As últimas virgens da Albânia
>> domingo, 30 de dezembro de 2012
A Albânia,
apesar de - geograficamente - fazer parte da Europa, tendo fronteira
terrestre com a Grécia e separada da Itália pelo Mar Adriático, é
realmente um país com costumes, digamos, esquisitos, como conta Claudia
Belfort em seu blog no Estadão:
As últimas virgens da Albânia
Responda em dois segundos se esse retrato é de um homem ou de uma mulher.
Responda em outros dois segundos se a pessoa fotografada parece viva ou morta.
Foto: Jill Peters |
Saiba, é uma mulher e ela está morta.
A
foto faz parte de um documentário que a fotógrafa norteamericana Jill
Peters está desenvolvendo sobre as últimas virgens juramentadas da
Albânia. Remanescentes de uma tradição quase extinta – hoje elas não
chegam a 100 – essas mulheres ignoraram suas identidades para viver como
homem. Não por uma afirmação de sexualidade, mas para sobreviver às
rígidas restrições impostas às mulheres entre comunidades das montanhas
dos Balcãs, sudeste da Europa.
Os
camponeses dessa região viveram por 500 anos sob as normas do Kanum, um
código de honra que vigorou até o início do século XX, e que limitava
às mulheres os cuidados da casa e dos filhos. Só. Elas eram proibidas de
ter uma profissão, trabalhar, dirigir, beber, fumar, não tinham
direito a herança e tornavam-se propriedades do marido. Elas não podiam
cantar. “Naquela época ser mulher e ser um animal era a mesma coisa”,
disse uma virgem juramentadas, Pashe Keqi, numa entrevista ao The New
York Times. Ela nascera em 1930.
O
Kanum permitia, no entanto, que a mulher se proclamasse homem,
passando consequentemente a viver sob as mesmas regras deles. A partir
de então podiam podiam trabalhar e tornar-se patriarcas, sendo muitas
vezes o único “homem”do clã.
Essa regra do Kanum tem origem nas precárias condições de sobrevivência
nas montanhas da Albânia, agravada pelos crimes de vendeta, outra
tradição no país, que chegava a dizimar todos os integrantes do sexo
masculino numa família. Na ausência de um herdeiro, a mulher mais velha
do clã era obrigada a proclamar-se virgem para garantir o sustento e a
honra dos familiares. Outras proclamavam-se homem para ter autonomia e
evitar o casamento arranjado.
Para
isso, elas faziam um juramento público de virgindade e celibato,
cortavam os cabelos e adotavam trajes e gestos masculinos para a vida
toda. Deixariam a condição de serva se também deixassem a de mulher, se
renunciassem ao sexo, à maternidade e à identidade.
É, de um certo modo, um matar a si mesma.
Foto: Jill Peters |
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