Por que há tantos pastores ruins?
>> quinta-feira, 21 de junho de 2012
Por Walter McAlister
De
uns tempos para cá tenho visto, com uma incredulidade cada vez maior,
um fenômeno que me força a fazer esta reflexão. Minha incredulidade se
resume a isto: será que há tantos pastores ruins e tão poucos bons
pastores neste nosso Brasil, meu Deus?!
Pergunto isso (primeiro a mim mesmo e, em segundo lugar, de modo mais
temático) porque na blogsfera-internet-facebook-twitter-cultura
(neologismo meu, confesso) o consenso parece ser o de uma condenação
generalizada da categoria. Anteontem foi o Dia do Pastor. Mas, será que resta o que celebrar? Pelo que leio por aqui, poderíamos muito bem chamar a data de O Dia do Farsante.
O clero anda em baixíssimo conceito com os internautas. Será que é o caso entre os que não navegam pelos fios óticos e wi-fis
deste mundo virtual? Não sei. Sinceramente, não sei. Mas, já que estou
aqui na blogsfera, lá vai a minha reflexão para quem compartilha do
universo virtual.
Primeiro, quero afirmar que conheço muitos pastores. Muitos dos que
conheço são bons pastores. São pessoas movidas por um desejo de servir a
Deus (pelo menos é como eles começaram). Há um desnível de preparo e
oportunidade entre eles, claro. Mas há uma motivação inicial que me
parece uma regra. Cada um se sentiu chamado por Deus para servi-lo e,
consequentemente, alimentar as suas ovelhas.
Há maus pastores, confesso. Creio que nem todos têm um pastor em quem
podem confiar, a quem recorrer ou de quem sequer têm orgulho de ter
como o seu pastor. E, sabendo desse fato, creio ser importante pontuar
algumas razões para isso.
Há muitos pastores no Brasil, hoje, que não foram bem preparados para
o ministério. Alguns foram criados em situações que sequer exigia um
ensino ou treinamento (teológico, bíblico ou ministerial). Bastava
“levar jeito” pra esse “negócio” e logo foram promovidos para ocupar
lugares para os quais não têm a menor noção do que se trata. Sem preparo
teológico, bíblico ou ético, acabaram lançando mão de qualquer
maluquice que parece “dar certo”. Fizeram correntes de toda sorte. Suas
mensagens não passam de capítulos de livros que leram ou que estão na
moda, como: prosperidade, guerra espiritual, conquista de cidades ou
coisa parecida.
Vivem de campanha em campanha e querem criar uma “grande obra” para a
glória de Deus. Essa “grande obra” (geralmente um prédio ou um programa
de TV, rádio ou algo parecido) não passa de uma fonte de enorme despesa
que vai sacrificar o povo, que é visto como fonte de muito lucro. Para
tanto, precisam de cada vez mais povo. E para que tenham isso, vão ter
que lançar mão de mensagens e promessas que atraem esse povo (se
chamarem um dos cantores “gospel” ou o coral das crianças for posto para
cantar, também funciona).
O balcão de ofertas abre, a birosca fica aberta e o povo vem. Com as
músicas da hora, os jovens berram ao microfone, de olhos fechados
(claro, porque precisam demonstrar que estão no enlevo), e todos
assistem atônitos às versões locais e genéricas dos superastros da
música gospel. É quase cómico, se não fosse tão trágico.
Por sua vez o pastor tem que assumir ares de “Grande Servo do
Senhor”, chegando a ter que se autodenominar “Apóstolo”, “Profeta”, e só
falta alguém se declarar o “Quarto Membro da Santíssima Trindade”. É
uma igreja em agonia. Seus gritos e gemidos (que muitos acham serem
sinais de “poder”) só denunciam a falta de vida real íntima com Deus, e
conhecimento profundo das Escrituras (que é a obrigação de qualquer um
que se propõe a ser um obreiro aprovado).
Por outro lado (e agora me remeto ao extremo oposto), há homens
extremamente bem preparados nas Sagradas Letras. Mas sua vida
ministerial é sujeita a um regime massacrante de comitês, relatórios e
avaliações. Se lançaram no serviço do Senhor, mas se acham hoje como
serviçais de leigos que nunca deveriam ter o poder sobre eles que têm.
Compaixão é uma das vítimas dessas estruturas. O pastor teme pelo
bem-estar da sua família: sua esposa, que é duramente cobrada pelas
irmãs da igreja; seus filhos, que são maltratados na escola por serem os
filhos do pastor, mas que são cobrados pelos seus pais na igreja (pois,
se pisarem fora da linha, o comitê talvez não renove o contrato e aí
fazer o quê? Vai botar comida na mesa como?) Mesmo empregados, os
pastores são mal, mas muito mal remunerados – pois, afinal, existem
tantos “marajás” no ministério, mas “aqui não!”. Entre os oportunistas
marajás e os bons servos que são reduzidos ao medo e mendicância para
poderem pastorear, não me admiro que haja tão poucos bons pastores. Os
poucos que vencem o sistema são os vitoriosos e poderosos, que acabam
sentando em comitês denominacionais, envergando um poder político além
da sua igreja local, e que acaba redundando num prestígio cada vez
maior, para assegurar a sua longevidade no púlpito local. É a morte.
Os sistemas, as estruturas e as políticas eclesiásticas não permitem
que haja bons pastores. Não comportam líderes de verdade. Os maus se dão
bem em sistemas que não exigem política. Com o seu talento de
convencimento, o povo vem, sofre, mas apanha por achar que tem que ser
assim. Enquanto há bons pastores que são esmagados por sistemas vítimas
da nefasta politicagem eclesiástica.
O povo dessas igrejas fica sem pastor, que de fato está na mão de
leigos. Ou o povo fica nas mãos de lobos e anticristos que, com charme,
lábia e encenações de “unção” lideram para o seu próprio enriquecimento.
E os bons pastores ficam sem púlpito e seus filhos abandonam a igreja
(pois viram como ela esmagou os seus pais), deixando pai e mãe de
coração partido, pois o eles que mais queriam era ver seu filhos
seguindo nos caminhos de Deus.
O coração dói. Os anjos choram. O Corpo de Cristo sangra. Pastores
fogem do ministério e vendem seguros ou recorrem a uma capelania. E a
blogosfera registra o fel dos que queriam algo mais. Queriam líderes que
manifestassem devocionalidade sem afetação, liderança sem abuso,
compaixão sem politicagem, ensino das Escrituras sem modismos. E os
pastores queriam apenas um lugar onde pudessem alimentar as ovelhas,
pois, como Pedro, confessam o seu amor pelo Mestre.
Conheço bons homens assim. Tenho o privilégio de liderar muitos
deles. Vejo o povo que pastoreiam feliz, com prazer em se reunir para
louvar a Deus, e alimentados pela Bíblia. Mas o coração pesa. Ouço o
choro de muitos, o lamento dos desigrejados (os que fugiram para não
morrer) e já vi pastores de joelhos aos prantos pelos filhos perdidos no
mundo. Não bastasse o dano, vejo que ainda muitos lobos patrulham a
blogosfera e os escombros da Igreja de Cristo, tentando abocanhar os que
vivem desgarrados do rebanho, com palavras suaves e antigas heresias
requentadas e vendidas como algo novo e relevante. Se tão somente
tivessem um bom pastor, que desse a sua vida pelo rebanho! Se tão
somente os bons pastores achassem um lugar para servir com pureza de
coração!
Ah, Senhor da seara, vivifica a Tua Igreja – Noiva do Cordeiro e
Corpo de Cristo – “a plenitude daquele que enche todas as coisas, em
toda e qualquer circunstância” (Ef 1.23). Tem misericórdia de nós e
vivifica-nos, Pai.
Na paz,
+W
Fonte: Walter McAlister
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