Os misteriosos Magos do Oriente
>> domingo, 25 de dezembro de 2011
Diferente de José, cujos atos analisamos na semana passada, existem personagens ou situações que, devido à falta de mais informações dadas pela Bíblia, acabam ganhando uma importância ou atenção dobradas. Temos, por exemplo, os estranhos personagens de Gênesis 6.1-8 ou o tal batismo pelos mortos (1 Co 15.29). Muitas vezes, ouvimos mais especulação ou tradição sobre o assunto que algo realmente retirado das Escrituras. Com o caso dos desconhecidos sábios do Oriente, que aparecem em Mateus 2, é a tradição que, muitas vezes, pode nos levar a não perceber algumas lições em suas vidas.
Lembro-me de frequentar a classe de juniores (para crianças de 8 a 11 anos) e o professor enfatizar todo natal que os três reis magos não eram nem três, nem reis. A Bíblia não fala nada disso, ele dizia. Levávamos a sério a aula, até que, durante a cantata natalina, quem estavam lá? Os três reis magos do oriente! Mas, como é uma tradição que não causa qualquer tipo de abalo nos fundamentos de nossa fé, não me concentrarei em refutar (ou não) o número de sábios que visitaram Jesus, e se eram parte da realeza. Ao invés disso, nos concentremos no que a Bíblia diz – não há nada mais proveitoso para o homem de Deus (1 Tm 3.16).
Agarrando-se nas roupas dos judeus
Fazendo minha devocional esses dias, me deparei com um verso do qual não me lembrava. Ele encontra-se em Zacarias 8.23 e diz o seguinte:
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: “Naqueles dias, dez homens de todas as línguas e nações agarrarão firmemente a barra das vestes de um judeu e dirão: ‘Nós vamos com você porque ouvimos dizer que Deus está com o seu povo”.
A história dos Magos do Oriente fala de uma situação desse tipo. O que vemos ali é um grupo de homens, que só Deus sabe de onde vêm, à procura do Deus Conosco. “Ouvimos dizer que a Palavra de Deus montou uma tenda entre vocês, judeus, e não soltaremos vocês enquanto não nos contarem onde ele está!”, eles dizem.
No entanto, boa parte dos judeus não estava pronta para respondê-los. Mateus relata que os magos chegaram à cidade onde deveria reinar o Rei dos Judeus, mas encontraram ali um usurpador e um monte de sacerdotes desatualizados. Essa situação prenuncia o que ocorrerá por todo Novo Testamento – enquanto a maioria dos israelitas rejeita Jesus como Messias, gentios sedentos pela presença da Palavra encarnada o abraçam. Isso já nos traz algumas questões:
- Será preciso que um “gentio” nos acorde para percebermos que Cristo está em minha vida ou em minha comunidade? Qual a implicação disso para meu viver diário?
- E quanto à situação de nossos púlpitos hoje? Quando as pessoas querem saber sobre o Rei dos judeus, elas se agarrarão em nossas vestes? Traremos a informação que elas precisam ou continuaremos a falar de prosperidade material, familiar, pessoal ou ministerial?
Paulo explicará adiante (Romanos 11) que a situação de Israel faz parte do glorioso plano de Deus para salvação daquele que crê, tanto judeu quanto gentio (Rm 1.16,17). Portanto, nós gentios não devemos nos sentir orgulhosos ou superiores a Israel. Pelo contrário, devemos temer e tremer diante da santidade de nosso Deus, agradecendo a cada momento por seu plano glorioso incluir misericórdia sobre nós. Devemos nos unir aos magos na procura por um relacionamento vivo com nosso Rei e não ignorar a presença dele entre seu povo.
“Viemos adorá-lo”
Ouro, Incenso e Mirra |
O exemplo dos magos também nos serve para analisarmos a maneira como agimos diante de Cristo. O que essa história nos conta? Ela fala de um grupo de homens que passaram dias numa jornada perigosa (e provavelmente muito fria) a fim de encontrar-se com Jesus. E por que eles gostariam de conhecê-lo? Talvez para obter algum de seus milagres, ou conseguir alguma vantagem? Pelo contrário, eles vieram para adorá-lo. E adorá-lo cheios de júbilo (Mateus 2.10)!
Diferentes de muitos de nós, aqueles homens não precisavam receber presentes do Senhor para se colocarem de joelhos diante dele. Ao contrário, percorreram quilômetros a fim de presentear o menino Jesus com dons de valor altíssimo.
Como são diferentes dos evangélicos atuais esses homens! Eles percorreram o planeta durante dias, numa busca aparentemente insana, enquanto muitos de nós não conseguimos acordar mais cedo para adorar nosso Deus, sorver de sua Palavra, participar de um ministério ou abençoar o próximo. Eles encontraram o Salvador e encheram-se de júbilo! Quantos se enchem de júbilo apenas quando recebem o que querem, quando são mimados do jeito que gostam? Ou aqueles que só se alegram em Deus se a música for de seu estilo favorito? Os magos depositaram aos pés do Rei dos Judeus seus bens valiosos, quando hoje clamamos e clamamos por esses bens para nós! Russell Shedd, numa entrevista para o Portal Diante do Trono, nos choca ao dizer o que é realmente ser abençoado por Deus e, acredite, não envolve receber presentes.
DT – Até onde esta teologia da prosperidade terrena é saudável? Explicando melhor, todos nós queremos alguma coisa. Um carro novo, uma casa maior, um emprego melhor… mas afinal de contas, pedir estas coisas para Deus, é saudável?
SHEDD – Seria saudável apenas se pudéssemos glorificar a Deus mais. A ordem bíblica é que a glória de Deus está vinculada a tudo que nós fazemos, ou deveria estar. Então, quer bebamos, quer comamos ou façamos outra coisa qualquer, façamos para a Glória de Deus. Qualquer benefício ou vantagem que Deus nos dá nesta vida seria justamente para nós glorificarmos a Deus, mais. Só que muitas vezes nós fazemos o contrário… É para nós glorificarmos à Deus, naturalmente, abençoando outras pessoas. Porque se é para fazermos boas obras, se é para abençoarmos pessoas, se é para sustentarmos missionários, é preciso alguém ou alguma coisa para fazer isso. Portanto o que nos beneficia e nos abençoa seria reutilizado para glória do Senhor.
Mais uma vez, devemos nos examinar, pois, não raro, usamos os benefícios que Deus nos dá mais para nosso prazer que para o prazer dEle e do próximo. Líderes de louvor e músicos nas igrejas (e todos nós!) devem se espelhar no exemplo dos magos do oriente. Eles não estavam interessados em conforto, não estavam interessados em presentes. Eles só tinham um interesse: estar frente a frente com Jesus, prostrar-se e, adorando, entregar-lhe o que tinham de precioso. Você tem outro interesse além deste? Combata-o!
Quando você dá um presente a Cristo, com isso você está dizendo: “a alegria que eu procuro não é a esperança de ficar rico com o que vem de você. Eu não vim até você por essas coisas, mas vim por você. E esse desejo eu intensifico agora e o demonstro ao entregar essas coisas, na esperança de desfrutar mais de ti, não dessas coisas. Ao dar a você o que preciso, e o que eu talvez desfrutasse, estou dizendo mais séria e autenticamente: “você é meu tesouro, não essas coisas”. (John Piper)
Onde está o Rei dos Judeus?
Os comentaristas se dividem sobre o significado de cada um dos presentes, mas um tema se repete em todas as interpretações: aqueles sábios reconheciam Jesus como Rei. Embora tenham visitado o palácio de um suposto rei, eles perceberam mais tarde que aquilo era apenas a aparência passageira dos reinos humanos. O verdadeiro Rei de Israel se encontrava em sua simples habitação, nos braços de sua pobre mãe e ao lado do humilde José.
Muitos de nós nos deixamos enganar pelas aparências. Queremos aquilo que parece funcionar, aquilo que parece prosperar, aquilo que o mundo ensina como padrão. Igreja lotada, galera empolgada, música animada, templo bonito, religiosidade e espiritualidade cheias de emoção parecem ser sinais da presença de Cristo (em alguns casos, até podem ser consequência de sua santa presença!). Mas é somente onde ele, não o ser humano, é reconhecido como Rei que está a verdadeira adoração.
Uma criança pobre e frágil no meio de Belém não parecia o símbolo mais apropriado da salvação que Deus traria a Israel, mas foi ali que o braço forte do Senhor se revelou. Muitos judeus estavam cegos, e coube aos pagãos reconhecê-lo como Senhor. Quantos hoje vivem dentro do povo de Deus como se Cristo não fosse o Senhor? Se Cristo não for o Senhor em nossas vidas e em nossa comunidade, nós é que somos.
A Bíblia nos diz que os sábios do Oriente abriram seus tesouros e entregaram ao Rei dos Judeus. Se queremos adorá-lo, devemos fazer o mesmo. Entreguemos alegremente tudo o que temos de precioso – inclusive nossa vontade, nossa glória, nossa opinião e nossa dignidade – em troca do tesouro valiosíssimo que é a presença de Cristo em nossas vidas. Somos súditos. Tudo é dele. E ele é nosso, nosso Rei.
“O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo.” (Mateus 13.44)
Tentando entregar o que tenho a Cristo,
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