Segundo a nossa Constituição, é vedada a tributação sobre templos de
qualquer culto. Essa regra alcança o patrimônio, a renda e os serviços
diretamente relacionados com as finalidades essenciais dessas
instituições. Imunidade tributária ampla, aplicável nos três níveis do
Estado. O privilégio estende-se a qualquer destinatário, abrangendo
igrejas de porte internacional e igrejolas que se instalam na periferia
das grandes cidades.
O que há de errado nesse tratamento constitucional? Em primeiro plano,
nada. A Constituição protege a fé, enquanto expressão das liberdades
individuais. Concedendo imunidade tributária aos templos, busca não se
imiscuir nessa relação do sagrado, separando bem o que é de “César” e o
que é de Deus. Penso que esse princípio deve ser preservado.
Contudo, por que o Estado não pode saber o que se passa nos bastidores
de igrejas em matéria econômico-financeira? Por que essa fatia da
riqueza nacional não pode ser conhecida pelos órgãos fiscalizadores? Não
vejo nenhum embaraço em se abrir as contas de instituições de vida
consagrada, que apregoam a equidade, a ética, a moral e a legalidade.
Por que a transparência assusta alguns que pregam a luz? Não sei. A
Escritura afirma que todo aquele que pratica o bem vem para a luz para
que suas obras sejam manifestas, pois contêm a aprovação divina.
Embora o privilégio tributário não seja específico do segmento
evangélico, é notório que este é que mais se expõe em nossos dias.
Igrejas importantes têm surgido nos últimos anos no Brasil. Largos anos
depois da Católica (que significa “universal”), surgiram também em
tempos recentes a Universal, a Internacional e a Mundial. Todas dentro
de um espírito conquistador. Naturalmente, sendo o dinheiro a mola
propulsora do mundo, há muita coisa para ser conhecida em termos
financeiros, seja em âmbito nacional, seja pela tentativa de evasão de
divisas.
Penso que igrejas sérias no Brasil deveriam pedir abertura de suas
contas. Neste caso, a Receita Federal teria o papel de - e tão-somente -
conhecer o montante de recursos levantados e aplicados a cada mês e a
cada exercício anual. Cada instituição seguiria livre para administrar
cem por cento de sua renda, mas o Estado, saberia o que se passa em cada
lugar.
Não vejo por que igrejas são tratadas tão diferente do segmento
privado, em termos econômico-financeiros. Abertamente, hoje,
comercializam muita coisa. Isso vai desde “venda” de bênçãos a toda
sorte de barganha e concorrência. Isso inclui um catálogo de produtos de
causar inveja a muitos comerciantes comuns.
Essa briga entre a Universal e a Mundial talvez não existisse se o
governo soubesse quanto cada qual arrecada e em que aplica suas rendas.
Ele poderia cruzar informações para checar o preço pago em canais de
rádio e televisão. Saberia qual o valor das prebendas, este nome difícil
para salário de religiosos. Conheceria quanto é gasto para construir um
templo, e assim por diante. Qual o problema nisso? Você acha que Jesus
se recusaria a abrir suas contas? De jeito nenhum. Ele nem quis saber de
imunidade tributária, porém, quando cobrado, pagou espontaneamente o
imposto dele e o de Pedro.
Igrejas sérias só teriam a ganhar com a abertura de suas contas.
Membros dessas igrejas iriam parar de se preocupar com a idoneidade de
certos religiosos. Bastaria pedir que a Receita lhes mostrasse os
números. No início de cada ano, esse mesmo relatório técnico seria
apresentado aos fiéis para prestação de contas.
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