Pra não dizer que não falei de política - O cenário político no alvorecer do cristianismo e o papel do cristão na política hodierna
>> sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Introdução
Quem
me conhece sabe que abomino politicagem e os malabarismos da política
partidária. Mas por outro lado, sou muito inclinado a aceitar a boa
política, que ajuda as pessoas a viverem na cidade, como diz o apóstolo
Paulo, na polis, do modo digno do Evangelho de Cristo, uma política não
utópica, que provê maior dignidade as pessoas, que ensina “a pescar”,
que fornece acesso à educação, e capacita o cidadão com senso crítico,
tornando-o livre, cônscio de seus direitos, e capaz de transformar
outros indivíduos, famílias e bairros e mudar o quadro de miséria e
ignorância do contexto de uma cidade inteira.
Nosso
sistema político está apodrecido até a espinha dorsal e como o pecado
que se alastra, está corrompido no seu início, meio e fim. A história
política do Brasil nos mostrou que a maioria eleita pelo povo sofrido
(que sempre é visto como massa de manipulação e moeda de troca), quando
assumiu cargos públicos, inicialmente começou até com boas intensões,
mas depois se tornou egocêntrica incontrolável, possessa de ganância, se
alastrando no congresso nacional, nos governos e nas prefeituras, nas
assembleias e tribunais, como ratos de esgoto insaciáveis, roubando,
extorquindo, desviando verbas, malversando o dinheiro público e
cometendo todo tipo de bandidagens. O pior é que o dinheiro, a
influência e a autoridade que lhes são imputados os resguardam na
impunidade, e jamais são condenados ou presos. Essa situação indigna só
cresce, em face de pobreza extrema que gera toda sorte de malefícios à
sociedade brasileira, um tumor purulento que supura corrupção e
desmandos.
— A situação do Império Romano dominando a Palestina.
Por
outro lado, para aqueles que são avessos à política e querem uma
distância substancial dela, devem ser esclarecidos de que NÃO SE PODE
LER O NOVO TESTAMENTO SEM O MÍNIMO DE CONHECIMENTO POLÍTICO e sem ser
munidos de uma noção básica quanto à expectativa (política) dos cidadãos
que povoavam as cidades da Palestina da época de Jesus e aguardavam a
vinda de um Messias Libertador prometido pelos profetas do Antigo
Testamento, que viria para acabar com a tirania opressora do Império
Romano para sempre.
A
história do nascimento de Jesus tão romanticamente contada por
professoras piedosas em flanelógrafo, mostrando a família sagrada, o
menino Jesus na palha da manjedoura junto como os pastores, bois e
burrinhos esconde o pulso latejante do coração pisoteado do cidadão
comum que vivia no território de Israel, cuja pirâmide social
desproporcional era composta por uma pequena fatia na classe alta com os
ricos saduceus, rabinos e sacerdotes do templo, esmagada no meio pela
classe média que consistia de negociantes, fazendeiros e artesãos e
tendo a base inchada da pirâmide, a esmagadora classe baixa com seus
milhões de nômades sem terra, escravos, prostitutas, mendigos, loucos e
enfermos de todo tipo, os pobres da terra, ESSES DESPREZADOS QUE FORAM O
FOCO PRINCIPAL DA ATENÇÃO E AMOR DIRECIONADOS POR JESUS DE NAZARÉ QUE
GEROU OS MILAGRES, A LIBERTAÇÃO E O BEM ESTAR DE MUITOS, MAS TAMBÉM A
IRA DOS RELIGIOSOS CHEIOS DE ASSEPSIA MORALISTA. Os cobradores de
impostos e publicanos faziam parte da classe baixa, apesar de serem
ricos abastados.
Já
há muito tempo Israel como nação não provava o que era liberdade. Desde
a saída do cativeiro na Babilônia, foram dominados pela Grécia, pelos
Ptolomeus (Egito), pelos Selêucidas (Síria) e depois de um período curto
de liberdade conquistado pelos macabeus, para depois serem dominados
pelos romanos. No tempo de Jesus, as taxas e impostos eram
impraticáveis, e o povo não tinha maiores esperanças, a não ser apostar
todas as fichas na vinda do Messias que viria libertar o povo da mão
despótica do Império.
— A situação religiosa e os partidos políticos na Palestina.
- Os fariseus
Eram
os separados do povo, observadores escrupulosos das leis rabínicas e
mosaicas, não se aproximavam dos pecadores e impuros cerimoniais. Eram
radicais conservadores que não se submetiam aos costumes da helenização,
não aceitavam o domínio romano, no entanto, discordavam passivamente
sem usarem a força das armas.
- Os saduceus
Eram
ricos opulentos, detinham o poder político e religioso, mantinham o
rendoso comércio de sacrifícios de animais no templo, controlavam a
classe sacerdotal e a guarda do templo. Eram progressistas e tolerantes
com a expansão dos costumes greco-romanos.
- Os essênios
Eram
os separados do mundo. Não sacrificam no templo de Jerusalém, pois
reputavam o templo poluído por um sacerdócio corrupto. Só usavam vestes
brancas, considerando-se o remanescente exclusivo dos últimos dias.
- Os herodianos
Eram
uma pequena minoria de judeus influentes que pertenciam à aristocracia
de sacerdotes saduceus que por sua vez, apoiavam a dinastia herodiana e o
governo romano que pusera Herodes, o Grande, como rei “marionete” em
Jerusalém. Este, por sua vez, querendo “limpar sua barra” diante da
antipatia geral dos judeus, construiu o fabuloso templo que Jesus pisou e
ensinou muitas vezes.
- Os zelotes
Em
contraposição, os zelotes eram revolucionários radicais, favoráveis à
barrocada do despotismo romano, recusavam-se a pagar impostos, tributos e
taxas, como subversivos inconsequentes que eram, empreenderam diversas
revoltas e rebeliões contra o Império.
- Os escribas
Eram
um grupo de profissionais, rabinos, doutores, mestres e advogados da
Lei. Interpretavam e ensinavam a Lei do Antigo Testamento e tomavam
decisões judiciais sobre casos que eram trazidos no cotidiano para
resolverem. Interpretavam os preceitos da Lei e a aplicavam ao contexto
da vida diária. A maioria dos escribas faziam parte da seita dos
fariseus.
- O sinédrio
O
superior tribunal dos judeus era o Grande Sinédrio. Reuniam-se na área
do templo todos os dias, com exceção dos sábados e dias santificados. O
sumo sacerdote presidia setenta juízes, ou anciãos, vindos dos partidos
dos fariseus e saduceus. São “ as autoridades”, o “concílio”, “os
principais sacerdotes”, os “anciãos e escribas” mencionados no Novo
Testamento.
- O colégio apostólico e suas tendências internas.
Jesus, um rabino.
Jesus
era considerado um rabino, pois possuía um corpo de discípulos
postulantes, falava com autoridade de mestre sempre pondo à frente de
suas assertivas a frase “em verdade, em verdade lhes digo”, falava com
estruturas rítmicas fáceis de memorizar através das famosas parábolas e
se utilizava de perguntas de retórica devolvendo a pergunta com a
finalidade de melhor assimilação das verdades proferidas: “que vos
parece?”.
JESUS
NÃO APOIOU NENHUM DOS PARTIDOS POLÍTICOS OU SEITAS RELIGIOSAS DE SUA
ÉPOCA, ao contrário, sempre batia de frente a hipocrisia religiosa, as
injustiças sociais, as atitudes imorais das autoridades, até chamando
Herodes de raposa, sempre mostrando os postulados do Reino de Deus
demonstrado por ações concretas de transformação social, através de um
amor prático operando milagres e defendendo a causa dos desmerecidos,
curando-os e elevando sua autoestima e dignidade.
Tendências políticas no colégio apostólico. Os discípulos eram zelotes?
- Mateus e Simão
No
corpo de discípulos havia pessoas de posturas políticas bem distintas.
Exemplo disso é Mateus e Simão. Mateus era um cobrador de impostos,
abertamente um colaboracionista do império romano. Por outro lado Jesus
chama um subversivo, Simão, o zelote, absolutamente contra o império
romano.
- Pedro e outros
Oscar
Culmman defende a ideia de que Pedro tenha um comportamento zelote.
Senão vejamos. Pedro era um líder natural de temperamento agressivo
entre os discípulos, sempre assumindo a liderança do grupo dos
seguidores de Cristo. Um dos possíveis indícios do pensamento zelote em
Pedro foi o que aconteceu na noite fatídica do Getsêmane, mantendo uma
adaga escondida debaixo do manto (costume zelote), quando estavam
prendendo Jesus, desceu a adaga afiadíssima para atingir em cheio a
cabeça de Malco, um dos soldado da guarda do templo, e este, tendo
desviado por reflexo, foi atingido, mas o golpe atinge somente a orelha.
Cullmman também garante que os irmãos Tiago e João não eram apelidados à
toa de filhos do trovão, e quando os samaritanos rejeitaram os
ensinamentos de Jesus, eles, se tivessem tal poder, mandariam descer
fogo do céu para destruir os rebeldes impenitentes, uma atitude típica
de zelotes radicais. Mais um: Judas Iscariotes. O nome não significaria
“Homem de Keriot” mas pode ter vindo do arcádio Scarius, que significa
revolucionário. A atitude de trair Jesus seria mais por decepção
ideológica, pelo fato de ver Jesus, que se intitulava o Messias
Libertador, pregar um reino de amor, de deposição das armas, de
tolerância, de amor incondicional aos inimigos, de dar a outra face e
por não treinar e equipar um exército aguerrido capacitado com armas pra
enfrentar e vencer as forças do império romano.
-Os discípulos em geral
Mesmo
depois da ressurreição, parece que havia um sentimento zelote que
permeava latentemente o coração dos discípulos. A pergunta feita pelos
seguidores de Jesus em Atos capítulo um representa um incômodo instalado
no peito do israelita em geral. Jesus agora detinha todo poder no céu e
na terra. Então vem a pergunta que não queria calar: “Senhor (kírios),
será esse o tempo em que vais restaurar o reino de ISRAEL?”. Ou seja:
“agora que o Senhor ressuscitou dos mortos e tem poder ilimitado, será
esse o tempo certo para armares um poderoso exército para acabar de vez
com o domínio romanos sobre nós?” Jesus responde que o avanço do Reino
de Deus é absolutamente diferente do avanço dos reinos humanos:
Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas no mundo inteiro”. O reino de Deus será conquistado não no
campo de batalha, mas no campo interno do coração dos homens, isso de
forma sutil, como um grão de mostarda que rebenta subversiva e
gradativamente no subsolo das consciências humanas e fecunda a terra
frutificando liberdade, transformação e vida, sem precisar erguer uma
adaga sequer.
- O julgamento de Cristo e Sua condenação
No
julgamento de Jesus existe um grande equívoco em relação à Barrabás.
Pilatos, o representante do poder romano, consulta o povo, quanto a um
costume antigo: por ocasião da festa da Páscoa, soltava-se um dos
prisioneiros, conforme o povo quisesse. Naquele momento, havia um preso
muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos bradou ao povo: “Quem quereis
que vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado O Cristo?. Mas os
principais sacerdote e os anciãos persuadiram o povo a que pedissem
Barrabás, e fizessem morrer a Cristo”. Todos sabiam que Barrabás não era
um simples batedor de carteiras ou um homicida qualquer. O povo
preferiu a Barrabás por motivos políticos. Barrabás era um agitador
político, um revolucionário, um zelote. Alguém que tinha atitude. Alguém
que poderia resolver os problemas sociais da nação. Jesus não. Eis aí
um rei fracassado, um boneco de pano nas mãos dos romanos, indefeso, um
caniço trêmulo, machucado e sem iniciativa. Vai morrer na cruz como um
rebelde comum dentre tantos que foram calados pela foice romana.
Soltaram Barrabás, o bom de briga. Pilatos lavra a sentença de Jesus,
condenado à pena capital pelo império romano por se intitular rei,
concorrendo de frente com o Rei do Cosmos, o César. Mais uma vez o povo
ignorava a verdadeira natureza e o conteúdo do Reino de Deus.
- A posição de Pedro e Paulo
Paulo
defende a obediência às autoridades constituídas, devendo-se orar,
honrar e respeitá-las, mas as Escrituras apresentam sempre um ponto de
tensão nessa obediência: se a autoridade ultrapassar o domínio do Reino
de Deus e os limites estabelecidos por Deus em Sua Palavra, deve-se
então dizer: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. No
tempo de Paulo, quem governava com cetro de ferro era Nero, o imperador
maluco que queimava cristão pra iluminar seu palácio. Deve-se pagar
tributo e honra, mas não obedeça se esse mesmo Estado de forma demoníaca
pleitear espaço que não lhe pertence, querendo assumir a posição de
Deus, e reivindicar aquilo que pertence somente a Ele. Aí é hora de
dizer: Obediência absoluta só a Deus!
Conclusão
Finalmente,
quero deixar aqui minha contribuição a respeito do tipo de política que
devemos adotar e o que podemos fazer para as eleições que teremos ainda
nesse ano de 2012 e após elas.
-
Reflitamos. Se o Novo Testamento está impregnado de política, devemos
nos munir do entendimento de que Jesus é o Senhor absoluto do Universo, e
todas as estruturas e espaços da vida humana são permeados pela
presença soberana Dele.
-
Então, precisamos estudar o assunto despretensiosamente, livrando-nos
da dicotomia nociva que separa o espiritual do carnal, o santo do
profano, mentalidade errônea que se instaurou no ambiente cristão ao
longo dos séculos, e descobrir que no mundo, tudo é de Deus, todos os
espaços da vida estão imersas Nele e que essa área deve ser conquistada
pelo Reino da luz e da liberdade.
-
Pesquise a vida dos candidatos de acordo com a proposta das plataformas
de seus partidos, se são propostas exequíveis e de interesse do povo.
Depois, averigue se a vida do candidato corresponde ao cargo que ele
está pleiteando, se tem cultura, capacidade administrativa, interesse
real pelo povo e pela cidade. Se não houver nenhum deles que preencha os
pré-requisitos básicos de honestidade, vote nos que são menos
corruptos. Em última instância, anule seu voto, mas não se venda.
-
Em seguida, não seja obrigado a reeleger candidatos que já derem provas
concretas de incompetência ou que já tenham tido histórico de ações
escusas como roubalheira e aproveitamento do dinheiro público.
-
Depois das eleições tente acompanhar a carreira política do candidato
cobrando e incentivando-o para que cumpra aquilo que prometeu no tempo
de campanha eleitoral.
-
Melhor ainda, independentemente do que os políticos fizerem, tente se
engajar em programas sérios que visam melhorar as condições de pobreza
da cidade, junte-se a ONGS, associações ou igrejas comprometidas com a
causa do Reino de Deus, que tenham propostas de projetos de cidadania
consciente, frentes significativas de ajuda às famílias carentes, planos
estratégicos para libertar o povo da ignorância e da pobreza opressiva,
provendo cursos técnicos profissionalizantes, bolsas integrais,
programas de esporte e Inclusão social. Penso convictamente que são
essas as saídas viáveis pra um futuro melhor para o nosso país já tão
visceralmente inoculado pelo vírus da corrupção desde as entranhas de
suas origens históricas.
-
Ore, jejue, pregue, evangelize, compartilhe a graça, de graça, viva o
Evangelho com alegria exuberante, e espere com uma fé cheia de esperança
grandes mudanças vindas da parte de Deus. O único que pode operar
milagres.
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