As sobras dos elementos da Seia do Senhor
>> quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Os
diáconos são encarregados da preparação antecipada da Ceia do Senhor.
Esta é uma honra que estes servos de Deus têm diante da igreja local.
Devem zelar para que os elementos sejam apropriados tanto em qualidade,
como o corte do pão e a distribuição do cálice, e ainda a disposição na
mesa. Todavia, após o término do culto, eles são responsáveis pelas
sobras dos elementos da Ceia. A pergunta é: o que fazer dos elementos
que sobraram?
Não há
uma prescrição clara quanto a este assunto. Nos Princípios de
Liturgia[1] [capítulo VII - Administração da Ceia do Senhor] lemos que
no art.17 “os elementos da Santa Ceia são pão e vinho, devendo o
Conselho zelar pela boa qualidade desses elementos.” Isto significa
apenas que o Conselho supervisiona o preparo e uso dos elementos para
que sejam corretamente escolhidos com qualidade. Não há menção quanto às
sobras.
É quase
impossível estabelecer uma regra absoluta quanto ao assunto. Devemos nos
orientar por um princípio geral, isto é, que o preparo, o manuseio, e o
eliminar dos elementos devem evitar qualquer superstição, erro
doutrinário, ou a prática da veneração do pão e do cálice, antes,
durante ou após a celebração da Ceia do Senhor, atribuindo-lhes algum
poder inerente, ou valor permanente. A Confissão de Fé de Westminster
declara que:
Os elementos exteriores deste sacramento, devidamente consagrados aos usos ordenados por Cristo, têm tal relação com o Cristo Crucificado, que, verdadeiramente, embora só num sentido sacramental, são às vezes chamados pelos nomes das coisas que representam, a saber, o corpo e o sangue de Cristo; se bem que, em substância e natureza, conservam-se verdadeiro e somente pão e vinho, como eram antes.[2]
Há diferentes práticas adotadas pelas igrejas evangélicas:
1.
Muitos guardam as sobras, tanto do pão como do cálice, para a próxima
realização da Ceia. O problema é que quando a celebração seguinte
demora, ou sendo realizada mensalmente, os elementos podem não ter a
mesma qualidade, por causa da fermentação, decomposição, ou até mesmo
por serem inaproveitáveis por causa da sua inadequada preservação.
2. Em alguns casos há diáconos que após o culto, enterram as sobras do pão e do cálice. Mas, isto apenas aumenta a ignorância e piora o misticismo irracional que, diga-se de passagem, é uma herança do catolicismo romano.
3. Há
aqueles que jogam no lixo as sobras da Ceia. O fato de se jogar fora
pode ser por não querer aproveitar os elementos, porque uma vez cortados
não é possível aproveita-los para uma refeição posterior. Mas, corre-se
o risco fazê-lo pelo mesmo motivo daqueles que preferem enterrar.
Esta
confusão é desnecessária, mas ofende a consciência de alguns amados e
sinceros irmãos que não foram corretamente instruídos sobre a natureza
da Ceia do Senhor. Eis alguns motivos desta comum confusão:
1. Por serem instruídos sem base nas Escrituras a divinizar o pão e o cálice inconscientes da heresia que estão praticando.
2. Por esquecerem que o pão e cálice são meros símbolos, e que não há nenhuma mutação essencial nos elementos. Apenas a presença espiritual manifesta-se durante a Ceia nos alimentando com graça (por isso, é
um meio de graça). Os elementos da Ceia não se tornam
(transubstanciação), nem contém (consubstanciação) o corpo físico de
Cristo. Embora separados do uso comum, continuam sendo o que sempre
foram, o pão e cálice; não sofrem nenhuma mutação substancial, mas
apenas representam uma realidade espiritual presente durante a correta
celebração da Ceia. Cristo está presente espiritual e não fisicamente.
3. Por confundirem que o importante na Ceia são as palavras, o ato, e o momento
da celebração da comunhão nada acrescentando, nem permanecendo nos
elementos de modo que devem ser considerados como objetos de veneração.
Algumas recomendações pastorais sobre "as sobras da Ceia":
1. Não
alimente o sentimento pelos elementos como se eles fossem o próprio
Cristo! Não podemos cair no sutil erro da idolatria como o fazem os
romanistas.
2. No
manuseio dos elementos não os vulgarize. Este é o outro extremo, também
praticado por ignorância. Não devemos brincar com aquilo que é sério. O
símbolo [pão e vinho] mesmo quando não usado na Ceia não deve ser
banalizado, se separado para este fim.
3. Não há nenhum problema em se comer as sobras do pão e beber resto do cálice, porque após o término do culto, eles se limitam a ser apenas o que sempre foram, pão e vinho, porque após a celebração perderam o seu significado e eficácia espiritual como meio de graça.
4. Se os diáconos resolverem dar as sobras dos elementos para as crianças
(o que acontece em alguns lugares), deve-se inevitavelmente, com
clareza, ensina-las que aquilo que elas estão comendo não é a Ceia do Senhor
(nem permiti-las brincar de Santa Ceia), mas apenas as sobras do pão e
do cálice. Isto deve ser feito, de modo que, seja evitado escândalos,
uma concepção errada, e a confusão na mente dos infantes que ainda não
possuem discernimento da seriedade da Ceia do Senhor.
A minha
real preocupação com este artigo não é com as sobras dos elementos da
Ceia, mas com o pressuposto teológico. A crença modela o comportamento.
Então, não é apenas durante a Ceia que manifestamos a nossa convicção de
fé, mas após o seu término quando vamos nos desfazer das sobras dos
elementos. Infelizmente, um expressivo número de igrejas locais são
absurdamente incoerentes quanto a este assunto! Mesmo aqueles que
durante a Ceia confessam que ela é apenas um mero memorial
(zwinglianos), ou, ainda outros que crêem que embora sendo um símbolo
representa o corpo e o sangue, a presença de Cristo é somente
espiritual, e não física (calvinistas); entretanto, após a Ceia acabam
por negar o seu credo com ransos do romanismo. Com isto, não somente
negamos a nossa doutrina na prática, mas desonramos o ensino do nosso
Senhor.
Notas:
[1] Princípios de Liturgia in: Manual Presbiteriano (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 1999).
[2] Confissão de Fé de Westminster, XXIX. 5.
Fonte: Solus Christus
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