A necessidade da oração.
>> quarta-feira, 20 de março de 2013
A questão que surge é: Se Deus sabe todas as coisas, por que então orar? Calvino responde:
"...os que argumentam desse modo não vêem a que fim o Senhor instituiu a oração para os Seus. Porque não a estabeleceu por Sua causa, mas em atenção a nós. Porque, embora Ele esteja sempre em vigilância e faça constantemente a ronda para nos preservar, mesmo quando somos tão tolos e obtusos que não percebemos os males que nos rodeiam, e embora por vezes Ele nos dê socorro antes de ser invocado, todavia nos é necessário suplicá-lo constantemente." [1]
Portanto, devemos orar:
1 - "A
fim de que o nosso coração seja inflamado de um veemente e ardente
desejo de buscar, amar e honrar sempre a Deus, o que nos fará
habituar-nos a ter nele o nosso refúgio em todas as necessidades, como o
único porto de salvação". [2] Assim que as tentações nos assaltarem,
que oremos sempre para que Deus faça a luz de sua verdade resplandecer
sobre nós, a fim de que, recorrendo a invenções pecaminosas, não nos
desviemos e perambulemos por desvios e caminhos proibidos." [3]
2 - "A
fim de que o nosso coração seja tocado de algum desejo, que nem sempre
Lhe ousamos confessar de imediato, como quando expomos diante dos Seus
olhos todo o nosso afeto e, por assim dizer, desenrolamos e abrimos todo
o nosso coração perante Ele." [4]
3 - "A
fim de que sejamos habilitados a receber Suas bênçãos com verdadeiro
reconhecimento e ação de graças, visto que pela oração somos advertidos
de que elas nos vêm da Sua mão." [5]
4 - Além
desses motivos, este: "A fim de que, tendo obtido o que pedimos,
tenhamos em consideração o fato de que Ele nos atendeu e, por isso,
sejamos incitados a meditar mais ardorosamente em Sua benignidade. E
também tenhamos mais prazer em gozar os benefícios que Ele nos faz,
tendo em mente que os obtivemos por meio das nossas orações. Finalmente,
fim de que a Sua providência seja confirmada e aprovada em nosso
coração, na medida da nossa pequena capacidade, sendo que nós vemos que
Ele não somente promete jamais abandonar-nos, mas também nos dá acesso
para buscá-lo e Lhe fazer súplicas quando há necessidade." [6]
De forma
figurada, Calvino diz que "o coração de Deus é um 'Santo dos Santos',
inacessível a todos os homens", e é o Espírito quem nos conduz a ele.
Ele entendia que "com a oração encontramos e desenterramos os tesouros
que se mostram e descobrem à nossa fé pelo Evangelho" [7], e que "a
oração é um dever compulsório de todos os dias e de todos os momentos de
nossa vida". [8] Mais: "Os crentes genuínos, quando confiam em Deus,
não se tornam por essa conta negligentes à oração". [9] "A oração tem
primazia na adoração e no serviço a Deus". [10] Daí o conselho: "A não
ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente
negligenciaremos a prática". [11] No entanto, devemos ter sempre
presente que é o Espírito "Quem deve prescrever a forma de nossas
orações." [12] "Agora, quando é necessário, e de quantas maneiras o
exercício da oração é útil para nós, não se pode explicar
satisfatoriamente com palavras." [13]
__________________
Notas:
[1] - As Institutas (1541), III .9.
[2] - Idem
[3] - O Livro dos Salmos, vol. 1, p. 542.
[4] - As Institutas (1541), III.9.
[5] - Idem
[6] - Idem
[7] - As Institutas (1541), III.20.2.
[8] - O Livro dos Salmos, vol.2, p. 410.
[9] - Idem, vol. 1, p. 633. Cf. tb. As Institutas, III.20.1.
[10] - O Profeta Daniel: 1-6, vol. 1, p. 371.
[11] - Idem, p. 375.
[12] - Exposição de Romanos, p. 291.
[13] - As Institutas (1541), III.9.
Fonte: Rev. Hermisten Maia - Fundamentos da Teologia Reformada, Editora Mundo Cristão, pags. 124-126.
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