Onde devo estudar teologia?
>> terça-feira, 23 de outubro de 2012
Por - Daniel Santos Jr.
Tenho
recebido constantemente e-mails pedindo sugestões quanto a seminário ou
universidade onde cursar um bacharelado em teologia, mestrado ou até
mesmo doutorado. Eu já pensei várias vezes em criar uma resposta padrão
em que pudesse apenas trocar o nome do destinatário, mas isso seria uma
falta de respeito para com alguém que, a meu ver, está pedindo conselhos
para tomar decisões importantes em sua vida.
Não é
fácil dar conselhos e dicas nesta área, pois há uma quantidade enorme de
variáveis que se alternam de pessoa para pessoa, por exemplo: idade
(acima de 40 anos – é quase impossível conseguir bolsa de estudo);
situação financeira (pessoal ou da instituição em que trabalha);
situação familiar (casado, solteiro, com filhos, etc.); proficiência em
línguas modernas de pesquisa (inglês, francês ou alemão); quanto tempo
dispõe para completar os estudos; como e onde pretende aplicar o
conhecimento adquirido e, por fim, (e esta é a pergunta mais difícil de
responder), por que você precisa fazer o curso que deseja?
Quando a
procura é o primeiro curso de teologia, tenho sugerido sempre quatro
perguntas que podem servir de parâmetro para uma decisão: Quem serão os
seus mestres? Quem foram os mestres daqueles que serão os seus mestres?
Que tipos de pessoas têm procurado aprender com aqueles que serão os
seus mestres? Que tipo de atuação e influência aqueles que serão seus
mestres têm fora da instituição de ensino?
1. Quem serão os seus mestres?
É muito
comum encontrar pessoas procurando um curso de teologia por causa de
associação denominacional, acomodações (moradia para casados ou
solteiros) ou localização (próximo de casa). No caso da associação
denominacional, às vezes, há uma exigência clara encaminhando seus
líderes para um determinado local onde possam receber treinamento
teológico. Nestes casos, não há muito que escolher.
Todos
estes aspectos são importantes e podem definir ou restringir bastante as
possibilidades, mas gosto sempre de frisar a importância de se saber
quem serão os seus mestres. Há muita coisa que pode ser aprendida sem
que haja necessidade de frequentar um seminário ou qualquer sala de
aula; mais do que muitos imaginam. Todavia, se você chegou ao ponto de
procurar uma instituição de ensino teológico pressupõe-se que o
relacionamento professor/aluno acontecerá. Em outras palavras, você terá
que aprender com alguém, seja este alguém um professor ou um grupo de
pesquisa. Professores terão a responsabilidade de guiá-lo, desafiá-lo e
encorajá-lo em sua jornada, mas eles terão também a difícil tarefa de
avaliar o seu progresso. É nessa hora que você lamentará ou dará graças a
Deus pelos seus mestres, pois a sua experiência de aprendizagem e
formação pode se transformar rapidamente num pesadelo.
Quando
eu digo “quem” serão os seus mestres, a minha ênfase não é
necessariamente na lista que aparece no website da escola, pois muitos
professores não estarão disponíveis para todos os programas oferecidos
naquela instituição. Outras vezes o professor é apenas visitante ou
palestrante esporádico. Poderia enumerar vários casos de pessoas que me
disseram estar interessadas em um seminário por causa de um professor em
particular. Que decepção quando as informei de que a pessoa que
procuravam ter como mestre não ensinava mais naquela instituição há
vinte anos.
Eu
aconselho você a conhecer seus mestres antes de se decidir quanto ao
seminário ou escola de teologia. Procure um jeito de assistir a uma aula
(mais de uma, se for possível) com tal professor ou professora, e veja
como é a comunicação com os alunos, como se prepara e apresenta seu
conteúdo. Tente uma entrevista com tal professor ou professora e troque
algumas idéias com o propósito de perceber sua disposição de caminhar
junto com você em sua jornada. Ainda que não seja muito comum, não é
raro encontrar pessoas que são excelentes escritores, mas péssimos
professores. Ninguém é perfeito. Continue apenas lendo seus livros. Há
muitos professores que não querem qualquer contato com alunos, pois
estão bastante comprometidos com suas pesquisas e outras
responsabilidades administrativas. Novamente, ninguém é perfeito. Alguém
tem que administrar a escola. Em suma, conheça aqueles que serão os
seus mestres antes de decidir sobre o local onde você buscará sua
formação teológica.
Quando
você encontrar mestres que correspondam às suas expectativas, busque
aprender com eles nem que seja sentado debaixo de uma árvore. Vale a
pena! Aprender com quem quer ensinar, quem sabe ensinar e tem amor pelo
que ensina faz toda a diferença, especialmente quando o assunto é a
Bíblia. Que decepção ter que aprender (neste caso a melhor palavra seria
apenas “assistir aulas”) com alguém que você percebe não tem o menor
prazer no que está fazendo, não sabe ensinar e não tem o menor respeito e
honestidade com a Bíblia.
2. Quem foram os mestres dos seus mestres?
Quando
você começa a conhecer mais a fundo os seus mestres, uma coisa fica
evidente: eles são representações melhoradas ou pioradas daqueles que
foram os mestres deles. Você precisa entender uma coisa: ensinar é
apenas a resposta inevitável do desejo e necessidade de aprender.
Geralmente quem não gosta de aprender não gosta de ensinar. A maior
lição que os mestres dos nossos mestres podem ter passado é exatamente
este amor pela aprendizagem. Quando você procura saber quem foram os
mestres daqueles que serão os seus mestres e descobre que ele ou ela
perpetua práticas de ensino simplesmente porque foram ensinados daquela
forma, cuidado. É bem possível que ele ou ela nunca irá mudar seu jeito
de dar aula. Em outras palavras, é improvável que uma pessoa que tenha
estudado cinco anos de sua vida com alguém extremamente piedoso e
honesto para com a Bíblia venha a se tornar um teólogo cético e
desonesto.
Veja
bem, eu não quero dizer com isso que alguém que tenha estudado sob a
orientação de um teólogo conhecido pela sua posição cética em relação à
inspiração das Escrituras não mereça nossa confiança. Não
necessariamente. O discípulo pode ser uma versão melhorada do seu
mestre. Tenho grande respeito e consideração por alguém que tenha
estudado numa instituição secular (e até hostil ao evangelho) e não se
torna uma versão piorada dos seus mestres. Sua experiência de contato
com aquele contexto só o preparou para dialogar com maior firmeza e
sofisticação entre aqueles que não compartilham da mesma convicção
teológica de nossa tradição denominacional.
Se eu
tivesse que refazer toda a minha caminhada de formação teológica eu
seguiria o seguinte roteiro no que tange aos mestres dos meus mestres:
a) procuraria saber quem foi o orientador de pesquisa deles, b)
procuraria saber quem foram os seus contemporâneos naquela instituição e
o que eles estão fazendo hoje, c) procuraria saber e conhecer um pouco
sobre o conceito de aprendizagem dos mestres dos meus mestres e como
isso foi assimilado pelos que serão os meus mestres, e d) eu procuraria
saber se eles querem acompanhar a minha jornada de aprendizagem (isto
vale especialmente para orientação de dissertação).
Tendo
dito todas estas coisas, não posso deixar de mencionar um ponto: há
muitos professores excelentes, com os quais você passaria a vida inteira
aprendendo se fosse possível. Eles ensinam porque amam aprender, amam
ensinar e amam aos que querem aprender com eles. Onde você encontra
esses professores? Comece a procura descobrindo quem foram os seus
mestres.
3. Que tipos de pessoas querem aprender com seus mestres?
A nossa
jornada de aprendizagem e formação teológica não depende apenas dos
mestres. Eu defendo a tese de que devemos fazer parte de uma comunidade
de aprendizagem. Neste caso, aqueles que procuram aprender com os meus
mestres irão influenciar a minha formação. Mas antes de entrar nesta
questão, deixe-me apenas lançar um alerta – comece a desconfiar de
mestres que atraem somente pessoas céticas e desonestas para com a
Bíblia. Comece a desconfiar se nenhum dos alunos que procuram aprender
com seus mestres está servindo a Deus envolvido com uma igreja local. O
tipo de pessoas que comumente tem procurado aprender com meus mestres
deveria me dizer alguma coisa sobre aquilo que devo esperar desses. Em
outras palavras, por que você acha que aquele professor despertou o
interesse em você e naquela pessoa totalmente diferente de você? O que
há em comum entre você e aquela tal pessoa?
Em
segundo lugar, como eu disse anteriormente, os tipos de pessoas que se
assentam numa sala de aula comigo terão uma influência inquestionável em
minha formação teológica. Tenho ensinado há mais de quinze anos em
diversos contextos e posso garantir que a influência do grupo (negativa
ou positiva) é inevitável, determinante e recomendada! Logo, a escolha
de onde você procurará sua formação teológica deve levar em consideração
os tipos de pessoas que também procuram aprender com seus mestres.
4. Que tipo de influência e atuação externa estes mestres têm?
Um bom
professor ensina aquilo que ele ou ela é. Isto requer integridade. Antes
de escolher uma instituição de formação teológica, procure saber o tipo
de influência e atuação que os seus mestres têm no mundo exterior à
sala de aula. O motivo é apenas o de verificar consistência e
integridade de caráter. Uma verificação como esta lhe permite
rapidamente descobrir se a sala de aula funciona como um palanque ou
como um laboratório de aprendizagem. Quando o elemento motivador de
aprendizagem do seu mestre é uma causa pessoal que ele ou ela tem
(racismo, feminismo, liberalismo, fundamentalismo, etc.), a sala de aula
se torna facilmente um palanque que divulga suas convicções entre os
alunos. Quando o elemento motivador de aprendizagem é uma causa do reino
de Deus, nossos mestres geralmente serão mais abertos para aprender,
também com os alunos e demais professores. Além disso, conhecer a
influência externa deles nos possibilita saber se há integridade de
caráter.
Qual é o
melhor seminário? Qual é o melhor curso de teologia? Quem são os
melhores mestres? Onde estão os melhores alunos? Mais cedo ou mais tarde
você perceberá que essas quatro perguntas estão bastante atadas ao que
entendemos ser aprendizagem.
Há
muitos alunos que não deveriam jamais estar numa sala de aula procurando
formação teológica, pois eles não sabem o que querem, não querem abrir
mão do que “acham que sabem”, e não estão dispostos a aprender com
aqueles (professor e alunos) que realmente sabem. Por outro lado, há
muitos homens e mulheres de Deus que deveriam investir mais e o mais
rápido possível em sua formação teológica, pois suas vidas são um
testemunho de que todos nós precisamos de mestres e de discipulado
constante.
Daniel Santos
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Sobre o autor: Daniel Santos é professor de Antigo Testamento e
pesquisador no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper em São Paulo,
Brasil. // Daniel Santos is Old Testament professor and researcher at
Andrew Jumper Graduate Centre in Sao Paulo, Brazil
Fonte: Blog do autor
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