O sinergismo e o "senhor" acaso
>> terça-feira, 15 de maio de 2012
Eu tenho tentado evitar de ficar sempre comentando sobre esses assuntos, porque apesar de ter plena convicção sobre o monergismo, sei que predestinação ou livre-arbítrio não são a essência do evangelho, porém sei que não há como ignorarmos isso, pois toda a "teologia" é dependente da forma como a pessoa interpreta e crê a respeito da Salvação..
Então
minha idéia com essa postagem é só de apresentar uma conclusão à qual
cheguei e com isso complementar minhas postagens anteriores sobre "o efeito-borboleta, o determinismo e a viagem no tempo", tanto que eu comecei a escrever esse artigo logo na seqüência, mas só agora continuei e finalizei..
DEFINIÇÕES:
Monergismo significa na teologia cristã a teoria de que o Espírito Santo sozinho pode atuar num ser humano e propiciar a conversão.
Sinergismo significa na teologia cristã a teoria de que o homem tem algum grau de participação na salvação, ou seja, é responsável pela sua salvação ou perdição.
Acaso é algo que surge ou acontece a esmo, sem motivo ou explicação aparente. A palavra acaso tem três sentidos diferentes, que dependem do sentido que se dá à palavra causa:
- Algo que acontece sem finalidade ou sem objetivo, isto é, algo sem causa final. Neste sentido, o acaso, filosoficamente entendido, se opõe à teleologia.
- Algo que acontece sem ser consequência de algo passado, ou seja, efeito que não se explica por uma determinação precedente. Neste sentido, o acaso, filosoficamente entendido, se opõe ao pré-determinismo.
- Algo que acontece sem ser explicado por nenhuma relação com outra(s) coisa(s), nem simultânea(s) nem precedente(s), isto é, sem qualquer determinação. Neste sentido, o acaso, filosoficamente entendido, se opõe ao determinismo.
(Informações extraídas da Wikipedia)
Bom,
o sinergismo diz que de alguma forma cada indivíduo participa de sua
própria salvação, e aqui vou tratar de umas poucas visões diferentes
dentro do sinergismo..
Há a visão pelagiana que dizia que os seres humanos não sofrem com as conseqüências do pecado de Adão, sendo cada indivíduo não é naturalmente pecador, e sim livre em suas escolhas a ponto de ser capaz de obter sua própria salvação.. Essa visão não merece crédito, considerando que a bíblia diz que a salvação é algo impossível para o ser humano. (Mateus 19:25-26).
Há a visão arminiana, que diz que o homem é naturalmente pecador, mas que pela graça de Deus E SUA OPÇÃO PESSOAL DE NÃO RESISTIR A ELA é que ele pode ser salvo, e que a pessoa pode ou não se manter nessa condição de "salva" de acordo com suas atitudes. Essa é a visão mais comum entre os evangélicos, apesar de ter sido considerada heresia pelo Sínodo de Dort no passado.
Já a visão molinista é
ao meu ver a mais racional dentre as sinergistas, porém da mesma forma
anti-bíblica. Essa visão foi criada justamente para se opôr à visão
calvinista, pelo jesuíta Luis de Molina e sugere que a predestinação é
baseada na presciência, ou seja, a Salvação somente é oferecida (e
concretizada) àqueles que Deus já sabia pela presciência que escolheriam
natural e voluntariamente aceitá-la. Desta forma, as pessoas que morrem
sem conhecer a Cristo são aquelas que, segundo essa doutrina, não
dariam ouvidos à mensagem e portanto Deus não levou a mensagem até
elas..
Enfim, todas elas de alguma forma assumem que o ser humano participa de sua própria salvação, são sinergistas, não aceitam a idéia que a salvação não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus (Romanos 9:16) e que Ele tem o direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso. (Romanos 9:21).
Aliás, até afirmam a Soberania de Deus, mas ao se defrontarem com textos como esses acima precisam fazer malabarismos e com isso logicamente negar o que afirmaram antes..
Mas não é sobre isso que eu quero postar, e sim sobre a necessidade dos sinergistas em crer no acaso..
Sim, não há como fugirem da crença no acaso, já que, mesmo que nem saibam disso, precisam acreditar que o ser humano é independente de Deus..
Para crer que a eleição é baseada na presciência ao invés de na predestinação, os sinergistas precisam crer que esse ser humano é totalmente responsável por suas escolhas (o que o monergismo não nega) mas além disso precisam afirmar que essas escolhas não foram decretadas por Deus, e são sim fruto da liberdade humana.
Quer dizer, pro ser humano ser realmente livre em suas escolhas a ponto de não estar realizando justamente o que Deus decretou, esse ser humano precisa ser totalmente livre de qualquer influência cuja causa primária seja Deus..
Não deu pra entender?? Então vamos lá..
Pra eu dizer que eu escolhi livremente algo seria necessário crer que NADA me influenciou a isso..
Por exemplo, arminianos dizem que a pessoa precisa aceitar a Jesus para ser salva. Aí eu pergunto: "O que faz com que uma pessoa aceite e outra rejeite??" e eles geralmente vão dizer "Isso acontece devido ao livre-arbítrio da pessoa"..
Certo, mas e a resposta da minha pergunta?? rs
O Livre-arbítrio (conforme é pregado) é nada em si mesmo, algo abstrato, um conceito somente.. Um conceito não responde minha pergunta sem que as conseqüências sejam expostas..
Pensem comigo: Se é o livre-arbítrio que faz com que uma pessoa negue a Cristo e outra o aceite, então é o livre-arbítrio que condena uma pessoa e salva a outra..
Alguns podem ler isso e não encontrar problema algum na afirmação, mas e aí como poderiam dizer que a Salvação é pela Graça (Efésios 2:8-9; Romanos 11:6) se é o livre-arbítrio que vai determinar quem é salvo e quem não é??
Se no fim das contas é o livre-arbítrio individual que determina o destino da pessoa, então ela se torna refém dele.
Não há como fugir disso a não ser que se creia que é a própria pessoa que "constrói", desenvolve e executa seu arbítrio sem qualquer tipo de influência e interação de todo o "meio" que a cerca, inclusive de Deus..
É.., para haver uma real liberdade de ações e um arbítrio sem qualquer tendência, o ser humano não pode de forma alguma ser influenciado..
Certo, mas indo diretamente ao ponto, no que isso implica??
Bom, implica em dizer que, para afirmarmos que existe esse livre-arbítrio humano, precisamos considerar que Deus não determinou coisa alguma em relação à pessoa para que isso não interferisse na sua liberdade..
Seria como se, na "criação de uma pessoa" Deus girasse uma ou mais "roletas cósmicas" que haveriam de determinar as características particulares dessa pessoa.. O resultado poderia até ser conhecido por Deus antes mesmo de girá-las, mas as roletas em si não estariam "viciadas", estariam realmente gerando as características "ao acaso"..
Sim, teria que ser desta forma, pois a partir daí Deus daria porções idênticas de Sua Graça a todos, mas uns rejeitariam e outros aceitariam justamente devido a essas características particulares que nem mesmo Deus pode desrespeitar..
É uma bela maneira de "limpar a barra" de Deus dizendo que a condenação é culpa inteiramente do ser humano por rejeitá-Lo, sendo que Ele deu as mesmas chances a todos, e com isso achar a relação ideal entre "soberania divina (limitada)" e "responsabilidade humana".
Será??
Considerando essa argumentação com certeza não há como negar que Deus "fez a Sua parte", mas que foi o homem que decidiu se salvar ou ser condenado.. Só que Quem foi que concedeu esse "livre"-arbítrio ao homem, que pode condená-lo ou salvá-lo??
E se essa particularidade já nasce com o indivíduo, então não é uma negação do próprio livre-arbítrio?? =S
Quero dizer, se as minhas preferências são realmente particulares e livres desde que eu nasci (ou talvez ainda antes), então não é óbvio que elas não foram escolhidas por mim??
Com isso eu percebo que para crer em um arbítrio que é "livre" por estar isento de determinação, eu precisaria crer num "acaso absoluto" (tipo um ateísmo), já que qualquer ação divina já estaria influenciando de alguma forma o "resultado", e mesmo assim isso resultaria em determinismo, já que minhas escolhas "livres" não passariam de "determinações do acaso"..
Para ter um livre-arbítrio pleno o ser humano precisaria então ter total independência de tudo à sua volta, a ponto de produzir por conta própria todo seu conhecimento de forma imparcial e somente seguir as tendências comportamentais que ele mesmo escolher baseado naquilo que ele mesmo criou.
Resumindo: Teria que ser Deus..
Claro que os sinergistas não chegam a esse extremo, mas somente por serem ilógicos e afirmarem coisas que nem eles acreditam na prática.. Acabam ficando num meio termo entre determinismo e liberdade, e transformam tudo isso em um mistério que, infelizmente nega o "Sola Gratia" e prega algum tipo de "Solo Mysterium"..
Ou seja, ou cremos que a Salvação é realmente SOMENTE pela Graça de Deus ou precisaremos "agradecer ao acaso" pela "sorte grande".
Há a visão pelagiana que dizia que os seres humanos não sofrem com as conseqüências do pecado de Adão, sendo cada indivíduo não é naturalmente pecador, e sim livre em suas escolhas a ponto de ser capaz de obter sua própria salvação.. Essa visão não merece crédito, considerando que a bíblia diz que a salvação é algo impossível para o ser humano. (Mateus 19:25-26).
Há a visão arminiana, que diz que o homem é naturalmente pecador, mas que pela graça de Deus E SUA OPÇÃO PESSOAL DE NÃO RESISTIR A ELA é que ele pode ser salvo, e que a pessoa pode ou não se manter nessa condição de "salva" de acordo com suas atitudes. Essa é a visão mais comum entre os evangélicos, apesar de ter sido considerada heresia pelo Sínodo de Dort no passado.
Luis de Molina |
Enfim, todas elas de alguma forma assumem que o ser humano participa de sua própria salvação, são sinergistas, não aceitam a idéia que a salvação não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus (Romanos 9:16) e que Ele tem o direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso. (Romanos 9:21).
Aliás, até afirmam a Soberania de Deus, mas ao se defrontarem com textos como esses acima precisam fazer malabarismos e com isso logicamente negar o que afirmaram antes..
Mas não é sobre isso que eu quero postar, e sim sobre a necessidade dos sinergistas em crer no acaso..
Sim, não há como fugirem da crença no acaso, já que, mesmo que nem saibam disso, precisam acreditar que o ser humano é independente de Deus..
Para crer que a eleição é baseada na presciência ao invés de na predestinação, os sinergistas precisam crer que esse ser humano é totalmente responsável por suas escolhas (o que o monergismo não nega) mas além disso precisam afirmar que essas escolhas não foram decretadas por Deus, e são sim fruto da liberdade humana.
Quer dizer, pro ser humano ser realmente livre em suas escolhas a ponto de não estar realizando justamente o que Deus decretou, esse ser humano precisa ser totalmente livre de qualquer influência cuja causa primária seja Deus..
Não deu pra entender?? Então vamos lá..
Pra eu dizer que eu escolhi livremente algo seria necessário crer que NADA me influenciou a isso..
Por exemplo, arminianos dizem que a pessoa precisa aceitar a Jesus para ser salva. Aí eu pergunto: "O que faz com que uma pessoa aceite e outra rejeite??" e eles geralmente vão dizer "Isso acontece devido ao livre-arbítrio da pessoa"..
Certo, mas e a resposta da minha pergunta?? rs
O Livre-arbítrio (conforme é pregado) é nada em si mesmo, algo abstrato, um conceito somente.. Um conceito não responde minha pergunta sem que as conseqüências sejam expostas..
Pensem comigo: Se é o livre-arbítrio que faz com que uma pessoa negue a Cristo e outra o aceite, então é o livre-arbítrio que condena uma pessoa e salva a outra..
Alguns podem ler isso e não encontrar problema algum na afirmação, mas e aí como poderiam dizer que a Salvação é pela Graça (Efésios 2:8-9; Romanos 11:6) se é o livre-arbítrio que vai determinar quem é salvo e quem não é??
Se no fim das contas é o livre-arbítrio individual que determina o destino da pessoa, então ela se torna refém dele.
Não há como fugir disso a não ser que se creia que é a própria pessoa que "constrói", desenvolve e executa seu arbítrio sem qualquer tipo de influência e interação de todo o "meio" que a cerca, inclusive de Deus..
É.., para haver uma real liberdade de ações e um arbítrio sem qualquer tendência, o ser humano não pode de forma alguma ser influenciado..
Certo, mas indo diretamente ao ponto, no que isso implica??
Bom, implica em dizer que, para afirmarmos que existe esse livre-arbítrio humano, precisamos considerar que Deus não determinou coisa alguma em relação à pessoa para que isso não interferisse na sua liberdade..
Seria como se, na "criação de uma pessoa" Deus girasse uma ou mais "roletas cósmicas" que haveriam de determinar as características particulares dessa pessoa.. O resultado poderia até ser conhecido por Deus antes mesmo de girá-las, mas as roletas em si não estariam "viciadas", estariam realmente gerando as características "ao acaso"..
Sim, teria que ser desta forma, pois a partir daí Deus daria porções idênticas de Sua Graça a todos, mas uns rejeitariam e outros aceitariam justamente devido a essas características particulares que nem mesmo Deus pode desrespeitar..
É uma bela maneira de "limpar a barra" de Deus dizendo que a condenação é culpa inteiramente do ser humano por rejeitá-Lo, sendo que Ele deu as mesmas chances a todos, e com isso achar a relação ideal entre "soberania divina (limitada)" e "responsabilidade humana".
Será??
Considerando essa argumentação com certeza não há como negar que Deus "fez a Sua parte", mas que foi o homem que decidiu se salvar ou ser condenado.. Só que Quem foi que concedeu esse "livre"-arbítrio ao homem, que pode condená-lo ou salvá-lo??
E se essa particularidade já nasce com o indivíduo, então não é uma negação do próprio livre-arbítrio?? =S
Quero dizer, se as minhas preferências são realmente particulares e livres desde que eu nasci (ou talvez ainda antes), então não é óbvio que elas não foram escolhidas por mim??
Com isso eu percebo que para crer em um arbítrio que é "livre" por estar isento de determinação, eu precisaria crer num "acaso absoluto" (tipo um ateísmo), já que qualquer ação divina já estaria influenciando de alguma forma o "resultado", e mesmo assim isso resultaria em determinismo, já que minhas escolhas "livres" não passariam de "determinações do acaso"..
Para ter um livre-arbítrio pleno o ser humano precisaria então ter total independência de tudo à sua volta, a ponto de produzir por conta própria todo seu conhecimento de forma imparcial e somente seguir as tendências comportamentais que ele mesmo escolher baseado naquilo que ele mesmo criou.
Resumindo: Teria que ser Deus..
Claro que os sinergistas não chegam a esse extremo, mas somente por serem ilógicos e afirmarem coisas que nem eles acreditam na prática.. Acabam ficando num meio termo entre determinismo e liberdade, e transformam tudo isso em um mistério que, infelizmente nega o "Sola Gratia" e prega algum tipo de "Solo Mysterium"..
Ou seja, ou cremos que a Salvação é realmente SOMENTE pela Graça de Deus ou precisaremos "agradecer ao acaso" pela "sorte grande".
Fonte: Barrabas Livre
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