Um Evangelho que Devemos Conhecer e Tornar Conhecido
>> segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Por Paul Washer
"Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei..." 1 Coríntios 15.1
Um
escritor ou pregador do evangelho teria muita dificuldade para elaborar
uma introdução melhor ao evangelho de Jesus Cristo do que esta
introdução dada pelo apóstolo Paulo à igreja de Corinto. 1
Nestas poucas linhas, Paulo nos oferece verdades suficientes para
vivermos durante toda a vida e conduzir-nos à glória. Somente o Espírito
Santo poderia capacitar um homem a dizer tanto, com tanta clareza, em
tão poucas palavras.
Conhecendo o evangelho
Nesta pequena
passagem das Escrituras, achamos uma verdade que tem de ser redescoberta
por todos nós. O evangelho não é apenas uma mensagem de introdução ao
cristianismo. Ele é "a" mensagem do cristianismo; e o crente fará muito
bem se gastar sua vida em procurar "conhecer" a glória do evangelho e em
"tornar conhecida" esta glória. Há muitas coisas a conhecermos neste
mundo e inúmeras verdades a serem investigadas na esfera do
cristianismo, mas o glorioso evangelho de nosso Deus bendito 2
e de seu Filho, Jesus Cristo, é superior a todas elas. É a mensagem de
nossa salvação, o instrumento de nosso progresso na santificação e a
fonte cristalina da qual flui toda motivação pura e correta para a vida
cristã. O crente que compreende algo do conteúdo e do caráter do
evangelho nunca terá falta de zelo, nunca será tão necessitado que
buscará forças em cisternas rotas e vazias feitas pelas mãos de homens. 3
De
nosso texto, entendemos que o apóstolo Paulo já tinha pregado o
evangelho à igreja de Corinto. De fato, ele era o pai espiritual
daqueles crentes! 4 Entretanto, Paulo viu a necessidade de
continuar pregando-lhes o evangelho: não somente de recordar as suas
verdades essenciais, mas também de ampliar o seu conhecimento. Na
conversão deles, começaram uma jornada de descoberta que abrangeria toda
a sua vida e se estenderia pelas eras intermináveis da eternidade – a
descoberta das glórias de Deus revelada no evangelho de Jesus Cristo.
Como
pregadores e congregantes, seríamos sábios se víssemos o evangelho
novamente com os olhos deste apóstolo da antiguidade e o estimássemos
como digno de uma vida inteira de investigação cuidadosa. Embora já
tivéssemos vivido muitos anos na fé, embora possuíssemos o intelecto de
Edwards e o discernimento de Spurgeon, embora pudéssemos entender toda
publicação desde os pais na igreja primitiva, passando pelos
reformadores e puritanos, até aos eruditos do tempo presente, estejamos
certos de que ainda não atingimos nem mesmo os contrafortes deste
Everest que chamamos de "evangelho". E isso será dito a nosso respeito
mesmo depois de uma eternidade de eternidades!
Vivemos em mundo
que nos oferece um número quase infinito de possibilidades, e existe um
número incalculável de opções que rivalizam por nossa atenção. O mesmo
pode ser dito sobre o cristianismo e a ampla esfera de temas teológicos
que um aluno pode estudar. Há um número quase infinito de verdades
bíblicas que um homem pode gastar a vida examinando-as. E mesmo o tema
menos importante da Escritura é digno de milhares de vidas em seu
estudo. Todavia, há um tema que se eleva sobre todos os demais e que é
fundamental para o entendimento de todas as outras verdades bíblicas – o
evangelho de Jesus Cristo. É por meio desta mensagem singular que o
poder de Deus se manifesta na igreja e na vida do crente individual.
Quando
examinamos os anais da história do cristianismo, vemos homens e
mulheres de paixão incomum por Deus e por seu reino. Anelamos ser como
eles e nos perguntamos como chegaram a possuir um zelo tão duradouro.
Depois de uma consideração diligente de sua vida, doutrina e ministério,
descobrimos que eles diferiram em muitas coisas, mas tiveram um
denominador comum entre si. Todos eles tiveram um vislumbre da glória do
evangelho, e sua beleza acendeu a paixão deles e os impulsionou a
prosseguir. A vida e o legado deles provam que paixão genuína e
duradoura resulta de um entendimento cada vez mais crescente e mais
profundo do que Deus fez por seu povo na pessoa e na obra de Jesus
Cristo! Não há substituto para esse conhecimento!
O evangelho
cristão tem sido designado como "evangelho", uma palavra que vem do
latim evangellium, que significa boas novas. Esta é a razão por que os
crentes são muitas vezes chamados de evangélicos. Somos "evangélicos"
porque cremos no evangelho e o estimamos como a verdade primordial e
central da revelação de Deus para os homens. O evangelho não é um
prefácio, um provérbio ou uma explicação posterior. Não é meramente a
classe de introdução ao cristianismo, e sim todo o curso de estudo do
cristianismo. É a história de nossa vida, as insondáveis riquezas que
procuramos explorar e a mensagem que vivemos para proclamar. Por esta
razão, podemos dizer que somos mais cristãos e mais evangélicos quando o
evangelho de Jesus Cristo é a nossa única esperança, o nosso único
motivo de orgulho e a nossa única e maior obsessão.
Hoje, são
realizadas tantas conferencias no âmbito do evangelicalismo,
especialmente para jovens, que têm o objetivo de estimular a paixão dos
crentes por meio de música, comunhão, palestrantes eloquentes, histórias
emocionais e apelos comoventes. Contudo, o entusiasmo que tais
conferências produzem, seja ele qual for, desaparece rapidamente.
Pequenos fogos foram acessos em pequenos corações e se acabam em poucos
dias. Temos esquecido que paixão genuína e duradoura nasce do
conhecimento da verdade e, em específico, a verdade do evangelho. Quanto
mais "conhecemos" e compreendemos a beleza do evangelho, tanto mais
somos tomados por seu poder. Um vislumbre do evangelho moverá o coração
verdadeiramente regenerado a segui-lo. Cada vislumbre maior do evangelho
acelerará o seu passo, até que ele esteja correndo resolutamente em
direção ao prêmio. 5 A essa beleza o coração verdadeiramente
cristão não pode resistir. Esta é a grande necessidade do momento! É o
que temos perdido e o que temos de obter novamente – uma paixão por
conhecer o evangelho e uma paixão idêntica por torná-lo conhecido.
Tornando conhecido o evangelho
Não
seria um exagero dizer que o apóstolo Paulo foi um dos maiores
instrumentos humanos do reino de Deus, na história da humanidade e na
história da redenção. Ele foi responsável pela propagação do evangelho
em todo o Império Romano durante um tempo de perseguição incomparável e
permanece como um exemplo do que significa ser um ministro cristão. No
entanto, ele fez tudo isto por meio da proclamação simples da mensagem
mais escandalosa de todas que já chegaram aos ouvidos dos homens. Ao
considerarmos a vida do apóstolo Paulo, notamos que ele foi um homem
excepcionalmente dotado, em especial no que concerne ao seu intelecto e
zelo. Todavia, ele mesmo nos ensinou que o poder de seu ministério não
estava em seus dons, mas na proclamação fiel do evangelho. Em sua
primeira carta dirigida aos cristãos de Corinto, Paulo escreveu sua
grande resignação: Porque não me enviou Cristo para batizar, mas
para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não
anule a cruz de Cristo. 6
Porque tanto os judeus
pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas
para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo,
poder de Deus e sabedoria de Deus. 7
Podemos dizer
que o apóstolo Paulo foi, acima de tudo, um pregador! Como Jeremias
antes dele, Paulo foi constrangido a pregar. O evangelho era como um
fogo ardente encerrado em seus ossos, que ele não podia suportar. 8 Aos cristãos de Corinto, Paulo declarou: "Eu cri; por isso, é que falei" 9 e: "Ai de mim se não pregar o evangelho!" 10
Essa estimativa tão elevada do evangelho e de pregá-lo não pode ser
fingida, quando não existe no coração do pregador, e não pode ser
ocultada, quando existe. Deus chama diferentes tipos de homens para
levarem o fardo da mensagem do evangelho. Alguns deles são mais solenes e
sérios, enquanto outros são mais desatentos e joviais, porém, quando a
conversa muda para o assunto do evangelho, uma mudança ocorre no
semblante do pregador, e parece que você tem diante de si uma pessoa
muito diferente. A eternidade está estampada na face dele, o véu foi
removido, e a glória do evangelho brilha com uma paixão genuína. Tal
homem tem pouco tempo para histórias fantásticas, antídotos morais ou
para compartilhar pensamentos vindos de seu coração. Ele veio para
pregar e tem de pregar! Não descansará enquanto seu povo não ouvir a
mensagem de Deus. Se o servo Eliezer não pôde comer enquanto não
entregou a mensagem de seu senhor, Abraão, 11 quanto menos um
pregador do evangelho ficará tranquilo enquanto não houver entregado o
tesouro do evangelho que lhe foi confiado! 12
Embora
poucos discordem do que escrevi até aqui, parece que, de modo geral, a
pregação apaixonada do evangelho está fora de moda. Ela é considerada
por muitos como algo que não possui o requinte e a sofisticação
necessários para que seja eficaz nesta era moderna. O pregador cheio de
paixão que proclama ousada e categoricamente a verdade é agora
considerado um obstáculo para o homem pós-moderno que prefere um pouco
mais de humildade e de abertura para com outras opiniões. O argumento da
maioria é que temos de mudar nossa maneira de pregar porque o evangelho
parece loucura para o mundo.
Essa atitude para com a pregação é
prova de que perdemos nosso senso de direção na comunidade evangélica.
Foi Deus quem ordenou que a "loucura da pregação" seja o instrumento
para levar ao mundo a mensagem salvadora do evangelho. 13
Isto não significa que a pregação deve ser tola, ilógica ou bizarra.
Contudo, o padrão pelo qual toda pregação deve ser comparada é a
Escritura e não as opiniões contemporâneas de uma cultura decaída e
corrupta, que é sábia a seus próprios olhos 14 e prefere ter seus ouvidos coçados e seu coração entretido a ouvir a Palavra do Senhor. 15
Aonde
quer que o apóstolo Paulo viajasse, ele pregava o evangelho. Faremos
bem se seguirmos o seu exemplo. Embora o evangelho possa ser
compartilhado por meio de instrumentos, não há outro instrumento tão
ordenado por Deus como a pregação. Portanto, aqueles que estão buscando
constantemente meios inovadores para compartilharem o evangelho com uma
nova geração de pessoas interessadas fariam bem se começassem e
terminassem sua busca nas Escrituras. Aqueles que enviam milhares de
questionários que perguntam aos nãos convertidos o que eles mais
gostariam de ver em um culto de adoração devem compreender que as
inúmeras opiniões de homens carnais não possuem a autoridade de "um i ou
um til" da Palavra de Deus. 16 Precisamos entender que há um
grande abismo de diferenças irreconciliáveis entre o que Deus ordena
nas Escrituras e o que a cultura carnal contemporânea deseja.
Não
devemos nos admirar de que homens carnais tanto dentro como fora da
igreja desejem teatro, música e mídia no lugar da pregação do evangelho e
da exposição bíblica. Enquanto o coração de um homem não for
verdadeiramente regenerado, ele aborda o evangelho da mesma maneira como
os demônios gadarenos abordaram o Senhor Jesus Cristo: "Que temos nós
contigo?" 17 Sem a obra de regeneração realizada pelo
Espírito Santo, o homem carnal não tem nenhum interesse ou apreciação
verdadeira pelo evangelho, mas, apesar disso, este milagre é operado no
coração de um homem por meio da pregação do evangelho que, a princípio,
ele desdenha. Portanto, devemos pregar aos homens carnais a própria
mensagem que eles não querem ouvir, e o Espírito Santo deve agir! Sem
isto, os pecadores não podem ver a beleza do evangelho, assim como
porcos não podem ver beleza em pérolas, ou como cães não podem mostrar
reverência para com carne santificada, ou como cegos não podem apreciar
uma pintura de Rembrandt. 18 Os pregadores não fazem bem aos
homens carnais por oferecer-lhes as coisas que seu coração caído deseja,
e sim por colocar diante deles a verdadeira comida, 19 até que, pela obra miraculosa do Espírito Santo, reconheçam-na como o que ela realmente é, provem e vejam que o Senhor é bom! 20
Antes
de terminar esta breve discussão sobre a pregação do evangelho, temos
de falar sobre um assunto final. Apresenta-se frequentemente a teoria de
que nossa cultura não pode tolerar o tipo de pregação que foi tão
eficaz durante os grandes despertamentos e avivamentos do passado. A
pregação de Jonathan Edwards, George Whitefield, Charles Spurgeon e
outros pregadores semelhantes seria ridicularizada, satirizada e
escarnecida pelo homem moderno. No entanto, esta teoria não leva em
conta o fato de que estes mesmos pregadores foram ridicularizados e
satirizados pelos homens de seus dias! A verdadeira pregação do
evangelho será sempre "loucura" para toda cultura. Qualquer tentativa de
remover a ofensa do evangelho e de tornar a pregação "conveniente"
diminui o poder do evangelho. Também frustra o propósito para o qual
Deus escolheu a pregação como o meio de salvar homens – que a esperança
dos homens não esteja em nobreza, eloquência ou sabedoria mundana, e sim
no poder de Deus. 21
Vivemos numa cultura que está
presa ao pecado com algemas de aço. Histórias morais, máximas
extraordinárias e lições de vida compartilhadas de um coração de um
palestrante querido ou de um "tutor de vida espiritual" não têm nenhum
poder verdadeiro contra essas trevas. Precisamos de pregadores do
evangelho de Jesus Cristo, que conhecem as Escrituras e são capacitados,
pela graça de Deus, a encarar qualquer cultura e a clamar: "Assim diz o
Senhor!"
1 - 1 Coríntios 15.1-4.
2 - 1 Timóteo 1.11.
3 - Jeremias 2.13-14; 14.3.
4 - 1 Coríntios 4.15.
5 - Filipenses 3.13-14.
6 - 1 Coríntios 1.17.
7 - 1 Coríntios 1.22-24.
8 - Jeremias 20.9.
9 - 2 Coríntios 4.13.
10 - 1 Coríntios 9.16.
11 - Gênesis 24.33.
12 - Gálatas 2.7; 1 Tessalonicenses 2.4; 1 Timóteo 1.11; 6.20; 2 Timóteo 1.14; Tito 1.3.
13 - 1 Coríntios 1.21.
14 - Romanos 1.22.
15 - 2 Timóteo 4.3.
16 - Mateus 5.18.
17 - Mateus 8.29.
18 - Mateus 7.6.
19 - Isaías 55.1-2.
20 - Salmos 34.8.
21 - 1 Coríntios 1.27-30.
Fonte: Editora Fiel
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