O perigo do sucesso
>> quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
“Então,
regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os
próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu
via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade
para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e
nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não
porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está
arrolado nos céus.” (Lucas 10.17-20).
No
início do capítulo 10 vemos que o Senhor Jesus envia estes setenta
homens para anunciar a sua chegada e proclamar seu evangelho,
provavelmente nas cidades de Jerusalém (cf Lc 9.51). Não se revela
quanto tempo levou para eles cumprirem a missão, nem em que lugar
voltaram para Jesus. O que sabemos é que voltaram com alegria e júbilo
pelo sucesso da missão.
Estes
versículos nos mostram quão facilmente os crentes podem sentir-se
envaidecidos por causa do sucesso. Fica claro que entre eles havia
auto-satisfação no relato das realizações. A declaração de nosso Senhor
Jesus a respeito da queda de Satanás do céu provavelmente tinha o
objetivo de ser um alerta. Ele sondou o coração daqueles homens e
percebeu o quanto eles haviam sido ensoberbecidos pela sua primeira
vitória. Com sabedoria, o Senhor os repreendeu em sua incorreta
exultação, advertindo-os contra o orgulho.
É uma
lição que precisa ser recordada por todos os que servem a Cristo. Pelos
os fiéis trabalhadores da seara do evangelho que desejam sucesso. Os
pastores das igrejas locais, os missionários, evangelistas, professores
de Escola dominical e demais obreiros – por todos que esperam igualmente
sucesso no trabalho que realizam. Todos eles desejam ver almas
convertidas a Deus. E este desejo é correto e bom. Porém, jamais devemos
esquecer que o tempo de sucesso é uma ocasião de perigo para a alma do
crente. Os corações que se acham deprimidos, quando todas as coisas
parecem estar contra eles, com frequência sentem-se indevidamente
exaltados no dia da prosperidade. O apóstolo Paulo instruiu que o
presbítero: “não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo.”(1Tm
3.6). Muitos servos do Senhor Jesus provavelmente alcançam tanto
sucesso quanto suas almas são capazes de suportar. O que fazer?
1
- Ore intensamente por humildade – Quando tudo ao nosso redor parece
prosperar e todos nossos planos se realizam bem; quando as provações
familiares e a enfermidade são mantidas longe de nós e os nossos
afazeres seculares segue com tranquilidade; quando nossa cruz é suave e
tudo em nossa vida vai bem – este é o tempo em que nossas almas
encontram-se em perigo. É tempo em que necessitamos de reforço na
vigilância dos nossos corações. É tempo que as sementes do mal são
plantadas no nosso íntimo por Satanás. Há poucas pessoas que permanecem
humildes nos tempos de grandes sucessos. Somos tendentes a pensar que
nossa própria capacidade e sabedoria nos conquistaram a vitória. A
advertência do Senhor Jesus nesta passagem jamais deve ser esquecida. Em
meio ao triunfo, clamemos ao Senhor com sinceridade de coração:
“Senhor, reveste-me de humildade”!
2 - Os dons e milagres não são superiores à graça de Deus – O Senhor Jesus disse aos setenta discípulos: “alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.” Com toda certeza, foi uma honra e privilégio receberem eles o poder de expulsarem demônios. Tinham motivos corretos para estarem agradecidos. No entanto, um privilégio maior era serem convertidos, perdoados e salvos em Cristo. A distinção entre a graça da salvação e os dons é profundamente importante, mas com frequência tem sido esquecida em nossos dias. Dons, tais como uma poderosa inteligência, grande memória, eloquência admirável, argumentação hábil, são constantemente valorizados acima do que convém por aqueles que os possuem e admirados de maneira indevida por aqueles que não os tem. Estas coisas não devem ser assim. Os homens esquecem que os dons sem a graça divina não salvam a alma de ninguém e são uma característica do próprio Satanás. Aquele que têm dons, sem a graça, está morto em seus pecados, ainda que seus dons sejam admiráveis. Porém aquele que possui a graça divina está vivo em Deus, mesmo que pareça iletrado e inculto aos olhos dos homens.
Jamais
nos contentemos com o falar com eloquência, o pregar com vigor, o
debater com dinamismo, o argumentar com inteligência e conversar com
muita fluência. Jamais nos contentemos em saber todas as doutrinas do
cristianismo e ter à nossa disposição textos e passagens bíblicas. Estas
coisas são boas e não devem ser menosprezadas. Elas são proveitosas,
mas não constituem a graça de Deus e, portanto, não poderão livrar-nos
do inferno. Não podemos descansar enquanto não tivermos o testemunho do
Espírito Santo em nosso íntimo e não formos lavados, santificados e
justificados em Cristo (cf 1Co 6.11). Esforcemo-nos para ser cartas de
Cristo, conhecidas e lidas por todos os homens (cfr 2Co 3.2); devemos
nos empenhar para demonstrar por meio de humildade, amor, fé e
mentalidade espiritual que somos filhos de Deus. Esse é o verdadeiro
cristianismo. Estas são verdadeiras características do cristianismo que
salva. Sem elas, uma pessoa pode ter dons em abundância e tornar-se nada
mais do que um seguidor de Judas Iscariotes.
Fonte: Solus Christus
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