Declaração do dízimo, “indulgência” para títulos eclesiásticos?
>> domingo, 11 de dezembro de 2011
A igreja evangélica no Brasil cresceu dando ênfase a evangelização e o ensino da Palavra de Deus. Este crescimento acelerou-se a partir de 1910, com a chegada do Pentecostalismo, trazido por alguns irmãos que haviam experimentado a chama do Movimento Pentecostal, dentre os quais cito Daniel Berg e Gunnar Vingren, fundadores das Assembleias de Deus no Brasil.
Ao olhar para o início desse movimento, vemos de fato um destaque na obra de evangelização. Cada crente tinha prazer em compartilhar sua fé, em sair para as ruas anunciando a mensagem do evangelho, de porta em porta, entregando folhetos, realizando cultos ao ar livre na casa de algum irmão, além do evangelismo nos trens, nos ônibus, nas praças e no próprio templo com a extinta “boca de ferro”, um aparelho que amplificava o som levando a mensagem às residências mais distantes. E o resultado era rápido, pois muitas pessoas se convertiam, apesar das perseguições enfrentadas por parte do catolicismo romano radical, especialmente no interior do estado, nas primeiras décadas do evangelismo pentecostal.
E a medida que os trabalhos iam se desenvolvendo, alguns modelos de liturgia iam sendo implantados, tais como o cântico congregacional (a edição da harpa cristã como hinário oficial ajudou na difusão e prática desse modelo), a leitura bíblica oficial, a pregação, a implantação de conjuntos (uma marca das ADs são os ‘conjuntos’ de mocidade, de senhoras, infantil, etc, que cantam sempre nos cultos) e o recolhimento de dízimos e ofertas, dentre outras atividades litúrgicas.
O lema desse movimento sempre foi: Jesus Cristo salva, cura, batiza com Espírito Santo e em breve voltará.
Mas, de um tempo pra cá, talvez pela influência do neopentecostalismo, temos presenciado a mudança de foco. As igrejas tendem a ser mais estruturadas fisicamente buscando um melhor conforto para seus membros, e isso tem levado alguns líderes à busca exagerada pelo requinte e ostentação. Sem falar nos salários pagos aos pastores e membros de diretorias. Se pegarmos uma planilha de gastos, coisa muito difícil de se conseguir em algumas administrações, vamos ver, por exemplo, que a obra de evangelismo e missões não tem primazia nos investimentos da igreja atual.
Como se isto não bastasse, essas mudanças estão sendo refletidas nas práticas litúrgicas e também nos deveres que são impostos aos membros das denominações. Sabemos que o dízimo e as ofertas alçadas é uma doutrina bíblica praticada pelos assembleianos e outras denominações de forma livre, de acordo com a fé e a consciência que cada crente tem da necessidade de ser participante na construção desse seguimento religioso. Sem que seja necessária a imposição, a declaração de dizimista, como obrigação para ser membro. Se assim fosse, teríamos a volta das indulgências, com outra roupagem, pois as indulgências tinham como objetivo conceder perdão, atenuar a gravidade de uma falta, ou remir os pecados dos fiéis da igreja.
E a Assembleia de Deus, que este ano comemora seu centenário, não precisou dar ênfase à doutrina dos dízimos e ofertas, não precisou instituir declaração de dízimo, pois ela cresceu e se desenvolveu com as contribuições financeiras de seus membros que acreditavam no trabalho e o faziam com amor e dedicação. Mas...
Existem convenções locais que colocam a declaração de dízimo como uma das prerrogativas para a consagração ao diaconato, presbitério e ministro (evangelistas e pastores). E essa prerrogativa, em algumas análises, fica acima de qualidades morais como: bom testemunho, conhecimento bíblico, preparo teológico e espírito de liderança. É como se as condições colocadas pelo colegiado apostólico, em Atos 6, não fossem suficientes, “boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”.
Por exemplo, no estatuto da IEADERN, o candidato ao diaconato deve “ser fiel, comprovadamente, nas contribuições para a igreja” (Art 53) além de outros requisitos apresentados.
Em outras palavras, se o candidato cumprir com todas as condições: ter vocação divina para o diaconato; ser batizado com o Espírito Santo, ter conhecimento das Sagradas Escrituras, ser obediente à doutrina e aos usos e costumes da IEADERN, ter testemunho pautado nos princípios das Sagradas Escrituras; ter, no mínimo, três anos como auxiliar de trabalho” e não apresentar pelo menos 6 (seis) comprovantes de declaração de dízimo, não pode ser consagrado.
Minha análise é, será que não estamos mudando o foco? Será que não estamos nos distanciando do real objetivo da igreja?
Acredito na doutrina bíblica do dízimo, ensino e pratico sob a ótica da generosidade. Entretanto, nunca declarei, e não creio ser correto exigir declaração, como se fosse confissão de fé, ou profissão de fé.
Infelizmente nosso Centenário está marcado por pretensões econômicas, pretensões financeiras que embotam a ênfase missionária e evangelística dos primeiros dias pentecostais.
Em Cristo,
Cláudio Ananias
Ao olhar para o início desse movimento, vemos de fato um destaque na obra de evangelização. Cada crente tinha prazer em compartilhar sua fé, em sair para as ruas anunciando a mensagem do evangelho, de porta em porta, entregando folhetos, realizando cultos ao ar livre na casa de algum irmão, além do evangelismo nos trens, nos ônibus, nas praças e no próprio templo com a extinta “boca de ferro”, um aparelho que amplificava o som levando a mensagem às residências mais distantes. E o resultado era rápido, pois muitas pessoas se convertiam, apesar das perseguições enfrentadas por parte do catolicismo romano radical, especialmente no interior do estado, nas primeiras décadas do evangelismo pentecostal.
E a medida que os trabalhos iam se desenvolvendo, alguns modelos de liturgia iam sendo implantados, tais como o cântico congregacional (a edição da harpa cristã como hinário oficial ajudou na difusão e prática desse modelo), a leitura bíblica oficial, a pregação, a implantação de conjuntos (uma marca das ADs são os ‘conjuntos’ de mocidade, de senhoras, infantil, etc, que cantam sempre nos cultos) e o recolhimento de dízimos e ofertas, dentre outras atividades litúrgicas.
O lema desse movimento sempre foi: Jesus Cristo salva, cura, batiza com Espírito Santo e em breve voltará.
Mas, de um tempo pra cá, talvez pela influência do neopentecostalismo, temos presenciado a mudança de foco. As igrejas tendem a ser mais estruturadas fisicamente buscando um melhor conforto para seus membros, e isso tem levado alguns líderes à busca exagerada pelo requinte e ostentação. Sem falar nos salários pagos aos pastores e membros de diretorias. Se pegarmos uma planilha de gastos, coisa muito difícil de se conseguir em algumas administrações, vamos ver, por exemplo, que a obra de evangelismo e missões não tem primazia nos investimentos da igreja atual.
Como se isto não bastasse, essas mudanças estão sendo refletidas nas práticas litúrgicas e também nos deveres que são impostos aos membros das denominações. Sabemos que o dízimo e as ofertas alçadas é uma doutrina bíblica praticada pelos assembleianos e outras denominações de forma livre, de acordo com a fé e a consciência que cada crente tem da necessidade de ser participante na construção desse seguimento religioso. Sem que seja necessária a imposição, a declaração de dizimista, como obrigação para ser membro. Se assim fosse, teríamos a volta das indulgências, com outra roupagem, pois as indulgências tinham como objetivo conceder perdão, atenuar a gravidade de uma falta, ou remir os pecados dos fiéis da igreja.
E a Assembleia de Deus, que este ano comemora seu centenário, não precisou dar ênfase à doutrina dos dízimos e ofertas, não precisou instituir declaração de dízimo, pois ela cresceu e se desenvolveu com as contribuições financeiras de seus membros que acreditavam no trabalho e o faziam com amor e dedicação. Mas...
Existem convenções locais que colocam a declaração de dízimo como uma das prerrogativas para a consagração ao diaconato, presbitério e ministro (evangelistas e pastores). E essa prerrogativa, em algumas análises, fica acima de qualidades morais como: bom testemunho, conhecimento bíblico, preparo teológico e espírito de liderança. É como se as condições colocadas pelo colegiado apostólico, em Atos 6, não fossem suficientes, “boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”.
Por exemplo, no estatuto da IEADERN, o candidato ao diaconato deve “ser fiel, comprovadamente, nas contribuições para a igreja” (Art 53) além de outros requisitos apresentados.
Em outras palavras, se o candidato cumprir com todas as condições: ter vocação divina para o diaconato; ser batizado com o Espírito Santo, ter conhecimento das Sagradas Escrituras, ser obediente à doutrina e aos usos e costumes da IEADERN, ter testemunho pautado nos princípios das Sagradas Escrituras; ter, no mínimo, três anos como auxiliar de trabalho” e não apresentar pelo menos 6 (seis) comprovantes de declaração de dízimo, não pode ser consagrado.
Minha análise é, será que não estamos mudando o foco? Será que não estamos nos distanciando do real objetivo da igreja?
Acredito na doutrina bíblica do dízimo, ensino e pratico sob a ótica da generosidade. Entretanto, nunca declarei, e não creio ser correto exigir declaração, como se fosse confissão de fé, ou profissão de fé.
Infelizmente nosso Centenário está marcado por pretensões econômicas, pretensões financeiras que embotam a ênfase missionária e evangelística dos primeiros dias pentecostais.
Em Cristo,
Cláudio Ananias
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