Quem não é contra nós é por nós?
>> sexta-feira, 5 de abril de 2013
Jesus, porém, respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há
que faça milagre em meu nome e possa logo depois falar mal de mim;
pois quem não é contra nós, é por nós.
(Marcos 9:39-40)
O mundo atual é
estranhamente egocêntrico. Vivemos boa parte de nossas vidas em
função de nós mesmos, buscando nossos direitos, sem se importar
muito com o chamado “bem comum”. Na prática, buscamos unicamente
nossa glória, de ninguém mais.
Glória! É muito fácil
encontrar esta palavra em contextos cristãos e mais fácil ainda é
encontrar cristãos dizendo que esta só deve ser dada a Deus.
Esta
palavra, no entanto, se mantém trancada dentro de nossas igrejas,
separando-se há muito de seu significado.
E quando nos voltamos ao
egocentrismo, orgulho, busca de direitos, raramente nós pensamos em
glória. Menos ainda pensamos em atribuir glória a Deus.
Esquecemos tão
rapidamente da glória dada a Deus, que até mesmo os apóstolos
caminhando com o próprio Senhor não a levaram em conta...
Por isto o
tema “Glória” permeia todo o relato que encontramos em Marcos 9
a respeito dos discípulos, em Cafarnaum, de modo peculiarmente
sutil.
O relato começa no
versículo 33, quando chegam em Cafarnaum, provavelmente na casa de
Pedro (referida como “a casa”).
Jesus então pergunta a eles o
que discutiam pelo caminho. Se lermos o texto anterior, perceberemos
que Jesus havia falado sobre sua morte e ressurreição. Logo, seria
natural esperar que eles estivessem se perguntando sobre o
significado destas palavras.
No entanto, o versículo 34 nos informa
que o motivo da discussão foi outro: discutiam sobre quem era o maior deles.
E o
silêncio dos discípulos aqui foi uma resposta maior do que
imaginavam, pois este silêncio revelava que a discussão não foi
algo leve, mas foi algo digno de lhes deixar envergonhados.
O desejo
pela glória era algo que os embriagava, e Cristo sabia disto. Por
isto, mesmo sem eles responderem, tomou uma criança e os explicou
que deveriam ser como ela, recebendo-o em simplicidade.
A repreensão nunca é
algo fácil de se receber, ainda mais quando o tema da repreensão é
a humildade. Por isto, não nos impressiona o fato do apóstolo João
falar sobre um homem que repreenderam por expulsar demônios no nome
de Cristo.
Talvez, se falarmos de algo bom que fizemos, não recebemos
também um elogio, não é mesmo?
Se esta foi
uma tentativa do apóstolo de
mudar de assunto, não podemos saber. Se foi, então temos que
agradecer ao evangelista por registrar o relato desta forma,
mostrando-nos que os apóstolos eram acima de tudo, humanos, como eu e
você.
O fato é que esta
pergunta na verdade não mudou em nada o tema da conversa. Pois ainda
vemos os apóstolos se considerando aptos a julgar quem deve ou não
proclamar Cristo, como sendo superiores às outras pessoas.
Isto
porque eles não repreenderam a pessoa em questão por que ele fazia
algo errado ou ensinava algo errado, mas simplesmente por que ele não
os seguia.
O uso do imperfeito aqui ressalta que tal pessoa não
tinha o costume de segui-los, ou seja, não era um seguidor declarado
de Cristo.
Então, se a pergunta de João foi motivada mais por
dúvida do que por vergonha da repreensão, temos aqui um bom motivo
para ela: afinal de contas, é qualquer um que te recebe mesmo,
Senhor? Será que este homem que apenas expulsa demônios em seu nome
te recebe também?
E aqui temos o trecho
que destacamos logo acima. Nosso Senhor nos ensina a não o proibir,
pois não há pessoa neste mundo que faça um milagre em seu nome, e
que depois saia falando mal dele.
O trecho é usado por pessoas que
defendem pastores de nossos dias que vivem se envolvendo em polêmica
e que defendem todo tipo de doutrina estranha ao Evangelho.
Afinal de
contas, pensam eles, se estes pastores fazem milagres em nome de
Cristo, não devemos proibir eles, não é?
E a resposta para esta
pergunta é, se nossa base para a proibição for apenas o fato deles
não seguirem a Cristo, então não devemos mesmo proibir.
No
entanto, a proibição se dá por que eles não seguem a Cristo, ou
por que dizem segui-lo, mas não o fazem?
Expulsar demônios era
um milagre feito por apóstolos e pelo próprio Cristo, uma boa obra,
portanto. Poderíamos aplicar o mesmo princípio em nossos dias a
toda boa obra feita em nome de Cristo.
Alguém ajuda o pobre por
causa do nome de Cristo? Então não devemos proibi-lo. Alguém é
honesto por causa do nome de Cristo? Então não devemos proibi-lo.
Por quê?
Porque esta pessoa está fazendo tudo isto para a glória
de Cristo. E quem somos nós para impedirmos que a justa glória seja
dada ao nosso Criador, nosso Senhor?
Por que não comemorar quando
alguém dá glórias a Deus e a Cristo, mesmo que ela não os esteja
seguindo conosco?
Será que é por que colocamos nossa glória acima
da glória ao Senhor? É mais importante estar conosco do que dar
glórias ao Criador?
Talvez este fosse o problema com os apóstolos
ali. Eles não apenas disputavam quem era o maior entre eles, mas
também se colocavam como referência para os outros.
Para eles não
é a verdade que impede ou permite que alguém dê glória a Deus,
mas o seu relacionamento com a igreja.
Sola Scriptura ou Sola
ecclesia? Tudo está relacionado com Glória.
Por isto se alguém usa
este texto aqui para defender pastores em seus escândalos, este
alguém está errado, pois o escândalo não traz glória ao Senhor.
E para deixar isto mais claro, caso ainda haja alguma dúvida sobre
isto, nosso Senhor continua seu ensino falando das boas obras feitas
por causa de Seu nome.
O Senhor nos diz que estes terão sua
recompensa certa, não especificando aqui qual é a recompensa em
vista.
Por aí se nota que o Senhor acima de tudo é grato àqueles
que lhe glorificam, seja quem for. O amor de Deus está acima de
nossos preconceitos e tradições.
Mas e aqueles que
escandalizam? E aqueles que fazem os pequeninos tropeçarem? E
aqueles que se dizem pastores mas deixam suas ovelhas se perder pelo
caminho?
Seria melhor terem se lançado ao mar do que fazer isto, pois antes de dar glória a Deus, eles tentaram manchar seu nome.
E
não há vergonha maior, não há pecado maior do que tentar manchar
o santo Nome de Deus, o mesmo Nome que não poderia ser tomado em vão
(e o Senhor não terá esta pessoa como inocente, Êxodo 20:7).
Não é
mais do que natural defender Deus daqueles que tentam manchar seu
Nome? Quem poderia defender estas pessoas?
Por que alguns são
causa de tropeço a outros? Por quê?
Muitos possuem algo de
precioso em suas vidas e que nem sempre as permite gozar de uma vida
santa e reta diante de Deus.
Muitos se apegam ao dinheiro, ao poder,
ao bem-estar. Nosso Senhor prefere usar uma linguagem mais chocante
aqui.
Quem quer perder uma mão ou um pé? Quem quer perder um olho?
Se você no entanto soubesse que jamais iria ter uma vida de eterna
felicidade se mantiver aquele olho, você não estaria disposto a
perdê-lo?
Esta é uma pergunta muito difícil de responder, porque
ela toca no ponto vital de todo este capítulo. O que é mais
precioso para nós? Um olho ou o Senhor?
Obviamente, Jesus não está
aqui querendo que nos mutilemos por Ele, mas um olho é muito mais
palpável do que aquilo que Ele realmente quer atacar.
Não dá para
negar que nós temos olhos, pés, mãos, mas podemos negar tudo que
está envolvido neste texto.
Afinal de contas, o que é mais precioso
para nós? O Senhor Jesus, nosso Redentor? Ou nosso orgulho, nossa
avareza, nossa glória, nosso bem-estar?
Podemos negar ter todos
estes, mas na verdade, acabamos dando espaço para todos.
Na prática, deixamos a palavra glória na igreja, de preferência como parte de
algum hino antigo.
As pessoas veem pastores realizando milagres por
aí sem no entanto refletir sobre quem está sendo glorificado ali.
Não nos perguntamos quantas pessoas de outras igrejas tais pastores
ajudaram com seus milagres, nem nos perguntamos quantas destas
aparecem em seus programas e pregações.
Não poderemos entrar
no Reino dos céus se buscarmos nossa glória mais do que a glória
de Deus.
Não poderemos entrar na vida se o amor por nossa glória
nos faz impedir que a glória a Deus seja proclamada.
Seremos
salgados por fogo. Temos que ter sal em nós mesmos, que é a
santidade, a reverência, a piedade. Sem isto, seremos tão inúteis
como o sal que não salga.
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