Você tem chamado pastoral?
>> quarta-feira, 3 de abril de 2013
Por André R. Fonseca
Outro dia minha mãe me perguntou: "Como vai o curso pra pastor, filho?"
Rindo,
respondi: "Mãe, quando Jesus perguntou a Pedro se ele o amava, ele disse
para apascentar suas ovelhas. No meu caso, Cristo falou: André, tenha
pena das minhas ovelhas!"
Mas a
pergunta é bem comum. Sempre que alguém fica sabendo que estou no
seminário, logo pergunta sobre a ordenação pastoral - como se o único
motivo de ir para o seminário fosse o chamado pastoral. Até os
professores do seminário, às vezes, parecem surpresos quando o aluno diz
que está cursando por outro propósito. Outro dia um amigo bem chegado,
que me conhece muito bem, vem com um livro de presente dizendo que olhou
pro livro e pensou em mim. Título: Ministério pastoral, profissão ou
vocação. Fala sério...
Gente,
pera lá, brincadeira tem hora! Ter o André como pastor será um pesadelo!
Vejo que posso contribuir como professor, teólogo, qualquer atividade
mais acadêmica. Mas pastorado, não... há excelência demais no
ministério pastoral, e não me enquadro! Vamos para o texto bíblico no
qual me apoio para dizer que não sou vocacionado.
Filipenses 2:20-22 "Pois Timóteo é o único que se preocupa com vocês como eu me preocupo e é o único que, de fato, se interessa pelo bem-estar de vocês. Pois todos os outros se preocupam com os seus próprios interesses e não com os de Jesus Cristo. E vocês sabem muito bem como Timóteo provou o seu valor. Ele e eu, como se fôssemos filho e pai, temos trabalhado juntos no serviço do evangelho."
É claro
que o texto não trata especificamente do ministério ou vocação pastoral.
Não é um texto como o de Tito 1:5-16 onde Paulo traça o perfil do líder
da igreja com suas qualidade e outros pontos a serem considerados para
determinar se há vocação ao pastorado. Não é, nem de longe, um texto
normativo; mas retrata perfeitamente aquilo que entendo como o contexto
para o vocacionado. Permita-me dividir o texto de Filipenses em três
partes: 1) Interesse pelas ovelhas, 2) dedicação ao ministério e 3)
propósito na ordenação.
Sabemos
que Paulo escreve duas cartas conhecidas como "pastorais" a Timóteo. São
duas das três cartas pastorais, e provavelmente Timóteo recebeu a
última ou uma das últimas cartas que Paulo escreveu antes de morrer.Que
Paulo instruiu seu "filho" Timóteo para seguir o seu legado no cuidado
"pastoral" da Igreja é inquestionável, até porque Timóteo ficou no
cuidado das igrejas na Ásia.
Paulo
aconselha Timóteo a não abandonar sua vocação em 1 Timóteo 4:15. E onde
está o sinal dessa vocação em Timóteo? Acredito que a resposta está em
Filipenses! Paulo, à semelhança de Pedro, tem amor pelas ovelhas; e
Paulo acaba testemunhando que Timóteo era o único em sua companhia que
manifestava o mesmo cuidado pela ovelhas - "Pois Timóteo é o único
que se preocupa com vocês como eu me preocupo e é o único que, de fato,
se interessa pelo bem-estar de vocês..."
Ainda no
contexto de aconselhamentos pastorais de Paulo a Timóteo no capítulo 4
de primeira Timóteo, percebemos a dedicação do vocacionado ao
ministério: "para progredir na vida cristã, faça sempre exercícios
espirituais... pratique essas coisas e se dedique a elas a fim de que o
seu progresso seja visto de todos..." 1 Timóteo 4:7 e 16.
A
consagração de Timóteo ao ministério pastoral é consequência de seu
serviço. Não basta ter amor pelas ovelhas e dedicação ao estudo da
Palavra, oração ou quaisquer exercícios espirituais. É preciso ter um
propósito para a consagração ao pastorado, e o que determina esse
propósito é o serviço - "pratique essas coisas e se dedique a elas a
fim de que o seu progresso seja visto de todos... E vocês sabem muito
bem como Timóteo provou o seu valor. Ele e eu, como se fôssemos filho e
pai, temos trabalhado juntos no serviço do evangelho." 1 Timóteo 4:15 e Filipenses 2:22
Meu
serviço é que justifica minha ordenação ao ministério pastoral. Acho que
já estava até na hora de repensarem essa prática de consagrarem
seminaristas ao ministério pastoral só porque concluíram seus
seminários. Para que uma "igreja com propósito" cheia de pastores sem
propósito?
Mas
também não basta ter um serviço que justifique minha ordenação, é
preciso ter dedicação aos elementos ou qualidades que compõem o
ministério. E por fim, é preciso ter amor pelas ovelhas; caso contrário,
corremos o risco de alimentar um mercenário... que Deus me livre de ser
um deles!
Não
quero dizer com isso que não tenho interesse pelo bem-estar das ovelhas,
ou que meu interesse por elas seja vil. Mas se não é o interesse puro,
profundo, correto e completo dentro deste ministério, a coisa pode
facilmente sair dos trilhos. Tudo o que é forçado não acaba bem! Então,
antes de qualquer coisa, eu preciso ter isso confirmado e trabalhado por
Deus no meu coração. Enquanto permanecer a incerteza quanto ao que
sinto pelas ovelhas de Cristo, minha resposta permanecerá: não tenho
vocação pastoral!
Tenho
grande dedicação ao estudo teológico, mas a dedicação pastoral não se
resume a isso. Acredito também que não só de pastores vive a igreja, ela
também precisa de professores dedicados. Portanto, vejo que facilmente
posso ser um mestre; pastor, não.
E ainda
que esses dois pontos possam ser questionados e trabalhados por Deus
para apontar numa direção ao ministérios pastoral, ainda sou
seminarista. Em breve, serei um bacharel em teologia, só isso! Enquanto
não houver um serviço (ministerial) que justifique uma ordenação, me
deixa quieto...
__________________
Autor: André R. Fonseca
www.andreRfonseca.com
Twitter: @andreRfonseca
Quando não especificado, todos os textos bíblicos são citações da NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje da SBB.
Fonte da imagem: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Shepherd_on_the_way_to_Hampta_Pass.jpg
Fonte: Teologia et cetera
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