou a lei; reconhecia a santidade da lei (Rm 7.7, 14). O que ele diz é que ela é imponente para salvar, pois sua função é outra.
III. A NOVA ALIANÇA
O antigo concerto foi dado a Israel quando saia do Egito, junto ao monte Sinai (Êx 19.1-6; Hb 9.18-20). Os israelitas aceitaram as condições do antigo concerto, firmado entre Deus e Israel (Êx 24.1-8). Deus propôs o concerto ao Seu povo (Êx 19.3, 6) e Israel aceitou (Êx 24.3-8). O concerto de Deus não foi para todos os homens.
Como o povo de Israel não guardou o antigo concerto, apesar de ter prometido que guardaria, O Senhor Deus prometeu um novo concerto (Jr 31.31-34; Zc 11.10; Mt 27.3-10; Jr 3.16), o qual foi estabelecido por Cristo, como bem declara o escritor da carta aos hebreus:
Hebreus 8.6-7, 13: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. 7 Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda. 13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer”.
“Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei” (Hb 7.11-12).
Todos que aceitam a Cristo Jesus como o único e suficiente Salvador, deve cumprir a mais sublime lei: “a lei da graça”. A Bíblia diz que mudando o sacerdócio há mudança de lei. As leis do Velho Concerto foram escritas para a nação de Israel, mas o Novo Testamento para a Igreja de Cristo. Agora o crente em Jesus vive numa nova dimensão; na dimensão do Espírito, da fé e da graça.
O Cristianismo não judaizou o mundo. O cristianismo teve origem no contexto judaico e deste recebeu uma rica herança teológica e ética. Haja vista o próprio Cristo. Nascido “conforme a Lei” (Gl 4.4), cresceu e viveu dentro da cultura judaica (Lc 2.40-43). Durante o seu ministério, reconheceu as Escrituras Hebraicas e a autoridade de Moisés (Mc 7.13; Lc 5.14). Todavia, não pregou costumes judaicos; Seus apóstolos não judaizaram o mundo. O apóstolo Paulo, discursando no Areópago, não deu uma aula sobre o tetragrama hebraico do Antigo Testamento [Yahweh]. Sua preocupação era pregar a principal mensagem do cristianismo: a ressurreição de Jesus (At 17.31).
“Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda. E, de fato, repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor” (Hb 8.6-9).
Da mesma maneira como Moisés foi mediador da aliança Mosaica, assim Cristo é o mediador da nova aliança. Com a vinda de Cristo a aliança Mosaica terminou, com a declaração do apóstolo Paulo em Rm 10.4 e Gl 3.19.
No dia da instituição da Santa Ceia o Senhor Jesus Cristo apresentou a Nova Aliança “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. Lc 22.20. Jesus havia dito “Isso é o meu sangue, o sangue da nova aliança derramado em favor de muitos para a remissão de pecados” Mt 26.28. A provisão desta aliança era o perdão dos pecados.
A Nova Aliança inclui a presença do “Testamento” que somente tem validade quando acontece a morte do testador, neste caso o testador é Cristo. (Gl 3.15 e Hb 9.16-17).
Esse período jurídico referia-se também a Velha Aliança, pois essa também foi introduzida, delicada e sancionada pelo derramamento de sangue, Hb 9.18-20. O derramamento de sangue significava a morte do testador e concedeu a natureza de dádiva à aliança. A aliança Mosaica era, pois transitória e de qualidade assistencial, não era, pois definitiva. Podemos entender isso pelo fato de animais serem sacrificados como tipos do Cordeiro de Deus que posteriormente daria a sua vida. Quando Jesus anunciou que o seu sangue daria, o sangue da Nova Aliança, entendemos que ele mesmo era o testador, ou seja, doador da Nova Aliança ou do Novo Testamento.
IV. O EVANGELHO E A LEI MOSAICA
“Desviando-se alguns, se entregam às vãs contendas. Querendo ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1ª Tm 1.6-7).
Há ministros que, desconhecendo as regras da hermenêutica, usam a lei mosaica sem conhecer o tempo que deve ser empregada, usam como se estivessem vivendo na época de Moisés. A lei mosaica foi dada por Deus por causa das transgressões do povo hebreu, embora o mandamento fosse santo, bom e justo, cf. Rm 7.12 era inadequado, porque não conseguiu transmitir vida espiritual nem força moral.
No tempo da graça o crente não deve usar como doutrina a lei do Velho Testamento, pois não houve morte do testador ele deixou de ser usado no sentido doutrinário. Todavia a lei moral que fazia parte da lei continua a ter vigência, pois ela faz parte da santidade do cristão.
O legalismo é isso, prima por alguma prioridade em detrimento do que é realmente prioritário isto acarreta um grande perigo, pois falsifica o Evangelho de Cristo.
Legalismo na história da teologia, é a teoria de que um homem obtém e merece a sua salvação fazendo boas obras ou obedecendo a lei.
Paulo era zeloso das tradições judaicas, um fariseu e perseguidor dos cristãos, mas após sua conversão passou a combater os prosélitos da lei; usando suas estratégias e muitas vezes procedia como judeu para ganhar os judeus como se vivesse na lei. “Procedi para os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei” (1ª Co 9.20-21).
Existem “certos líderes” que forçam a exegese bíblica para provar suas teses, sem saber o tempo e a época que foram escritas. Vejamos por exemplo quando Jesus diz: “Passará os céus e a terra, mas minhas Palavras não passarão” (Mt 24.35).
“... minhas palavras não passarão”. Analisando este texto dentro da exegese Jesus se refere ao Seu Evangelho e as Suas profecias; e, nunca a Bíblia num todo.
Todavia os legalistas de hoje interpretam e ensinam erroneamente a Palavra do Senhor dizendo que Jesus cumpriu a lei e que devemos cumpri-la com base em Mt 5.17-18, onde o Senhor diz: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”.
Porque a lei só deixaria de ter vigência depois de cumprida. Pergunta-se: Qual foi o homem, além de Jesus Cristo, que cumpriu a lei? Não existiu e não existe ninguém que cumpriu a lei, senão Jesus. Note o que Jesus diz no verso 18: “Nem um jota ou um til jamais passará da lei, até que tudo seja cumprido”.
O Senhor Jesus prevê a cessação da validade da lei depois de preenchido o seu propósito. Ele disse: Porque em verdade vos digo “... até que tudo seja cumprido”. A permanência da lei permaneceu até o seu cumprimento por alguém, isto é, por Jesus Cristo, que cumpriu e aboliu a lei.
Sabemos também, através de Paulo, que Cristo nasceu de mulher; e viveu sob a lei, a fim de cumpri-la e, cumprindo-a (Mt 5.17-18), findou-se a lei para justiça, deste modo, pode cravá-la na cruz (cf. Ef 2.13-16), para possibilitar a justificação de todo àquele que crê; o que era impossível à lei (At 13.38-39; Rm 3.23-24) e é possível mediante a fé em Cristo (Rm 5.1).
A Igreja não está obrigada a cumprir as regras do Velho Testamento, pois o Senhor Jesus, através de Sua morte, libertou-nos da maldição da lei. O próprio Filho de Deus ensinou: o que realmente importa na lei são as reedificações de Deus quanto á justiça, á misericórdia e a fé (Mt 23.23; cf. Mq 6.8; Mt 5.17; Rm 10.4).
V. PAULO E O JUDAÍSMO
Paulo partilha com outros personagens da antiguidade o mesmo destino de ser conhecido apenas no período mais significativo e produtivo de sua vida.
Pode-se tornar esse período em sentido amplo, desde sua vocação até a sua morte, tendo em vista o Paulo cristão. Uma comparação com o texto objetivamente semelhante de At 9.20, ensina que a vida de Paulo é tipicamente dividida em duas partes (perseguidor….evangelizador).
A história é edificante, assim, bipartida: o perseguidor, que quer destruir a comunidade cristã em Damasco, é quase “destruído” pelo próprio Senhor da comunidade (At 9.1-9).
O Senhor providencia para que, por meio de Ananias, o perseguidor enfermo seja novamente curado e possa anunciar Jesus como Filho de Deus (At 9.10-22).
Deve-se a tudo isso, antes de tudo, ao próprio Paulo, já que para ele sua vida, com base em sua vocação, divide em duas partes, em que o cristão Paulo repeliu praticamente todo o período judaico da sua vida.
Os poucos dados biográficos podem ser recolhidos facilmente: a partir de sua família, Paulo pertence à sinagoga helenista de Tarso na Cilícia (At 21.39; 22.3), era “hebreu, filho de hebreus” (Fl 3.5; 2ª Co 11.22). O próprio Paulo afirma ter pertencido ao partido dos fariseus (Fl 3.5) e que seu zelo pela lei superava o de muitos dos seus contemporâneos (Gl 1.14).
Aqui Paulo responde com firmeza às acusações dos judaizantes. O evangelho de quem vocês pregam? Seu testemunho pessoal explicou a origem divina da sua mensagem (Gl 1.15-16) e confirmou o orgulho que tinha por causa de sua herança judaica. A mão de Deus guiou a vida de Paulo desde o seu nascimento à separação dele desde “o ventre materno” sugere à familiaridade do apóstolo com Jeremias 1.5.
Pouco depois da mudança produzida na vida do apóstolo, ao passar de perseguidor dos cristãos a arauto do evangelho, desenvolve essa logia, de franca circulação, a respeito de sua pessoa. Paulo recorre, possivelmente, a ela em Gl 1.23, quando escreve: “Ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir”.
Paulo define, em Rm 15.14-19, o dom recebido de Deus como chamado ao serviço ministerial de Cristo, em que ele administra para os gentios o Evangelho de Deus.
Muitos observadores se maravilhavam com as mudanças na vida de Paulo (compare (At 8.3 com 9.20-21). Saulo, que perseguia cristão, tornou-se Paulo, que pregava a mensagem do evangelho. Apesar das suas ações não o terem salvo, as mudanças no modo de vida de Paulo trouxe glória a Deus. O poder de Deus pode transformar qualquer pecador numa nova criatura (2ª Co 5.17).
A dupla afirmação de que Paulo tenha sido zeloso da lei e perseguidor dos cristãos se faz para realçar o contraste com a nova vida, que se iniciou com a vocação: o zeloso da lei passa a ser Apóstolo que defende, como nenhum outro, o gentio-cristianismo, livre da lei.
Com essas observações gerais a respeito do farisaísmo limitamo-nos a caracterizar o marco que condicionaria a consciência do judeu Paulo. Deve-se especificar mais? Para isso, deve-se utilizar as outras cartas paulinas de um modo mais conseqüente do que se costuma fazer. Isso quer dizer que quem procura por materiais tradicionais e conceitos judaicos em Paulo, não deve ver nisso apenas conhecimentos gerais cristãos a respeito do judaísmo, mas deveria interrogar, e analisar os conceitos, relativamente à sua antiga mentalidade judaica.
A partir de sua vocação, houve definitivamente e para sempre uma mudança para ele (1ª Co 9.16; Gl 1.16). Ele mesmo havia mudado e, com ele toda sua experiência da realidade e toda sua interpretação do mundo e da história. Não por acaso se reconhece, através de todos os textos, como Paulo rechaça o antigo e acolhe o novo como seu futuro válido. Assim, a experiência vocacional é uma repetição do início da criação (2ª Co 4.6); nesse sentido, isso vale também para a sua mudança de vida:
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2ª Co 5.17).
Ele “morreu para a lei a fim de viver para Deus” (Gl 2.19); não é mais ele que vive, antes, é Cristo que vive nele (Gl 2.20). Conforme Gl 6.14, o mundo morreu para ele e ele morreu para o mundo. Por causa da realidade superior de Jesus Cristo, tudo perde o valor inclusive sua irrepreensível observância da lei (Fl 3.6-9). Paulo luta somente para submeter todo pensamento à obediência de Cristo (2ª 10.5).
Essas perspectivas global iluminam também os conteúdos concretos de fé que tinham relevância antes da situação em Damasco. Alguns aspectos concernentes a isso podem ser indicados: em primeiro lugar e como fundamento de tudo, o Jesus crucificado, e cuja presença pneumática os fez entrar em conflito com a lei, teve que ressuscitar também para Paulo. Se Deus que ressuscita os mortos (cf Rm 4.17) o tem exaltado junto a ele, o Deus dos pais e da lei tornou-se o Pai de Jesus Cristo. Se Deus mesmo se manifestou assim, então, no contexto damasceno, a lei pura e simplesmente norma para o judaísmo deveria ser compreendida de modo novo. Os cristãos que difundiam a salvação de Cristo com o batismo, à margem da lei, estavam com a razão: a fé que aceita a Cristo é suficiente para a salvação. Não é necessário ser judeu e observador da lei, para poder ser cristão. O cristão se encontra em estado de salvação sem a necessidade da lei, pois somente Cristo garante para ele a salvação divina.
A dura polêmica anti-judaica de 1ª Ts 2.15s, que Paulo desencadeia logo após sua saída de Antioquia, faz pensar que este relacionamento não era isento de tensões:
Por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão (1ª Co 15.2).
Talvez as três grandes exegeses de 1ª Co 10.1-21; 2ª 3.7-18; Gl 4.21-31, no que se refere à base do conteúdo teológico, devam ser colocados nessa época para as igrejas cristãs.
O lugar experimental destas três exegeses é o novo Espírito criador que tem feito nos cristãos o que a “Lei” nunca conseguiu: transformar o homem a partir da alma. Em cada um dos três textos, aparece a época da origen e da eleição de Israel (Abraão, Moisés, Êxodo), vinculado e contrastada, por sua vez, com o tempo da eleição gentio, no qual a comunidade cristã tem consciência de encontrar-se.
Deus não mostrou satisfeito com a conduta de muitos israelitas da geração do Êxodo, mas é um Deus fiel para a comunidade cristã (1ª Co 10.5, 12s). Já o castigo que sofreu a geração do deserto, por causa de sua queda na idolatria e a ruptura da eleição, pode repetir-se em casos isolados, numa comunidade gentio-crtistã, se ela recair no antigo mundo da idolatria. Com isso, diz-se, indiretamente, que a Sagrada Escritura de Israel pertence agora à comunidade gentio-cristã independente, e não mais ao judaísmo: Moisés deixa patente a inferioridade da Antiga Aliança. Diferente da Igreja cristã, Israel até agora está dedicado ao serviço da letra que mata e da morte. Somente a sua conversão a cristo pode herdar a salvação.
VI. O CONCÍLIO DE ATOS - 15.
No Concilio apostólico, tratou-se da questão fundamental de se o cristão podia basear-se da questão exclusivamente na fé em Cristo fora da sinagoga e sem o respaldo da lei, bem como se esta comunidade podia ser reconhecida da mesma maneira que a comunidade judeu-cristãs existentes no interior da sinagoga. Essa questão polêmica havia surgido primeiro em Antioquia, com o aparecimento nesta cidade de judeu-cristãos observantes estritos da lei, procedentes da Judéia (cf At 15.1-5; Gl 2.4).
O termo “judeu-cristão” é um conceito artificial do historiador moderno. Nenhuma comunidade cristã se auto dominou assim. São cristãos que se tornam prosélito, observadores da lei judaica e sendo ao mesmo tempo cristãos.
Os inovadores, nesta disputa, fora, os antioquinos, mas nem Gl 2.1 nem At 15.2 nos informam que foram convocados a ir para Jerusalém. Pelo contrário, foi a própria comunidade antioquena que decidiu esclarecer a disputa com os de Jerusalém.
Tendo à frente Barnabé e Paulo, os antioquenos se dirigem a Jerusalém. Sabiam o que queriam: a delegação é encabeçada pelos dois missionários que haviam acabado de realizar, programaticamente, a missão entre os gentios. Havia outros membros na delegação (At 15.2), entre os quais um cristão incircunciso chamado Tito (Gl 2.3). Uma delegação respeitável, que se apoiava na nova posição antioquena, e isto se manifesta na pessoa de Tito.
A posição contrária estava representada por alguns “falsos irmãos infiltrados” (Gl 2.4), como os qualifica Paulo em tom polêmico. Eles acolhiam “liberdade… em Cristo Jesus” e pretendiam “escravizar” os antioquenos, e obrigá-los a se submeterem à lei judaica (2.4). Para Paulo, a “verdade do evangelho” estava em jogo (outra conjuntura). Segundo At 15.1-5, como já foi acenado, a posição judeu-cristã rígida era defendida, por antigos fariseus, com o segundo argumento: para poder salvar-se, é preciso circuncidar-se e observar a lei. Tratava-se, portanto, da importância essência da lei judaica para a salvação.
Paulo e Lucas coincidem, substancialmente, em suas afirmações a respeito da controvérsia: estava em jogo a salvação definitiva. Os judeu-cristãos extremistas afirmavam: somente o povo judeu é eleito. Por isso, um gentio só pode esperar a salvação tornando-se judeu mediante a circuncisão. Também para os cristãos não pode haver salvação à margem da lei. Os cristãos, para eles, são como que os verdadeiros Israel, dentro de Israel; eles não podem construir um cristianismo fora do povo santo: isto seria destruir a lei por meio da fé´(Rm 3.31), fazendo de Cristo ministro do pecado (Gl 2.17). Cristo não elimina a diferença entre o povo eleito e os pecadores, gentios (diversamente do declarado por Paulo em Gl 2.17), mas sim que é a última dádiva ao seu povo eleito. Por isso, não se pode separar Cristo e a lei, eles estão intimamente relacionados.
Paulo sustenta que Deus age sem acepção de pessoas (Gl 2.6). Ele mesmo, mediante o Evangelho, produz a fé e proporciona o Espírito, sem a necessidade de que os gentios sejam circuncidados (1ª Ts 1s). Com isso, Deus mesmo testemunha a liberdade do Evangelho diante da lei. Não é necessário tornar-se judeu para poder ser cristão. Alguém pode ser batizado sem se submeter à circuncisão, onde Espírito age, sem a circuncisão, existe liberdade. Se Deus em Cristo escolhe o que é vil e o que estava perdido (cf. 1 ª Co 1.26-30), então os gentios são destinatários da missão.
Aparecem assim definidas as duas opiniões contrastantes. O desenrolar do Concílio Apostólico descreve apenas uma assembléia geral. Mas, para Paulo, a questão é diferente: segundo Gl 2.2 Paulo se apresenta, “a parte”, aos apóstolos Tiago, Pedro e João (2.9 sobre a ordem), que foi dita anteriormente em Gl 2.2a, a toda comunidade. Paulo informa sobre a assembléia geral; no v. 6ss, sobre as conversões reservadas com os três apóstolos. Aqueles que preferem outorgar logicamente a sua credibilidade.
Mas é importante fazer uma estimativa dos resultados da assembléia geral. Paulo fornece indicações decisivas a esse respeito. O fato de que as comunidades judaicas glorifiquem a Deus pela conversão de Paulo, segundo (Gl 1.22-24), e como ele cita isso, proposital e imediatamente, antes da descrição do concílio Apostólico e como detalhe importante em relação aos acontecimentos referidos em Gl 1.12ss, demonstra que a comunidade de Jerusalém não era contrária a ele. Em todo caso, se agora Paulo quer dar a entender aos gálatas que seu Evangelho independentemente da lei também motivava este louvor da comunidade de Jerusalém (cf 1.16 com 1.23). A logia não coloca a ênfase na liberdade evangélica perante a lei. Também o temor que o apóstolo Paulo sentiu, diante de uma conclusão em Jerusalém, “correr ou ter corrido em vão (Gl 2.2). Surpreende também que Paulo não escreve nenhuma resolução inequívoca de toda a comunidade e se limita a indicar o que ele não exigiu a circuncisão de Tito (v. 3), e como ele mesmo resistiu aos “falsos irmãos” (v. 4s) e nem mesmo convenceu a deixar circuncisão.
Nessa situação, tudo dependia dos apóstolos. A solução tinha que estar no diálogo particular entre “as colunas” de Jerusalém e a delegação de antioquena que tinha Paulo como seu porta voz. Podiam “as colunas” solucionar esta controvérsia sem que a comunhão cristã desmoronasse? Paulo apresenta, à sua maneira, este diálogo e seu resultado é uma longa construção sintática. Usa como referência o apostolado petrino. Pedro era, indiscutivelmente, a primeira testemunha pascal, apóstolo e missionário desde o início (1ª Co 15.5; Lc 24.34). Embora, na época do Concílio Apostólico, já tivesse entregado a direção da comunidade de Jerusalém para Tiago (cf. A precedência de Tiago em Gl 2.9), mas ele continuou sendo a figura simbólica do cristianismo judeu-cristão (pós-pascal).
Mas certas pessoas (Gl 2.12), causaram problemas em Antioquia, contra o que havia sido acertado em Jerusalém, Paulo poderia, conscientemente, ter dado a precedência a Tiago para ressaltar que agora os seguidores de Tiago estavam-se desviando do acordo. Em todo o caso, também para Atos está claro que Pedro deveria pronunciar, em primeiro lugar, a palavra decisiva (At 15.6-15). Conforme as indicações de Paulo, o debate pode ser assim resumido: foi reconhecido, de modo geral, que, no campo missionário Paulino, Deus “atua” do mesmo modo que no campo missionário petrino. Também ali Deus “age” por meio do Evangelho, concede o Espírito e faz sinais e prodígios (cf Rm 15.19; 2ª Co 12.12; At 10.44-47; 11.1-18; 14.27; 15.12). O apostolado de Paulo, portanto, é análogo de Pedro. A conclusão, que Atos põe nos lábios de Pedro em outra passagem (11.17), está clara: “…se Deus lhes (aos cristãos não judeus) concede o mesmo dom que a nós (os judeu-cristãos), … quem seria eu para impedir Deus de agir?” Posição teológica semelhante Lucas assinala no discurso de Pedro no Concílio Apostólico (At 15.7-11). Surpreende que nele se incluam os conceitos decisivos da teologia da eleição de 1ª Tessalonicenses (cf. 6.2): Deus, mediante o Evangelho, escolhe os gentios, concede-lhes o Espírito e, em razão de sua fé, a pureza de coração. Por isso, assim Lucas permite Pedro concluir, não há mais necessidade da lei, pois “é pela graça do Senhor Jesus que nós somos salvos”. Pedro torna-se, assim, o defensor da teologia da missão gentio-cristã.
Em todo caso, se Pedro lucano outorga o batismo, o Espírito e, com isso, a salvação cristã e a comunhão eclesial aos incircuncisos, então, conforme Gl 2, no Concílio Apostólico ocorre o mesmo: a “graça” (o apostolado, cf. Rm 1.5;15.15; 1ª Co 3.10), que recebeu Paulo, encontrando um reconhecimento geral ao mesmo de Pedro, interpreta-se de forma que, desde agora, existem, com igualdade de direitos, uma missão para os judeus com objetivo de fundar comunidades judeu-cristãs e uma missão para os gentios com o objetivo de fundar comunidades gentio-cristãs. O batismo ratifica a ação do Evangelho ainda que falte a circuncisão.
Já foi visto quão fortemente a experiência do Espírito determinava a comunidade. As afirmações acerca do Espírito dos textos paulinos não são, pois meras interpretações teóricas. Bem mais, o Espírito moldava imediatamente a realidade da comunidade. Paulo exorta os tessalonicenses com toda a naturalidade:
“Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias” (1ª Ts 5.19s).
Paulo estava habituado, desde Antioquia, a está familiarizado com o Espírito. Seu transporte extático ao terceiro céu, durante o período antioqueno, permite-lhe ouvir “palavras inaudíveis”, o sobre natural do Espírito.
Paulo dirige-se ao Concílio Apostólico em Jerusalém baseado numa “revelação”, efetuada sob a ação do Espírito (Gl 2.2). De modo semelhante, descreve Atos como o profeta Ágabo se apresenta em Antioquia (At 11.27s), e o envio de Barnabé e Paulo para a assim chamada primeira viagem missionária aconteceu obedecendo a um mandato dado pelo Espírito Santo durante uma reunião litúrgica (At 13.2).
A assembléia comunitária em celebração litúrgica, guiada pelo Espírito Santo, é o órgão de decisão e execução mais importante da Igreja (Gl 2.14; At 13.2; 14.27) A instituição de cinco “profetas e mestres” (At 13.1), o envio de missionários, como no caso de Barnabé e Paulo (At 13.2), bem como a definição da delegação para Jerusalém (Gl 2.1s), tudo isso é impensável sem o consentimento de toda a comunidade cristã. A comunidade se compromete como uma fraternidade guiada pelo Espírito, sendo, portanto, capaz de distribuir tarefas e de dar consentimentos.
Voltar para lei é tentar a Deus.
“Alguns indivíduos que desceram da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” (At 15.1).
O relato de Paulo sobre o que havia acontecido entre os gentios em sua primeira viagem missionária (At 14.26-28), havia chegado a Jerusalém e Judéia, de modo que alguns tinham descido da Judéia ensinavam a importância da circuncisão. Eles acreditavam sinceramente que os convertidos do paganismo enfraqueciam os padrões da Igreja.
Não é incomum que os líderes cristãos discordem amplamente. At 15 demonstra como, através do Espírito Santo e diálogo aberto, as diferenças podem ser resolvidas.
“Agora, pois, porque tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?” (At 15.10).
Entre os fariseus convertidos (v. 5) na Igreja de Jerusalém, houve os que insistiram a submissão dos gentios à lei para se salvarem. Eram os “zelosos da lei” (At 21.20) ou judaizantes. A comissão vinda de Tiago excedeu sua autorização (Gl 2.12).
Somar a lei de Moisés à fé cristã é “tentar” a Deus, visto que isso em verdade, significa que a morte sacrifical de Cristo não é suficiente para efetuar a salvação (Gl 2.21).
Havendo grande contenda neste concílio acerca da circuncisão, então Pedro usou a palavra para esclarecer dizendo:
“Irmãos, vós sabeis que, desde há muito, Deus me escolheu dentre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração” (At 15.8-9).
A base dessa declaração é Dt 14.2, que afirma que Deus chamaria um povo (Israel) “de todos os povos que há sobre a face da terra” (os gentios). Mas Tiago dá novo significado ao uso desses termos. Para Tiago, o “povo” que Deus chama aqui é o gentio, em contraste com Israel.
A circuncisão e submissão à lei seria impor o que Deus não pede e desconfiar de Sua direção.
“Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome” (At 15.16.17).
Tiago cita essa referência do AT por causa da profecia evidente sobre a salvação dos gentios. A reconstrução e restauração do tabernáculo de Davi, refere-se à construção da Igreja, que no início compunha-se de judeus, mas que agora incluía muitos gentios. A Igreja, portanto, é o instrumento pelo qual os gentios podem conhecer a Deus (ref. Am 9.11). A integração dos gentios na Igreja significa incluí-los nos benefícios da Nova Aliança (Hb 8.8-13; Jo 10.16).
“Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (At 15.17-20).
As quatro condições para manter comunhão (de mesa) entre cristãos judeus e gentios são:
1) Abster-se de comida consagrada aos ídolos;
2) Evitar incontinência (pode referir-se aos casamentos ilícitos de Lv 18.6-18);
3) Evitar de comer sangue ou
4) animais estrangulados (baseados em Lv 17.10-12, 13).
Os escrúpulos dos judeus são divulgados pelas sinagogas onde se ensina a lei de Moisés. Os crentes gentios devem seguir os decretos do concílio, não apenas para criar harmonia na igreja, mas para evitar escândalos, na evangelização dos judeus (cf 1ª Co 9.20).
“Visto sabermos que alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados, Barnabé e Paulo, homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo (At 15.24-26).
O apóstolo é agente plenamente autorizado (Jo 13.16; 2 Co 11.13), para levar a mensagem as igreja.
“…alguns que saíram de entre nós, sem nenhuma autorização…”. Com efeito, são falsos apóstolos que saíram transtornando (no grego anaskeuazo que significa: saquear; roubar, desviar violentamente de um estudo reto, alterar, subverter), que saíram sem autorização. Com certeza eram legalistas da parte dos judaizantes que estavam infiltrados no meio cristão para perverter o evangelho.
VII. PAULO E JESUS
Para dizê-lo em fórmula moderna: entre Jesus e Paulo houve uma “mudança de paradigma”. Somente partindo deste caminho e tendo sempre isso em mente, podemos definir corretamente a relação entre Paulo e Jesus. Qual a logia adotado por Paulo na pregação do Evangelho.
Para esta analise, convém tornar claro o sentido de 2ª Co 5.16. A passagem diz: “Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo”. Este texto, que trata com desdém do “reconhecimento”.
Antes da conversão de Paulo, ele havia decidido que Cristo não podia ser, de modo nenhum o Messias. Entretanto, a sua concepção de Cristo era baseada em conhecimento carnal. Sua visão mudou radicalmente quando ele encontrou Cristo face a face na estrada para Damasco (At 9.4). Em Cristo, a nova fórmula de conhecimento é de natureza espiritual. Paulo argumenta que a sabedoria espiritual não avalia as pessoas com base na aparência exterior, como os coríntios costumavam fazer. Portanto, pedia a eles que descartassem seu velho e carnal modo de avaliação para que, então, pudessem avaliar os outros de acordo com a sua nova natureza dada por Cristo (2ª Co 1.12).
Em 2ª Co 5.16, não se fala do Jesus terreno ou de Jesus histórico em contraposição ao Cristo exaltado, mas antes se julga acerca de um determinado modo de conhecimento. O objeto do mesmo é o Cristo na sua unidade como terreno e exaltado. O modo de conhecimento que Paulo depreciava antes da sua conversão, era aquele meramente humano e sem fé, em posição ao modo espiritual, no qual exatamente ele conhece agora, é o Cristo “no qual estava Deus”, enquanto “aquele que não conhecera pecado, Deus o fez pecado por causa de nós” (2ª Co 5.19-21). Agora Paulo conhece um Jesus soteriológico e prega a remissão dos pecados com base em seu sangue.
A razão de expressarmos o contexto histórico do perseguidor Saulo e do perseguido Paulo, é de suma importância para entendermos a teologia defendida por Saulo, com base na “Lei”, e a nova teologia pregada por Paulo, com base na graça salvífica.
“Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios obedecerem a Deus, pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus” (Rm 15.18).
Aparentemente, isso significa que Paulo falara sobre coisas que Cristo fez através dele, por palavra e ações, isto é, pela proclamação da verdade, por sua demonstração em milagres e respostas poderosas à oração e em seu próprio exemplo de vida semelhante a Cristo. A pregação de Paulo foi confirmada por sinais e prodígios perante os olhos daqueles que o ouviam:
“Por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15.19).
Pr. Elias Ribas
Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Blumenau – SC
FONTE DE PESQUISA
- ANTÔNIO GILBERTO, lições bíblicas, 4º trimestre, 1992, CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
- ANTÔNIO GILBERTO, lições bíblicas, 1º trimestre, 1997, CPAD, Rio de janeiro, RJ.
- BÍBLIA EXPLICADA, S.E.McNair, 4ª Edição, CPAD, Rio de Janeiro RJ.
- BÍBLIA PENTECOSTAL, Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida, Edição 1995, CPAD, Rio de Janeiro RJ.
- BÍBLIA SHEDD, Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil – 2ª Edição, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, SP.
- BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida, 1995, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, SP.
- CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE, Dicionário Teológico, p. 286, 8ª Edição, Ed. CPAD, Rio de janeiro, RJ.
- CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE, Lições Bíblicas, 2ª trimestre de 2008, Ed. CPAD, Rio de janeiro, RJ.
- RAIMUNDO OLIVEIRA, Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 1986, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
- JOHN LANDERS, Religiões mundiais, Juerp, Rio de Janeiro, 3ª Edição, 1994.
- JOHN STOTT, Romanos, 1ª Edição, 2000, Ed. ABU, SC.
- JÜRGEN BECKER, Apóstolo Paulo, Edição 2007, Editora Academia Cristã
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