Ou Deus ou Mamom
>> quarta-feira, 21 de agosto de 2013
O Senhor
Jesus foi enfático ao fazer oposição entre o amor ao dinheiro e o
serviço a Deus (Mt 6:24). Para ele, ambos são mutuamente excludentes.
Entretanto, deve ficar claro que o Mestre não condenou em momento algum o
uso do dinheiro. O ministério de Jesus foi apoiado financeiramente (Lc
8:3), de tal forma que havia um tesoureiro entre os discípulos (Jo
12:6). É importante frisar esse aspecto para que não se caia no extremo
de condenar a utilização do dinheiro como meio de troca. Então, como já
está evidente no próprio versículo, Jesus fazia referência ao “amor ao
dinheiro”, que em outras palavras refere-se à centralidade que ele tem
na vida de muitos homens, no lugar de Deus.
Como em
quase tudo na vida, o que Deus leva em consideração não é o que fazemos,
mas a motivação com que fazemos. Assim, não há nada de errado em se
querer ganhar mais dinheiro. Contudo, Deus sonda nossos corações e sabe o
porquê de querermos prosperar financeiramente. E é neste ponto em que
está o cerne da mensagem que Cristo quis passar.
O amor
ao dinheiro nada mais é que o amor a si mesmo. Ter mais dinheiro é, em
geral, sinônimo de status, poder e conforto. Tudo isso, entretanto, está
ligado ao desejo da carne, e não às aspirações de um cristão preocupado
com o Reino de Deus. O dinheiro possibilita a satisfação de desejos e
ambições que em um ser humano não regenerado nada têm a ver com a
vontade de Deus.
Entretanto
o que de fato me preocupa não é a forma como o ímpio faz uso de seu
dinheiro, mas como cristãos, ou mais precisamente os evangélicos, o tem
gasto. Eu fico intrigado ao ver carrões estacionados em frente às
igrejas, muitas vezes trocados anualmente, enquanto alguns membros da
mesma comunidade padecem com a falta do mínimo para viver. Pergunto-me
se estou sendo radical ao me incomodar com o desfile de vestidos e joias
a cada novo culto ou se só eu estou vendo que a vaidade parece gritar
mais alto que as vozes que adoram a Deus durante o louvor. Não consigo
ver coerência entre o discurso de priorizar o Reino de Deus sobre todas
as coisas e o tratamento que muitos empresários cristãos dão a seus
empregados, submetendo-os a um regime de trabalho quase escravista na
ânsia de obter mais lucros.
A
sensação que me vem ao conversar com alguns cristãos é de que o dízimo é
uma taxa que permite a livre utilização dos outros 90% unicamente na
satisfação de desejos egoístas. E aí vem os tablets e smartphones
para todos os membros da família, além das roupas e calçados de marca,
sem se esquecer dos óculos de grife e demais utensílios que possam
adornar o corpo e tapar, ainda que só por um breve momento, o buraco
existencial que existe na alma.
Como eu
já disse anteriormente, as palavras de Jesus trazem um ensino bem mais
profundo que uma leitura superficial do texto possa sugerir. O centro da
questão está relacionado ao chamado feito a cada um de nós para negar a
si mesmo e carregar a própria cruz (Lc 9:23). Alguém que ama o dinheiro
ama muito mais a si próprio que a Deus e a seu próximo. Quem ama o
dinheiro está preocupado em satisfazer a si mesmo muito mais que agradar
a Deus ou ajudar a alguém necessitado.
O amor
ao dinheiro apenas revela o que há por trás da máscara que vestimos. Mas
o que mais me entristece e preocupa é que eu e você podemos estar
vestindo a máscara da religião, tentando maquiar com dízimos e ofertas o
Mamom que pode estar reinando em nossos corações. Que Deus tenha misericórdia de nós!
***
Sobre o autor: Cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE.
Artigo enviado por e-mail.
Contatos com o autor: renatocesarmg@hotmail.com
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