Moisés escreveu o Pentateuco
>> quarta-feira, 24 de abril de 2013
por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Não há
no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito o
Pentateuco. Todavia, há testemunho suficiente, que apóia a sua autoria. A
ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do Antigo
Testamento em particular, e com as obras literárias antigas em geral. No
antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do
passado, limitando-se ao uso de material e metodologias tradicionais,
conforme já foi observado.
A Teoria Documentária
A Teoria
Documentária declara que Moisés nunca foi o autor do Pentateuco, mas
que ele foi o resultado de séculos de tradição, em que escribas
registraram e compilaram diferentes porções, de autores desconhecidos, e
realizaram a formação de um texto final. Devemos considerar algumas
implicações da Teoria Documentária em afirmar a formação final do
Pentateuco num período pós-exílico (entre 500-400 a.C.), quando a
religião de Israel já estava bem desenvolvida.
1.
A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falando
francamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a sua própria
veracidade científica, para tirar de sobre si o estigma de “teoria” a
que está vinculada durante todos esses séculos.
2.
Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acerca da
identificação e classificação dos textos e dos grupos documentais a que
eles supostamente pertencem.
3.
Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco. Segundo a
Teoria Documentária a história bíblica é forjada. O Dt foi inventado
pelos profetas para reforçar a idéia da centralização. O uso do nome de
Moisés no Pentateuco, era simplesmente para dar autoridade ao texto, mas
ele nada tinha a ver com a composição histórica do mesmo. O documento
P, composto para assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte
do povo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Como observa
Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés é rejeitar o testemunho
universal dos escritores bíblicos e solapar a credibilidade do
Pentateuco e do resto da Bíblia. É da autoria de Moisés, e não apenas um
‘mosaico’ de diferentes”.[1]
4. Retira
todo o caráter normativo do Pentateuco.[2] Não teria qualquer valor
para o povo da época, já que nada acrescentaria ao judaísmo. Se o
Pentateuco fosse apenas um produto de uma religião tardiamente
desenvolvida, e não o princípio regulador, não faria sentido chamá-lo de
“a Lei”. Se ele não foi o princípio regulador para os primeiros
leitores, não teria valor algum para os crentes de outras épocas, uma
vez que os conceitos humanos mudam e o que não foi normativo para um
povo, pode não ser para outro.
5. Invalida
o esforço de composição. O relato do Pentateuco é rico em detalhes e
informações. Possui informações das origens e desenvolvimento dos povos,
em especial do povo de Israel. Os supostos autores teriam se dado a um
imenso trabalho de imaginação para simplesmente manter uma ordem que já
estava estabelecida.
6.
Devemos considerar a ausência de evidências histórica, ou
manuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP) tenham
circulado em algum período soltos uns dos outros.[3]
7.
Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentária implica que
um autor (ou autores), com um sentimento profundamente religioso e com o
intuito de conduzir o povo diante de Deus, tenha se rebaixado a
abandonar valores que quer ensinar e redigir uma mentira, colocando na
boca de Deus, o que Ele não disse, inventando “estórias” e fazendo com
que todos a considerassem como verdadeiras!
8.
Impossibilidade do sobrenatural no AT. Conseqüentemente a intervenção
divina é negada: revelação, inspiração, encarnação, milagres, etc.
9. Negação
da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente uma referência
literária semítica. Um livro antigo como outro qualquer, deixando de ser
a auto-revelação proposicional de Deus.
Alguns críticos liberais adeptos da Teoria Documentária
questionam não somente a autoria de Moisés, mas inclusive até mesmo a
sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam
atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios, e
ainda assim não existir nenhum registro desses fatos? Respondemos
mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard que declara “os
faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas
sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais
não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a
perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como
qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes
quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada
para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos,
praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de
recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no
Egito é risível.”[4]
Moisés é
reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos dias de
Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio,
construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido
educado na corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas
acadêmicas que no Egito já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da
escrita, que há muito tempo era usada, de comum uso dos egípcios,
inclusive entre os próprios escravos.
Como
historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu
povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no
palácio real egípcio, do seu acervo literário. Era possuidor de um vasto
e detalhado conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o
deserto tanto do Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe
eram familiares.
O modo
como o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele
não era palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1)
conhecia lugares pelos nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de
palavras egípcias do qualquer outra parte do AT, 3) as estações e tempo
que se mencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não
palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias, 5)os usos e
costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.[5]
Moisés
como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel de
legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote,
pastor, historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as
funções que exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e
religiosos, e era preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de
modo que ela fosse acessível a todos.
Como
escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta árduos e
longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua
ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que
pudesse escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar
todo o povo.[6] Ele mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus
(Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi
assim identificado.
O Que se entende por autoria Mosaica? [7]
1. Não
significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada
palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;[8]
2. É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente existentes;
3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;
4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;
5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);
6.
Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O Dr Wilson
comenta “que o Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do
tempo de Moisés; e que Moisés foi seu autor real, ainda que talvez tenha
sido revisado e editado por redatores posteriores, adições essas tão
inspiradas e tão verazes como o restante, não existe dúvida.”[9];
7.
Todo o Pentateuco possui unidade literária. Pequenas adições e mudanças
no Pentateuco podem ser admitidas sem que se negue a unidade literária,
e autoria mosaica da obra. Não há nenhuma evidência história ou
manuscritológica que vários redatores tenham “costurado” os livros do
Pentateuco. Não existe nenhuma evidência que em algum período da
história, o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP), e
que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação
final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus desconhecem
tal coisa.
______________________
Notas:
[1] Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida, 1996), p. 13
[2] O.T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), p. 10
[3] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament(Chicago, Moody Press, 1967), p. 50
[4] Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos (São Paulo, Ed. Vida, 1999), p. 80
[5] G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507
[6]
Martinho Lutero, por exemplo, apesar de possuir uma vida tão atribulada
pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira biblioteca.
A obra completa da edição de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.
[7] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo, Editora Vida Nova, 1963), p. 52
[8] O.T. Allis, The Five Books of Moses, pp. 12-14
[9] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p.11
Fonte: Estudantes de Teologia
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