O Sal da Terra e o Político Crente
>> quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Marcelo Lemos
Estamos
em mais um ano eleitoral. Mais um ano, no qual, muitos de nossos
púlpitos são arrendados para políticos ‘simpatizantes’ dos evangélicos, e
candidatos das nossas agremiações. As Eleições são capazes de fazer
‘milagres’. Por exemplo, ainda que o pastor do Ministério “B” jamais
ceda seu púlpito para um pastor do Ministério “A”, ele fará
graciosamente uma concessão ao político “Y”, ainda que este tenha
recebido um ‘passe’ de ‘pai de santo’ horas antes... E, não pense o
querido leitor, que nos falte bases teológicas que justifiquem tal
engajamento!
Por
exemplo, poderá o pastor argumentar que Cristo nos chamou para ser “sal
da terra e luz do mundo”. Essa justificativa teológica para o
engajamento político é um clássico! Mas, será que tais palavras de
Cristo podem ser usadas deste modo? Antes de responder essa questão,
preciso abrir um parêntesis.
Eu
gosto de Política. Acredito que enquanto repetimos chavões como “não
gosto de política” ou “o política é igual futebol: não se discute”,
simplesmente facilitamos a vida de oportunistas, inclusive o tipo que
pretendemos expor nesse artigo. Gosto e faço política. Nem mesmo sou
contra que cristãos sejam candidatos e governantes. Nem mesmo sou contra
que líderes cristãos assumam cargos eletivos – ainda que seja
recomendado tirar uma licença ministerial neste caso. Enfim, o dever do
cristão de participar da vida pública de sua nação não está em discussão
neste texto. Dito isto, prossigamos!
Quando
Cristo disse que devemos ser “sal da terra e luz do mundo”, não tinha
em mente que conquistássemos cargos políticos e posições na sociedade.
Na verdade, Cristo tinha em mente que os cristãos vivessem para Deus, de
modo santo, mesmo que para isso fosse necessário aceitar serem
excluídos da sociedade, e algumas vezes, perseguidos por ela. Fugir
dessas implicações é pisar o sangue dos cristãos primitivos! Se não
estamos dispostos a entrar com pés e mãos atados nos Coliseus da
modernidade, se não estamos prontos servir de tocha humana nos jardins
dos Cezares de hoje, também não estamos prontos para sentarmo-nos à mesa
do Concílio de Calcedônia!
Quanto
a Igreja, saindo vitoriosa das perseguições imperiais, e reuniu-se em
Calcedônia, não o fez com carruagens e pompas. Encontraremos ali homens
de Deus, de todo o mundo, que haviam enfrentado leões em suas covas.
Facilmente nos esquecemos de que a maioria dos bispos ali reunidos havia
sido perseguida, presa e torturada; e muitos deles estavam literalmente
mutilados! Mas, aqueles farrapos humanos deixaram o mais emocionante
testemunho que a História já conheceu: as portas do Inferno não
prevalecerão, jamais!
Infelizmente,
vemos que, hoje, quando o cristão chega ao poder, não é como “sal da
terra e luz do mundo”, mas como coisa insípida, sem nenhum sabor! O mais
triste de tudo é que, justamente a Igreja, que deveria ser celeiro de
uma mudança radical para o nosso País, tem, na verdade, se conformado e
moldado ao mundo.
Para
que possamos ser “sal e luz” na política, e na sociedade como um todo, é
preciso que antes tenhamos uma teologia que seja “sal e luz” em nossas
próprias vidas.
Marcelo Lemos, editor do blog Olhar Reformado, e parceiro do Genizah!
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