Os erros dos clichês cristãos pós-modernos
>> segunda-feira, 14 de maio de 2012
Por Maurício Zágzri
Vivemos
a era das frases curtas. De repente a nossa fé pulou no imaginário de
uma enorme parcela da Igreja brasileira da Bíblia e dos livros para
adesivos de automóvel, 140 caracteres do twitter, fotos com frasezinhas
do Facebook, slideshows no YouTube, blogs com três ou quatro parágrafos.
Preguiçosos que somos, passamos a ser governados por teologia fast food
em vez de por leituras com introdução, desenvolvimento e conclusão. Ao
longo de algum tempo, fiz uma coletânea de clichês gospel que ouço
pelos arraiais evangélicos (das igrejas organizadas aos desigrejados)
para que possamos comentar cada um. Leia e veja se você já não ouviu
essas frases serem repetidas montes de vezes - sem que aqueles que as
falam tenham gasto cinco minutos refletindo sobre seu significado. Vamos
analisá-los biblicamente e historicamente:
- "Eu declaro/decreto a bênção"
- Bênçãos são benefícios vindos unilateralmente de Deus e por decisão
soberana dEle. Ninguém pode declarar ou decretar uma bênção, pois está
fazendo aquilo que só o Senhor pode fazer. Quem o faz toma o lugar de
Deus e, portanto, pratica idolatria. Sem falar que essa afirmação, fruto
da chamada "Confissão Positiva", tem raízes em religiões demoníacas de
Nova Era (saiba mais sobre isso no post Demonologia da Prosperidade).
- "Eu tomo posse da bênção"
- "tomar posse" significa literalmente se apossar de algo que não é
seu. Quem "toma posse" é um posseiro, ou seja, alguém que invadiu um
local que não lhe pertence e impõe pela força e presença o domínio sobre
o que é dos outros. Como vimos acima, bênção é um benefício outorgado
por Deus, por sua soberania. Quem quer "tomar posse" de uma bênção está
dizendo, em outras palavras, que vai arrancar do Senhor na marra aquilo
que quer para si e que só receberia se fosse concedido pelo
Todo-Poderoso. Logo, essa frase, (cunhada com base no Antigo Testamento,
quando o povo de Israel entrou na Terra Prometida e teve de "tomar
posse" dela na base da briga, visto que era habitada por outros povos) é
uma afronta à vontade soberana de Deus, que concede bênçãos a cada um
conforme lhe apraz e não porque as tomamos dele à força.
- "Tá amarrado"
- parte do princípio de que podemos atar demônios com amarras
espirituais. Não existe tal expressão na Bíblia e o que as Escrituras
nos ensinam a fazer com os demônios é expulsá-los imediatamente quando
se manifestam, e não amarrá-los. Não vemos nenhum exemplo bíblico de
Jesus ou os apóstolos "amarrando" demônios. O padrão bíblico é: "Cala-te
e sai". Jesus não perdia tempo dialogando com demônios, apenas os
mandava ficar quietos e então os expulsava. O único episódio de
possessão em que Jesus vai além do "cala-te e sai" é o do gadareno. E,
mesmo assim, a ordem de Cristo não é amarrar ninguém, mas sair na hora
da pobre alma atormentada.
- "Temos que voltar ao modelo da Igreja primitiva"
- se fizermos isso, estamos lascados. A Igreja primitiva, ao contrário
do que existe no imaginário popular cristão, estava a anos-luz da
perfeição. Em Atos lemos casos como os de Ananias e Safira,
discordâncias com os judaizantes, brigas internas entre crentes como
Paulo e Pedro, duplas missionárias sendo divididas por discordâncias. A
esmagadora maioria das epístolas do NT foi escrita para consertar as
montanhas de erros que os primeiros cristãos cometiam. Na Ceia do Senhor
muitos iam só para matar a fome e os que levavam mais não dividiam com
quem não tinha posses. Se lemos as sete cartas às igrejas de Apocalipse
vemos como a maioria estava distante da vontade de Deus. Nos 313 anos em
que houve perseguição do Império Romano aos cristãos, surgiu o fenômeno
dos "lapsi", aqueles que, ao contrário dos mártires, negavam Jesus
perante as autoridades para salvar suas vidas - e não foram poucos os
que fizeram isso. Nas catacumbas, que eram essencialmente cemitérios
subterrâneos, os cristãos mais ricos tinham direito a sepulturas mais
luxuosas que os pobres e, muitas vezes, ganhavam câmaras inteiras
exclusvas para suas famílias. Havia muitos privilégios concedidos aos
abastados na Igreja primitiva.
Além
disso, a Igreja primitiva foi assolada por montes e montes de heresias
que surgiram em seu seio, como gnosticismo, sabelianismo, modalismo,
monofisismo, eutiquianismo, pelagianismo, marcionismo, ebionismo e
outros "ismos" que denunciam como ela era dividida, como havia
desacordos, divergências de visão e rachas. Tudo isso mostra que retomar
o modelo da Igreja primitiva não é viver um Evangelho puro e simples,
como muitos pensam, é voltar a uma época cheia de enormes poluições,
divisões, pecados e problemas no seio do Corpo de Cristo. Igualzinho aos
nossos dias.
- "Os primeiros cristãos se reuniam em lares e não em templos, por isso devemos voltar a esse modelo"
- os primeiros cristãos, aqueles cheios de imperfeições que vimos
acima, só se reuniam em lares por uma única razão: como por 313 anos o
cristianismo foi considerada uma religião criminosa pelo Império Romano,
qualquer um que se confessasse cristão tinha seus bens tomados, era
preso, torturado e morto. Por isso, o culto a Jesus tinha de ser feito
de modo escondido. O único lugar onde havia um mínimo de privacidade
eram os lares dos cristãos, que podiam simular uma visita social e ali
realizavam suas liturgias. Mas, com o Edito de Milão, no ano 313,
decreto que liberou a religião cristã, imediatamente os que se
ocultavam, ávidos por comungar com mais irmãos, começaram a erguer
templos onde pudessem se ajuntar e reverenciar o Senhor coletivamente.
Em pouco tempo, graças à liberdade religiosa, o culto em lares tinha
sido extinto.
Para
fazer um paralelo com nossos dias, é só ver o caso da China, por
exemplo, onde não se pode cultuar Jesus publicamente e por isso lá
existe a chamada "igreja subterrânea", ou seja, os irmãos são obrigados a
se reunir em pequenos grupos, nos porões de suas casas, para cultuar
Jesus em oculto. Se você perguntar a um membro desses grupos em lares se
eles preferem esse tipo de modelo ou se gostariam de ter templos onde
se reunir em maior quantidade e celebrar a liturgia da adoração com
muito mais irmãos (como eu já fiz, em entrevistas com membros da Igreja
subterrânea chinesa para reportagens que escrevi), verá que TODOS eles
dão preferência ao ajuntamento em santuários, onde poderiam comungar em
maior número, num local dedicado e visível, que servisse de referência
para os não cristãos em sofrimentos saberem que ali podem encontrar
ajuda. Uma reunião num lar dificilmente será encontrada por quem está
vivendo aflições que só Deus pode aliviar, o que não ocorre se você tem
um templo bem visível.
- "Jesus não criou uma religião"
- a palavra "religião" vem do latim "religare" e significa "ligar duas
partes separadas". Portanto, em sua essência, religião cristã é o
contato entre Cristo e o homem, é o "religare" entre o Pai e o filho.
Religião, assim, é relacionamento, é intimidade. Logo, quando ora você
pratica religião. Quando lê a Bíblia você pratica religião.
Etimologicamente, qualquer pessoa que se liga a Deus é um religioso sim
senhor, pois pratica o "religare". Portanto, ao ensinar a oração do Pai
Nosso, Jesus nos estava ensinando a ser religiosos, no sentido de
sabermos nos comunicar bem com o Pai. Quando ouvimos "pedis e nada
recebeis pois pedis mal", o que está sendo dito é "você está praticando
mal a sua religião". É claro que, como muitas palavras da língua
portuguesa (como "manga", que pode ser a fruta ou uma parte de uma
blusa), o termo "religião" pode ter o significado de "prática organizada
de uma fé", basta ver no dicionário. É a "famigerada" instituição. Em
geral é nessa acepção que a frase em questão é dita. Nesse sentido,
quando Jesus diz a Pedro que sobre Ele (a Pedra) seria erguida Sua
Igreja, o Mestre está estabecendo-se como o alicerce, o fundamento da fé
que se seguiria pelos milênios a seguir. Só que Ele em nenhuma passagem
da Bíblia especifica como o homem deveria manter o Corpo sobre esse
fundamento. Isso é uma decisão que Jesus deixou a cargo do homem. Fato é
que se Jesus nunca instituiu uma organização religiosa que o tivesse
como alicerce, também nunca proibiu. Repare que o que Jesus critica, por
exemplo, nos maus fariseus em momento algum é sua organização ou o fato
de cultuarem Deus de modo institucional, sua crítica a eles era uma
questão do indivíduo, do coração, e não da instituição: a hipocrisia, a
falsa aparência de piedade, a religiosidade aparente sem um "religare"
autêntico, sempre questões de foro pessoal e nunca institucional.
- "Jesus nunca construiu templos, por isso devemos nos reunir em lares"
- se Jesus nunca construiu templos, também nuca construiu casas. Por
esse argumento, se não devemos adorá-lo em templos institucionais também
não poderíamos adorá-lo em lares. Dá na mesma. A resposta e a solução
para essa pendenga de se podemos ou não cultuar Jesus em templos está em
duas passagens bíblicas. Em João 4.19ss, lemos o diálogo entre o Mestre
e a samaritana: "Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta.
Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em
Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes
crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém
adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já
chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é
espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em
verdade". Eis a primeira resposta: seja no templo, num lar, no monte ou
em Jerusalém, importa adorar em espírito e em verdade. Se é o que a
pessoa faz, não se pode condenar o local só porque Jesus nunca construiu
um edifício.
Temos
que lembrar que os discípulos adoraram muitas vezes o Senhor na cadeia.
E Jesus também nunca construiu uma cadeia. Outra passagem reveladora
que contradiz essa frase incoerente está nas palavras de Jesus relatadas
em Mateus 18.20: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, ali estou no meio deles". Se houver dois ou três reunidos em nome
de Jesus num templo de uma igreja institucional Ele ali não estará? Se
houver dois ou três reunidos em nome de Jesus num templo do tipo que
Jesus nunca ergueu Ele não se fará presente? A resposta é óbvia. Então o
fato de Jesus nunca ter construído um templo, uma igreja ou uma
catedral é absolutamente irrelevante, desde que haja ali dois ou três
reunidos em Seu nome e o adorando em espírito e em verdade. Quem perde
tempo combatendo isso e advogando furiosamente a reunião em lares só
está perdendo tempo.
- "Não cai uma folha da árvore se Deus não deixar"
- embora faça sentido biblicamente, visto que Deus é soberano e
controla tudo o que ocorre no universo, sejam fatos bons ou tragédias,
essa frase não está em nenhum lugar da Bíblia.
- "Sou cristão, não evangélico"
- essa frase é fruto da vergonha de ser designado pela mesma
nomenclatura de igrejas e pastores que têm enlameado o bom nome da
Igreja evangélica. Então, para evitar ser associados por amigos e
parentes a esses grupos, muitos têm optado por se dizer apenas
"cristãos" e repudiam enfaticamente o nome "evangélico". Mais do que
deixar de ser evangélicos, se tornam antievangélicos. Isso é nonsense,
pelo simples fato que não resolve nada. Os que enlameiam nosso nome
também se dizem "cristãos". Pela mesma lógica, deveríamos abandonar esse
termo também? A resposta é óbvia. Etimologicamente, "evangélico" é o
que segue o Evangelho de Jesus. Historicamente, "evangélico" é o que
segue o Evangelho conforme resgatado pela Reforma Protestante. Logo, se
você é cristão, professa o Evangelho de Cristo e coaduna com os cinco
"solas" da Reforma... você é evangélico, queira ou não. É uma
nomenclatura de 500 anos que define quem tem essas características.
Renegar isso é dizer que você não é o que você é. Portanto, em vez de
dizer "não sou o que sou, sou só cristão" por vergonha de ser associado a
igrejas e pastores dos quais se envergonha, o ideal é deixar claro para
os de fora que nós somos sim evangélicos, enquanto os que praticam
atrocidades em nome da fé é que não são.
Se
alguém faz piadinha pelo fato de você ser evangélico, em vez de mudar
sua nomenclatura aproveite a oportunidade e explique para o piadista a
razão de você portar esse honroso nome, fale que evangélico significa
"aquele que segue o Evangelho de Cristo conforme resgatado pelos
reformadores", explique por que os falsos cristãos não são evangélicos e
aproveite para explicar o que são as boas-novas da salvação do genuíno
Evangelho de Cristo. Assim, ser humilhado por ser evangélico é uma
excelente oportunidade não de mudar por vergonha o que te define, mas
sim de explicar aos não cristãos o que é o Evangelho da salvação. De
e-van-ge-li-zar. A escolha é sua.
- "Deus é amor e por isso não controla as tragédias nem desastres naturais, como os tsunamis"
- essa heresia teológica vem sendo pregada por um pequeno grupo que
segue a linha do Teísmo Aberto americano, uma linha de pensamento que no
Brasil foi chamada por um pastor evangélico que não se diz evangélico
de Teologia Relacional. Ele e mais um punhado de pastores e acadêmicos
celebrados nas mídias sociais (além de um grupinho de pessoas que tentam
pegar carona em suas celebridades para se promover) começaram a
propagar essas ideias pelas redes sociais, dizendo que Deus abriu mão de
sua soberania e não controla as tragédias que ocorrem no mundo. Segundo
essa heresia, Deus só está preocupado em relacionamentos e o conceito
de Jeová controlando as forças da natureza seria fruto da incorporação
de valores da filosofia e da religião grega no Cristianismo. Esquecem
que Deus abriu o Mar Vermelho e o Rio Jordão, que Jesus acalmou a
tempestade, que o Sol "parou" e retrocedeu, que houve um terremoto no
momento em que Jesus entregou o seu Espirito... para essa heresia tudo
isso são metáforas, o que associa esse pensamento à diabólica Teologia
Liberal de Bultmann e outros teólogos - segundo a qual a Bíblia não é
literal e muitos de seus relatos são apenas fábulas. Ao propagar essa
afirmação, os adeptos da Teologia Relacional destituem Deus daquilo que é
indissociável de Sua essência: Seu poder absoluto sobre todas as coisas
e Sua soberania sobre tudo o que ocorre no universo. É, portanto, uma
afirmação antibíblica e anticristã.
- "Padussinhô"
- cumprimento que originalmente tinha um significado muito bonito e
bíblico: "A paz do Senhor". O problema é que a expressão de popularizou
de tal forma que as pessoas nem pensam mais no significado do termo.
Passam umas pelas outras no corredor da igreja e soltam um "Padussinhô"
sem nem se tocar do profundo significado da expressão. Da próxima vez
que você for saudar alguém com essas palavras, concentre-se em seu belo
significado: que você está desejando a aquele irmão a paz que excede
todo o entendimento vinda do Príncipe da Paz, que saudava seus amigos
desejando exatamente a mesma coisa. Lembra das palavras do Mestre ao
chegar, ressurreto, entre os discípulos, por exemplo, em Lucas 24?
"Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes
disse: Paz seja convosco!". Não deixemos uma saudação tão significativa
perder seu sentido: ao a falarmos, que de fato estejamos desejando paz a
aquela pessoa. Só um porém: você já parou para pensar o que exatamente
significa "paz"? Significa "Quietação de ânimo, sossego, tranquilidade,
ausência de dissensões, boa harmonia, concórdia, reconciliação". Vale a
pena investir um tempo meditando sobre cada um desses valores que
dedicamos aos irmãos.
- "Temos que contextualizar o Evangelho à cultura de cada época e sociedade"
- a afirmação em si é correta, isso é exatamente o que temos de fazer.
Não adianta pregarmos o Evangelho no século 21 de túnica e sandália de
couro. O problema é que alguns setores da Igreja têm levado essa ideia
correta além no limite de segurança. Têm conduzido esse conceito ad absurdum.
Com isso, tentam com tanta força e ímpeto falar a linguagem de nossos
tempos para atrair o mundo que acabam muitas vezes sendo mais mundo que
Igreja. É o que ocorre, principalmente, entre a chamada Igreja
emergente: os próprios pastores acabam cometendo excessos e absurdos
como pregar falando palavrões de púlpito e recomendar a ida a seus
membros a shows de artistas com letras anticristãs e estéticas
agressivas, como Ozzy Osbourne e Titãs (grupo que tem canções altamente
antibíblicas, como "Igreja", "Homem Primata" e "Epitáfio"). É preciso
muita cautela. Pois nunca podemos esquecer que o Evangelho é, sempre foi
e sempre será escândalo para os que não creem e que é contracultura.
Isso em qualquer época e em qualquer cultura.
- "Fala, Deus"
- geralmente é dito quando um pregador diz algo que o irmão ou a irmã
acham que deveria ser ouvido por alguém da igreja ou por toda a
congregação. É uma espécie de "toma, desgraçado, que Deus tá dizendo
aquilo que eu penso que você deveria ouvir". Na maioria das vezes não é
dito com amor no coração e, por isso, é algo reprovável. A não ser que a
exortação seja para si mesmo. Aí... fala, Deus!
- "Eis que eu te digo..."
- nos arraiais pentecostais significa que está começando uma profecia
da parte de Deus. Nada contra. Sou pentecostal e creio na atualidade dos
dons. O problema é que ser "profeta" dá status entre os irmãos, como se
a pessoa que profetiza fosse merecedora de um amor especial da parte de
Deus. Por isso, não são poucas as pessoas que simulam profecias e, com
isso, cometem o gravíssimo pecado de pôr nos lábios do Senhor o que Ele
não falou. Sem falar do estrago causado junto à pessoa a quem a falsa
profecia foi dirigida, que vai acreditar que Deus lhe deu algum
direcionamento que na verdade não deu. Assim, antes de dizer "eis que eu
te digo"... trema!
- "Em nome de Jesus"
- a expressão é bíblica e o Mestre nos autorizou a usá-la. A questão é
que muitos a estão usando com significados que não deveriam ter, como se
fosse um "abracadabra". Como disse Walter McAlister no livro "O Fim de
uma Era", tem sido usada com o sentido de "tem que dar certo". "Eu vou
conseguir esse emprego em nome de Jesus". "Você vai namorar fulano, em
nome de Jesus". "O liquidificador vai funcionar agora, em nome de
Jesus". Na verdade, qual é o significado bíblico dessa expressão? Quando
alguém permite que outra pessoa faça algo em seu nome, está lhe
concedendo a autoridade pessoal que detém. Por exemplo, se um soldado
raso chega a um capitão e lhe diz para preparar um automóvel o capitão
não lhe obedecerá, pois o soldado não tem autoridade de solicitar isso a
um superior. Mas se um general diz a um soldado raso: "Vá até o capitão
em meu nome e lhe diga para preparar um automóvel", aquele soldado
acabou de receber a autoridade que o general tem sobre o capitão para
aquela tarefa especifica. Então ele pode chegar ao capitão e dizer:
"Estou vindo em nome do general solicitar que prepare o carro" e o
capitão obedecerá o soldado porque o pedido é segundo a autoridade do
general. Em nome dele. Com Jesus é igual. Os homens não têm autoridade
de expulsar demônios. Mas quando você expulsa "em nome de Jesus", é a
autoridade que nos foi concedida por Deus que está realizando aquele
feito. Do mesmo modo, ser humano algum tem poder em si para curar uma
doença sem ser por meios médicos. Mas se você ora "em nome de Jesus"
pela cura, é a capacidade milagrosa de curar que Jesus tem e que nos foi
concedida que está atuando. Ou seja, a forma correta de usarmos essa
expressão é somente quando podemos substitui-la por "segundo a
autoridade de Jesus concedida a mim para este fim".
- "Jesus não criou hierarquias nem liturgias"
- errado. Basta você ver que no céu existem anjos e arcanjos. O prefixo
"arc" significa "o principal", "o primeiro", "o de maior autoridade".
Por isso, arcebispo é o principal dos bispos. Do mesmo modo, fica claro
que no reino celestial o arcanjo tem um papel hierarquicamente superior a
um anjo. Esse princípio do mundo espiritual também é aplicado na terra.
A Bíblia manda respeitarmos as autoridades e diz que nenhuma autoridade
há que não tenha sido constituída por Deus. Também manda servos
obedecerem seus senhores. Afirma à mulher que deve ser submissa ao
marido. Ou seja, em todas as instâncias da vida humana - seja política,
profissional ou familiar - as Escrituras deixam claro que há uma
hierarquia. Seria de se estranhar muito que justamente na vida
espiritual isso não ocorresse. A Bíblia deixa claro que havia na Igreja
do primeiro século pessoas com cargos de supervisão (o "bispo", conforme
mencionado nas epístolas a Tito e Timóteo. Os apóstolos tinham um papel
de liderança, basta ver no episódio de Ananias e Safira e basta reparar
como Paulo dá determinações às igrejas em suas epístolas. E aqui cabe
uma observação: hierarquia não quer dizer que alguém é melhor do que
outro ou mais especial. Simplesmente que desempenha uma função com maior
poder de decisão. É como o capitão de um time de futebol: ele é igual
aos demais, mas dentro de campo é quem dá as decisões. E, acima dele,
está o técnico, que tem, inclusive, o poder de decidir substituir o
capitão.
Já
a liturgia fica clara quando Jesus institui a Ceia. É um cerimonial
litúrgico por natureza: tem ordem, as etapas seguem uma ordem, há um
modo de proceder, há a repetição da forma de fazer a cada vez que se
celebra. A História conta que os encontros da Igreja no primeiro século
seguiam uma liturgia não muito diferente dos cultos de hoje, com
louvores cantados, a leitura das cartas ou textos considerados canônicos
e uma exposição do Evangelho por quem liderava o encontro. Logo,
hierarquia e liturgia não foram, como alguns equivocadamente afirmam,
instituídos pelo imperador Constantino ao oficializar a fé cristã como
religião oficial do Estado: são bem anteriores - no mínimo 200 anos
anteriores.
- "Posso ser cristão em casa, sozinho, sem congregar"
- esse é um erro vindo do desconhecimento sobre a essência de nossa fé.
O Evangelho é, por essência, um estilo de vida coletivo. 1 Coríntios 12
deixa claro que somos um corpo. Um membro decepado de um corpo é uma
anomalia grotesca. Jesus nunca propôs o isolamento como padrão e, mesmo
quando se retirava para orar sozinho, levava consigo alguns de seus
apóstolos. Portanto um cristão que não congrega está desobedecendo o
padrão divino.
- "Não existe pecadinho ou pecadão"
- existe sim. A partir do momento em que existe um pecado (a blasfêmia
contra o Espirito Santo) que não tem perdão e que a Bíblia diz que há
pecados que são para a morte e outros que não são (independente da
interpretação que se dê a isso, há muitas: "Se alguém vir pecar seu
irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles
que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo
que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte"
- 1 Jo 5.16,17.), automaticamente fica claro que há gradações. Só
haver um pecado imperdoável já é prova disso. No sentido de que qualquer
pecado é desobediência a Deus... naturalmente todo pecado é
equivalente, mas isso não desmerece que em suas consequências há sim
níveis. A Bíblia é clara quanto a isso.
- "Manto!" - essa só pentecostal entende. Se bem que eu sou pentecostal e até hoje não entendi isso.
Por
enquanto é isso. Se você se lembrar de mais algum clichê dos nossos
dias usado nas igrejas, entre desigrejados, entre tradicionais ou
pentecostais...não importa, entre cristãos em geral, basta acrescentar
nos comentários. Só peço uma coisa: explique por que aquela palavra,
expressão ou frase está biblicamente incorreta. Apenas mencioná-la não
vai acrescentar. Se for o caso, faremos uma apreciação em cima do seu
comentário.
Quem
sabe assim, parando para pensar sobre o que falamos sem pensar...
paremos um pouco para pensar sobre o que falamos! E, talvez, seja o caso
de eliminarmos certas frases feitas do nosso meio que parecem corretas
mas na verdade só servem para confundir. Ou não servem para nada mesmo.
Tão ligados na fiação, varão e varoa dos mantos de fogo?
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Apenas
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