Refutação Bíblica a palavra do Silas Malafaia sobre "Uma Vida de Prosperidade"
>> sexta-feira, 15 de junho de 2012
Recentemente, o tele-pastor Silas Malafaia veio a público desafiar os "blogueiros,
críticos de meia-tigela e sites de bandidos travestidos de
evangélicos... quem planta notícia em internet, invejosos,
caluniadores..." [1], a mostrar biblicamente onde é que se encontram
as falhas teológicas de sua pregação sobre a teologia da prosperidade,
que “ele prega e crê” [2].
Talvez o título dessa postagem fosse mais conveniente com a frase: Ensinando Silas Malafaia a deixar a colher e comer de garfo! Seria uma resposta a própria afirmação dele de que, quem o critica “come de colher e quer ensiná-lo a comer de garfo”. Porém, não posso deixar de lado o que a Bíblia diz em 1 Pedro 3.14-17:
“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem aventurados sois, Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados, Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pede razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.” (negrito meu)
É de
conhecimento de todos que, há alguns anos o tele-pastor desvirtuou-se de
sua posição clássica contrária aos modismos e heresias, inclusive que
ele mesmo criticava e condenava [3], para aderir à perniciosa teologia
da prosperidade. Com isso, o mesmo vem promovendo uma série de
distorções bíblicas e heresias gravíssimas, além de abrir a porta para
pregadores heréticos da tal teologia mercantilista vindos de outros
países. Basta pesquisar aqui no blog para constatar que existem inúmeros
artigos de refutação e denúncias das práticas anti-bíblicas de Silas.
Inclusive, destaco um ótimo resumo crítico que foi publicado
recentemente no Púlpito Cristão, no qual você pode ver aqui!
Embora Silas
Malafaia tenha feito o desafio com um tom ofensivo de deboche e
covardia, eu farei a refutação de sua palavra supra-citada não pelo
desafio em si, mas pelo dever em defender o evangelho, aja visto ter
detectado em sua pregação várias distorções bíblicas e conclusões
errôneas feitas pelo tele-pastor, referentes ao que ele defende.
Portanto, para ser mais direto e categórico, vou me conter em refutar
somente a pregação do Silas Malafaia neste programa específico, onde ele
desafia os blogueiros (dos quais incluo-me).
A primeira parte de sua pregação - com base na teologia da prosperidade -
denominada “uma vida de prosperidade”, foi ao ar no último sábado, dia 2
de maio de 2012. Veja abaixo:
Em
sua pregação, para começar ele cita três pontos que serão abordados: o
que é a oferta, características de um ofertante e o resultado na vida do
ofertante. Silas utiliza 2Co 9.1-15 de uma maneira desconexa e
fragmentada, utilizando somente de alguns versículos desta passagem para
fazer a sua defesa da teologia da prosperidade, algo normal de uma
pessoa que prega tal conceito, pois não há o costume de utilizar uma
pregação expositiva equilibrada. Ele ainda afirma que esta passagem é o
“melhor compêndio no Novo Testamento sobre o assunto".
Porém, ao sair
do círculo fechado e fragmentado que Silas arma em torno de 2Co 9.1-15,
afirmando a prosperidade financeira como recompensa para todos os
crentes que ofertam, não tem como ignorar todo o contexto bíblico que
trata de dinheiro, principalmente as passagens que afirmam o contrário
do que Silas defende. Como harmonizar, por exemplo, a sementeira e a
colheita de 2Co 9 com esta outra passagem que diz “Tendo sustento e
com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos
caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e
perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o
amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se
desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (I Tm 6.8-10, ARA) ?
O que dizer então das palavras do Mestre: “Não
acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a
ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós
outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões
não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará
também o teu coração. São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos
forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos
forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que
em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Ninguém pode servir a
dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se
devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às
riquezas.” (Mt 6.19-24, ARA ) ?
Enquanto uma passagem supostamente afirma (segundo Silas) que podemos
ofertar com a promessa de prosperidade financeira plena, outras afirmam
exatamente o contrário, que não devemos enfatizar a prosperidade
financeira! Tem alguma coisa errada aí! Será que Silas Malafaia está
pregando algo correto à luz do contexto bíblico? Será que Deus ficaria
preso na condição de obrigação em recompensar financeiramente quem
oferta?
2Co 9.1-15 pode ser o “melhor compêndio” sobre o assunto conforme ele
afirma, porém não é o único, principalmente no Novo Testamento! Não se
pode interpretar uma passagem isolada de outras que tratam do mesmo
assunto (regra básica de hermenêutica).
Quando desfragmentamos os versículos isolados que Silas utiliza e
analisamos a luz do contexto imediato desta passagem, veremos facilmente
que o foco de Paulo não é a prosperidade financeira para os crentes em
resposta ao ato de ofertar, mas sim a necessidade de ajudar
financeiramente - com alegria e deliberadamente - os irmãos mais pobres.
Paulo usa como exemplo aos Coríntios (uma igreja com membros
financeiramente estáveis) de como os irmãos macedônios foram generosos
nas ofertas enviadas à igreja de Jerusalém. Mesmo com sérias limitações
financeiras (profunda pobreza, 2Co 8.2) eles tiveram alegria em
ajudar os irmãos pobres. Este exemplo deve ser aplicado a nós nos dias
de hoje com total significância. Porém, não com o objetivo de barganhar
com Deus, esperando algo em troca.
Uma pergunta que devemos fazer: será que as ofertas e desafios
financeiros que, tanto Silas Malafaia, quanto os demais tele-pastores
fazem em seus programas são destinados aos pobres da Igreja? Não, pois
eles categoricamente afirmam qual é o destino do dinheiro doado em suas
coletas: sustentar os programas de TV (valores milionários), viagens
nacionais e internacionais, mega-cruzadas caríssimas, jatinho particular
etc. Posso estar errado, mas eu nunca vi Silas fazendo um desafio
financeiro para ajudar os pobres da Igreja.
Continuando a análise ao vídeo, Silas comete outro erro grave: ao citar 2Co 9.4, ele afirma que “a oferta tem sólida base no mundo espiritual”. Para chegar a esta conclusão, ele utiliza a tradução bíblica Almeida Corrigida Fiel onde diz na parte final “...firme fundamento de glória”[4].
Porém, ao analisar melhor outras traduções da bíblia (inclusive o grego
original), bem como o contexto direto (vs 1 a 4), veremos exatamente o
que Paulo afirma: “Não tenho necessidade de escrever-lhes a respeito
dessa assistência aos santos. Reconheço a sua disposição em ajudar e já
mostrei aos macedônios o orgulho que tenho de vocês, dizendo-lhes que,
desde o ano passado, vocês da Acaia estavam prontos a contribuir; e a
dedicação de vocês motivou a muitos. Contudo, estou enviando os irmãos
para que o orgulho que temos de vocês a esse respeito não seja em vão,
mas que vocês estejam preparados, como eu disse que estariam, a fim de
que, se alguns macedônios forem comigo e os encontrarem despreparados,
nós, para não mencionar vocês, não fiquemos envergonhados por tanta confiança que tivemos.”(NVI, grifo meu)
Portanto, concluímos facilmente duas coisas: primeiro, que não se deve
fazer uma exegese profunda em um texto bíblico considerando somente uma
tradução da bíblia; segundo, que a passagem em si não há, absolutamente,
nada de super sobrenatural como Silas afirma, mas a passagem narra a
demonstração de confiança e orgulho que Paulo tinha pelos crentes de
Corinto, na certeza dos mesmos ajudarem através das ofertas os irmãos
pobres da Judéia, conforme fizeram os irmãos da Macedônia.
Mais um erro teológico de Silas: Ele cita, estranhamente de forma fragmentada parte de 2Co 9.5, onde diz “...e preparassem de antemão a vossa bênção” [negrito meu], afirmando que a palavra “benção”
nesta passagem significa “um meio de receber favor Divino e meio de
felicidade”. Ou seja, segundo Silas, em resposta a oferta haverá uma
ação direta de Deus em abençoar os ofertantes! Isto é uma distorção
forçada do texto, pois no contexto direto a palavra benção está
direcionada a uma ação direta dos ofertantes aos que receberiam as
ofertas! Embora reconheça que Deus pode, segundo a vontade Dele,
abençoar a vida
financeira de quem ajuda, não é o que este versículo em si afirma. Os
“abençoados” são os que recebem as ofertas e não os que ofertam!
Veja a mesma passagem em outra tradução: “...concluam os preparativos para a contribuição que vocês prometeram. Então ela estará pronta como oferta generosa, e não como algo dado com avareza.” (NVI, negrito meu) No original grego, a palavra utilizada é eulogia (benção), empregada neste contexto como "generosidade" [5]. Lembrando que o significado da palavra “benção” é variável, no caso desta passagem se enquadra na definição de “expressão ou gesto com que se abençoa. Benefício, favor especial.” [6]
Continuando, Silas cita 2Co 9.10 “Ora, aquele que dá a semente ao que
semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e
aumentará os frutos da vossa justiça”, afirmando que Deus nos dá a
semente para ofertar. Está correto! Afinal, Deus é o provedor de tudo, o
homem não dá do que é propriamente seu, e sim daquilo que Deus lhe tem
dado (veja At 17.25). Mas, para quê serve esta semente que Deus nos dá?
Para sustentar ministérios milionários de tele-pastores que cada vez
mais ficam ricos para esbanjar “prosperidade”, em troca de uma suposta
benção financeira sobrenatural? Não!
A semente que provém de Deus é para ajudar os pobres da igreja para que
todos sejam abençoados e Deus seja glorificado! Veja o contexto direto
no versículo 9: “Como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre”
(ACF, negrito meu), uma citação que Paulo faz de Salmos 112.9 para
mostrar que a generosidade à quem precisa é característica de todo
Cristão. Deus abençoa a nossa vida para “aumentar os frutos da nossa justiça”(vs9), para “toda a generosidade”(vs11) e para “suprir as necessidades dos santos”
(vs10). Ou seja, Deus pode, segundo a vontade Dele, prover em nossas
vidas quando ajudamos os pobres da Igreja, principalmente para aumentar a
possibilidade desta ajuda continuar cada vez mais: “Nisto conhecemos
o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida
pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu
irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode
permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo 3.16-17, ARA)
Mais um erro de Silas: Ele cita parte do VS 12 “...porque a administração deste serviço”, para afirmar que a oferta é um serviço para Deus. Logo em seguida, ele cita 1Co 15.58 que diz “que o nosso trabalho não é em vão” para afirmar que, se é um trabalho, Deus vai recompensar. Ainda cita Jr 21.14 que diz “o Senhor recompensará a cada um segundo o fruto das tuas ações”.
E termina afirmando que: “se a oferta é um serviço para Deus, Ele vai
nos recompensar da mesma forma que alguém trabalha e tem que receber
salário.”
Errado Pr. Silas! O contexto de 1Co 15.58 em nenhum momento é
formalizado um contrato de trabalho entre nós e Deus com promessa de
honorários financeiros, muito pelo contrário, fala da esperança que os
Coríntios deveriam ter no dia da ressurreição para continuarem
perseverando na fé, mesmo sob ensinos falsos e várias tentações, sabendo
que os esforços para o serviço à Deus nunca será em vão (veja Is
65:17-25).
Segue o contexto direto da passagem em questão: “Isto afirmo, irmãos,
que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a
corrupção herdar a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: nem todos
dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e
fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os
mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque
é necessário que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E,
quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que
é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que
está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a
tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o
pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a
vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus
amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do
Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” [1Co 15.50-58, ACF, negrito meu].
E sobre Jeremias 21.14, veja o que diz: “Eu vos castigarei segundo o
fruto das vossas ações, diz o SENHOR; e acenderei o fogo no seu bosque,
que consumirá a tudo o que está em redor dela.” (ACF) O texto fala de castigo e não de recompensa financeira! Que distorção bíblica grosseira Pastor Silas!
Dando continuidade na análise do vídeo, Silas agora discorre para os
resultados na vida de um ofertante. Logo de cara ele afirma que “Deus
trabalha com a lei da recompensa”. Para tal afirmativa, ainda divide
esta lei em “5 leis que funcionam na vida de um ofertante”. Chamo a
atenção para algo gravíssimo: colocar a condição de lei para Deus é
neutralizar a onisciência Dele! É afirmar que Deus trabalha somente em
troca do nosso dinheiro! Afinal, se temos que cumprir esta lei, Deus
também tem o dever de cumpri-la. Estaria Deus amarrado em uma condição
humana?
Para a 1ª lei, Silas utiliza 2Co 9.6 afirmando a “lei da semeadura”: “E digo isto: o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará.”
Esta passagem está em conexão com todo o contexto direto, no qual já
tratamos nesse artigo (veja explicação acima sobre os versos 9 e 10).
Se esta suposta lei da semeadura financeira funcionasse como Silas
afirma, porque existem cristãos pobres que precisam de ajuda da própria
Igreja? Falta de fé para ofertar o que não tem? Porque então Paulo
organizou esta coleta de ofertas aos Pobres da Judeia, ao invés de fazer
um desafio financeiro para eles serem abençoados com a lei da
semeadura? Inclusive o próprio Paulo passou por muitas necessidades ( Fp
4.10-20, 2Co 11.27). Porque Jesus se fez pobre durante seu ministério
na terra (2 Co 8.9) não tendo sequer aonde reclinar a cabeça (Mt 8.20)?
Porque Jesus também disse que dificilmente entraria um rico no reino dos
Céus (Mt 19.23-24), e ainda disse para não juntar tesouros na terra,
mas no Céu (Mt 6.19-24)? Estaria Paulo pregando uma teologia contrária à
Bíblia e entrando em contradição consigo próprio? Claro que não! A
teologia contrária a Bíblia é a que Silas Malafaia tenta defender sem
êxito.
Paulo cita esta metáfora baseada na vida agrícola para mostrar que,
aquilo que é doado nunca se perde, é semeado. Embora Deus, às vezes,
proveja uma colheita generosa no terreno físico, principalmente para
aumentar as possibilidades de ajuda aos pobres da Igreja, esse não é o
padrão e nem é a promessa do Novo Testamento, muito pelo contrário,
veja: 2 Co 8:9, 11:27, Lc 6:20-21, 24:25, Tg 2:5.
Tentando justificar a demora na “colheita” de muitos, Silas ainda faz
uma analogia entre o tempo de cumprimento da “lei da semeadura” com as
sementes de frutas naturais. Dentre várias frutas, ele cita tamarindo,
uma fruta que demora até 60 anos para começar a dar frutos. Com isso,
ele justifica que pode demorar muito para alguém receber o pagamento da
tal “lei da semeadura”. Ou seja, o que você ofertar, talvez nem receba
de Deus nesta vida. Na verdade, trata-se da famosa "desculpa espiritual"
dos adeptos da teologia da prosperidade para os que não receberam a sua
colheita, mesmo depois de ofertar. Engraçado que na hora dos desafios
televisivos é exaustivamente enfatizado que Deus vai nos abençoar, que
vamos colher cem vezes mais, que vamos ter uma vida próspera, que vamos
pagar nossas contas e ter prosperidade em abundância etc.
Na 2ª lei, Silas cita 2 Co9.7 onde diz “...porque Deus ama a quem dá com alegria”,
o que seria a “lei do amor de Deus sobre o ofertante”. Logo após, solta
uma pérola histórica: “você não vê Deus usando essa palavra de amor pra
salvação” E ainda pede para avisá-lo se alguém souber de outra passagem
bíblica que utiliza esta expressão de amor de Deus, pois ele não sabe
de tudo da Bíblia.
Sinceramente, alguém que faz tal afirmação deixa-me mais desconfiado
ainda do quanto a pessoa é desprovida de conhecimento Bíblico, veja: Jo
3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (negrito meu) Leia também 1Jo 4.9 e Rm 5.8.
A 3ª lei, segundo Silas, consta no versículo 8, onde diz: “Deus pode
fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo,
ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra,”(ARA) o que seria
a “lei total do favor de Deus, a graça”. Silas afirma – corretamente –
que a graça é o favor imerecido, benevolente e amoroso de Deus para o
homem. Mas comete um erro gravíssimo afirmando que “a oferta chama a
graça de Deus para nós”. Ora, se a graça é um favor imerecido, como pode
ser merecido ao mesmo tempo?
Para piorar, segundo este pensamento Silas afirma que através da oferta
nós podemos obter soluções de problemas emocionais, curas e soluções de
problemas financeiros. Enfim, erros gravíssimos e infantis que nem um
aluno novo de Escola Bíblica dominical confunde.
O versículo em questão não dá margem para esta interpretação incorreta.
No verso 8 diz que Deus pode nos abençoar para sermos um instrumento de
sua graça, fazendo que tenhamos o suficiente para continuar ajudando os
pobres. Quando os santos carentes recebem uma generosa doação de outros
crentes, eles reconhecem que Deus é a fonte da generosidade,
reconhecendo o dom inefável de Deus (vs 15). E assim eles respondem com
ações de graças e louvor a Deus por Sua graça em suas vidas (v. 11). E
isto acontece segundo a vontade Dele e não por nosso merecimento. Nós
não merecemos e nunca vamos merecer a graça Dele, é Ele quem nos ama e
nos concede a sua graça, segundo o Seu querer.
A 4ª lei que Silas cita, segundo 2Co 9.9 é a “lei da multiplicação”, que
na verdade é o mesmo que a “lei da semeadura”. Ou seja, a refutação
para a 1ª lei serve para esta 4ª lei também.
Enfim, a 5ª lei. Silas cita o verso 11 que diz “para que tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus”, para fundamentar a “lei da abundância”. Com isso, Silas afirma que Deus é um Deus de sobra, sem mesquinharia.
Obviamente, ele utiliza este argumento para justificar a suposta
abundância da teologia da prosperidade. Mas, ao contrário que ele
afirma, o que esta passagem mostra é que, quando Deus nos dá uma
provisão financeira, mesmo sendo com sobras, não é para o proveito
próprio, e sim para ser usada em generosidade aos necessitados, para a
glória de Deus. O versículo é claro quando afirma “...para toda a beneficência”(ACF), “para toda generosidade”(ARA). Veja como viviam os convertidos naquela época: “Todos
os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas
propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que
alguém tinha necessidade.” (At 2.44-45, ARA) Este conceito de abundância financeira é, de fato, o mais claro sinal de avareza na vida de alguém: “Tende
cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um
homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Mt 12.15, ARA)
Silas ainda cita exemplos do que aconteceu com Adão e Eva no jardim do
Éden e a prosperidade de Abraão para afirmar que Deus fará o mesmo com
quem ofertar. Isto é um absurdo! Afinal, estes são casos isolados em que
Deus agiu com um propósito específico e exclusivo para cumprir os seus
planos! Por exemplo: não é porque Deus sustentou o povo no deserto
enviando o maná dos céus (Ex 16:35) que ele fará o mesmo hoje da mesma
forma conosco. Vai deixar de trabalhar esperando o maná para ver o que
acontece!
Para terminar, mostro na Bíblia a verdadeira prosperidade para o Cristão:
"Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários". (2Co 8.1-3).
Antigamente, Silas Malafaia concordava que esta passagem nos mostra a
verdadeira prosperidade bíblica, veja o que ele disse muitos anos atrás:
"Os pobres da Macedônia dividiram o pouco que tinham com os pobres
da Judeia. Isto é prosperidade. Prosperidade é você compartilhar com o
outro... é viver bem com aquilo que Deus tem te dado... é mesmo você
tendo pouco, você ainda tem forças e capacidade de ajudar alguém que
está pior do que você." [7]
Fico na esperança de que esse artigo sirva de alerta para todos aqueles
que ainda acreditam na teologia da prosperidade, onde infelizmente nos
últimos anos muita gente se corrompeu, contaminando-se nas heresias
importadas da teologia de Mamon.
Espero de coração que Silas Malafaia se arrependa verdadeiramente,
voltando ao evangelho puro e verdadeiro. Não existe nada mais nobre para
um Cristão do que assumir sua condição de pecador e humildemente
reconhecer os seus erros para nunca mais praticá-los.
Soli Deo Gloria!
Ruy Marinho
Fonte: [ Bereianos ]
Notas:
1 – Vídeo onde Silas Malafaia faz o desafio aos blogueiros e sites de notícias com palavras ofensivas: Clique aqui p/ ver!
2 – Idem.
3 – Como a teologia de Malafaia mudou radicalmente em alguns anos: Clique aqui p/ ver!
4 – A Almeida Corrigida e Fiel é baseada no Textus Receptus
(ou texto majoritário), onde a interpretação bíblica segue o método de
equivalência formal (literal-gramatical-histórico) das palavras nos
originais da Bíblia. Sendo assim, há muitas palavras de difícil
entendimento devido à literalidade da tradução. Neste caso, é necessária
a análise do contexto direto para um claro entendimento, bem como a
leitura de outras versões da bíblia em paralelo. Para mais informações, veja aqui.
5 - GINGRICH, F. W.; DANKER, F. W. Léxico do N.T. grego/português. São Paulo: Vida Nova, 2003. pág. 88.
7 - Idem a nota 3.
.
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