O Outro Evangelho
>> domingo, 2 de dezembro de 2012
A epístola aos Gálatas foi escrita para salvar o
cristianismo do legalismo judaico. Seu assunto continua atual, pois em qualquer
época há sempre o risco de alguém, ou um segmento da igreja se inclinar para o
legalismo religiosos.
I.
O CONCILIO
DE JERUSALÉM - A luz de Atos 14.27
A igreja
primitiva do primeiro século enfrentou problemas com os fariseus. Alguns
cristãos de tradição judaica insistiam que todos os cristãos obedecessem a lei
judaica. Os gentios deveriam ser todos circuncidados. As igrejas orientadas por
Paulo e Barnabé, porém, ensinavam que o caminho da salvação era um só para
todos os homens. Eles salientavam que a fé em Jesus Cristo, e não a
lei judaica era o caminho para a vida eterna. Como consequência disso, houve
dissensão na igreja.
No ano 49 d.C
os apóstolos reuniram-se em Jerusalém para resolver um problema doutrinário, a
saber: a salvação ocorre pela fé, não por obras ou pela observância da lei.
Os apóstolos
tiveram muita preocupação de não permitir que as heresias, os falsos ensinos,
penetrassem na Igreja. O primeiro ataque doutrinário lançado contra a igreja
foi o legalismo. Alguns judeus convertidos ao cristianismo estavam instigando
os novos convertidos á prática das leis judaicas, principalmente a circuncisão.
Em Antioquia
havia uma igreja constituída de pessoas bem preparadas no estudo das Escrituras
(At 13.1). Esses crentes perceberam a gravidade do ensino de alguns que haviam
descido da Judéia e estavam ensinando certas heresias.
Os ensinamentos
daquelas pessoas eram uma ameaça á Igreja. Então foi necessário constituir-se
um Concílio para apreciar tais questões e tomar uma posição diante delas.
“Então, alguns
que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se vos não
circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Alguns, porém,
da seita dos fariseus que tinham crido se levantaram, dizendo que era mister
circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés” (Atos 15.1, 5, 19).
Os judeus nunca se julgaram capazes de julgar a lei
perfeitamente, mas queriam colocar um jugo sobre os discípulos, um jugo segundo
Pedro que nem seus pais puderam levar, anulando a graça de Cristo.
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a
cerviz dos discípulos- um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar?
Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles
também” (At 15.10-11).
Os fariseus convertidos ao cristianismo estavam
perturbando os apóstolos e os gentios novos convertidos:
“Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles,
dentre os gentios, que se convertem a Deus. Porquanto ouvimos que alguns que
saíram dentre nós vos perturbaram com palavras e transtornaram a vossa alma
(não lhes tendo nós dado mandamento” (At
15.19, 24).
Devemos saber que:
·
Que nenhum rito em si tem valor espiritual; o
valor está no seu significado.
·
Que é muito frequente as pessoas
entusiasmarem-se por rito (prática religiosa) e serem exigentes para esse rito
seja observado do mesmo modo que eles mesmos o praticam.
·
Que procurem estudar a Bíblia para obter base
escriturística para combater os ritos legados do passado.
·
Que o amor de Deus reine em nossos corações,
para que as divergências internas desapareçam.
II. O PARECER DE TIAGO NESTE CONCÍLIO FOI O
SEGUINTE
“Pois pareceu
bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas
essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do
sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas
coisas fareis bem se vos guardar” (At 15.28-29).
Mesmo que
alguns desses movimentos tenham surgido com objetivos nobres, buscando a
restauração espiritual da Igreja, quase sempre finda por trilhar o caminho dos
desvios doutrinários. Neste ponto, cabe uma rápida apreciação de um dos textos
clássicos no Novo Testamento relativo ás fontes e aos perigos dos desvios da
fé, explicitado pelo apóstolo Pedro (2ª Pe 2.1-3).
Os fariseus da
era apostólica estavam acrescentando algo mais no evangelho de Cristo, mas
neste concílio o Espírito Santo estava presente e orientava os apóstolos para
que eles pudessem entender o verdadeiro sentido da graça de Cristo e não impor
nem um encargo (leis) além do que já haviam aprendido com Cristo.
A
independência da igreja é respeitada. As conclusões do concílio apostólico são
escritas e enviadas como mandamentos de uma hierarquia, mas como conselhos
importantes. O selo do Espírito Santo adiciona peso e harmonizaria possíveis
divergências.
Encontramos
neste contexto a narrativa que demonstra a importância para aqueles que têm o
ministério do ensino ficar atentos a certos ensinos que contrariam a fé cristã.
São muitas as fontes que ameaçam a Igreja.
Em muitas
epístolas do apostolo Paulo, expressa abertamente o terrível combate contra o
ferrenho farisaísmo, que ainda hoje, continua sendo, talvez, o maior problema
das igrejas cristãs.
Os judaizantes
tentavam arrastar os novos crentes para as práticas cerimoniais judaicas como
prerrogativa para uma vida justa. Se pudéssemos ser salvos e levados a uma relação
correta e legitima com Deus através do cumprimento de determinadas normas e
regras, por melhor que sejam então Jesus nem precisaria ter morrido por nós.
Qualquer
pessoa ou religião que ignora ou nega o sacrifício de Jesus como elemento único
e suficiente para a salvação não pode ser considerado cristã.
III. A ORIGEM DOS
GÁLTAS
O nome Galácia deriva dos gouleses, povo que invadiu a Àsia Menor
no século III a.C., também chamado de povo celta pelos escritores clássicos da
antiguidade. O termo Galácia foi aplicado a esse povo por volta do sec. III
a.C., foi adotado pelos gregos e romanos.
A Galácia era uma província localizada na
Ásia Menor, local por onde Paulo andou para pregar o Evangelho, além da
epístola, a província é citada apenas 5 vezes no NT: At 16.6, At 18.23, 1ª Co
16.1, 2ª Tm 4.10 e 1ª Pe 1.1. Provavelmente, Paulo escreveu esta epístola em
Corinto entre 55 e 60 d.C.
IV. PROPÓSITO
Quando o Evangelho
foi pregado aos gálatas, a igreja o recebeu com alegria e fervor (At 18.23)
Tempos depois, a alegria e o fervor se esfriaram e junto a eles, veio o
problema doutrinário: “falsos irmãos” disseminavam a Lei de Moisés
dentro da igreja, alegando que o Evangelho de Jesus seria imperfeito. Esses
judaizantes pretendiam trazer, principalmente, a circuncisão (3.11-14, 5.16).
V.
ESTRUTURA DA EPÍSTOLA
A Epístola é dividida
em 3 seções:
1. Paulo defende a
autenticidade da mensagem que ele pregou aos gálatas (1.11-2:21).
2. Paulo fala aos que
haviam sido levados a praticar o judaísmo na igreja, menosprezando assim a
graça de Deus.
3. Nesta seção, Paulo
exorta os crentes a fazerem um bom uso da liberdade que o Evangelho dá.
VI. GÁLATAS
CAPÍTULO 1
1. O
apostolado de Paulo.
“Paulo,
apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por
Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1).
Este é o prefácio da
defesa de seu ministério que será defendido nos capítulos 1 e 2. Havia um
questionamento sobre o seu ministério ser menor que o do apóstolo Pedro. Os 12
apóstolos tiveram contato direto com Cristo, Paulo não. Porém, o Cristo que se
encontrou com Paulo já estava ressurreto. Quando esteve com os discípulos,
Jesus era homem e Deus, com Paulo, era somente Deus!
2. A defesa de
Paulo
Paulo alega que seu
ministério “não tem parte com homens” e “nem por intermédio de homens”. Com
isso, ele se defende de uma acusação (1.10). É necessário que Paulo utilize da
autoridade do nome de Cristo e de Deus Pai, que são formulações de fé, para
combater seus os inimigos do evangelho.
É comum: “apóstolo de Jesus Cristo” ou “apóstolo de Jesus Cristo pela
vontade de Deus” (1ª Co 1.1), ou “como servo de Jesus Cristo” (Fl 1.1). Sua fé
está totalmente baseada no sacrifício de Jesus Cristo (1.34-), chamando a todos
que entender os benefícios desse sacrifício a dar-LHE “Glória pelos séculos
dos séculos”.
3. O
espanto de Paulo.
Deus “chamou” os gálatas, por meio do Evangelho de
Cristo para o novo estado salvício (1.6s; 5.8), para o estado da “graça de
Cristo” ou de “Deus” (1.6; 2.21; 5.4). Este estado fundamenta-se unicamente na
“cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (6.14). Agora, contudo, existe o perigo de
que os gálatas já tivessem caído dessa graça (1.6; 5.4), pelo fato de serem
seduzidos pelos judaizantes (1.7; 3.1; 5.10), terem eliminado o escândalo da
cruz (5.11), crendo que o evangelho ensinado por Paulo, precisasse de um
complemento (5.3; 6.12).
4.
Opositores de Paulo.
1.6-9 – Paulo apresenta o motivo de sua carta: havia um grupo de irmãos
que estava perturbando (1.7) o pleno entendimento do Evangelho de Cristo. Esses
“falsos irmãos” eram considerados judaizantes porque defendiam que o Evangelho,
para ser perfeito deveria praticado juntamente com a Lei de Moisés, ou seja,
retornar ao LEGALISMO, e assim pregavam outro evangelho (1.6). Paulo tem
uma clara constatação: Os gálatas ainda estavam agindo como bebês na fé, tal
qual um neófito, inconstantes na fé que receberam.
O Evangelho que Paulo apresenta aos Gálatas (1.9), é
o tema central apresentado na forma concreta do evangelho ensinado por Cristo
Jesus.
Falsos mestres foram aos gálatas, procurando
persuadi-los a rejeitar os ensinos de Paulo e aceitar “outro evangelho”. Os
judaizantes, um grupo de judeu legalista da Igreja Primitiva, (que não
respeitaram o concílio de Jerusalém At 15), tentavam casar a mensagem da salvação
em Cristo com o contexto da Lei mosaica (Dt 4.2). Cristãos imaturos criam nos
ensinos distorcidos dos judaizantes. Esses ensinos envolviam outros ensinos
além da justificação pela fé. Falsos ensinos continuam sendo muito persuasivos.
5. Outro
evangelho.
Paulo advertiu os gálatas que o evangelho que os
pregadores estavam ensinando era “outro” (gr. allos) “um outro tipo
diferente”, o verdadeiro evangelho, que vem de Deus, segundo Cristo, e não
casado com a Lei.
Este evangelho diferente consistia não somente em
crer em Cristo, mas também ligar-se à fé judaica mediante a circuncisão (5.2),
as obras da lei (3.5) e a guarda dos dias judaicos (4.10).
Paulo, então, faz duas declarações:
A. Ainda que um anjo
venha do céu e diga algo além do que ele pregou, seja anátema (maldito).
B. Se alguém fizer
semelhante ao anjo, também seja anátema. Ou seja, ser humano ou celeste não tem
supremacia sobre o que Cristo ensinou e Paulo que retransmitiu na íntegra.
A palavra “anátema” (gr. anathema) significa
alguém que está sob maldição divina, condenado à destruição e que será alvo da
ira divina e da condenação eterna. Aqueles que corrompem o evangelho, Paulo
chama-os de “Anátema”, ou “maldito”. O fato de o apóstolo amaldiçoar duas vezes
esses hereges mostra a seriedade do assunto. Estavam propagando outro
evangelho, privando os cristãos da liberdade com que Jesus nos libertou,
transferindo para o homem a honra e a glória que pertence exclusivamente a
Deus, oferecendo a salvação por meio de recursos humanos. Eis porque Paulo foi
tão contundente com esses hereges.
Malditos (“anátema”) são todos que pregam um
evangelho contrário à mensagem que Paulo pregava de acordo com a revelação que
Cristo lhe dera (vv. 11-12). Quem acrescenta ou tira algo do evangelho original
e fundamental de Cristo e dos apóstolos, ficam sujeitos à maldição divina:
“Deus tirará a sua parte do livro da vida” (Ap 22.18-19).
6. Apologia
de Paulo.
1.10-17 – Paulo começa a defesa de seu ministério, apresentando a defesa
de sua fé. Paulo tem certeza que o seu ministério é bem sucedido porque está
totalmente fundamentado no sacrifício vicário de Jesus: Ele agrada a Deus por
ser servo de Cristo (1.10).
Em 1.11-12, ele volta com o assunto dos versículos 1.8-9: O apóstolo
deixa claro que ele não é um anátema. Faz-nos lembrar que seu encontro com Cristo
no caminho de Damasco, At 9.2-3, foi o início de um grande período de
aprendizado. Ele relembra que, como JUDEU, foi um praticante improdutivo e
perseguidor da igreja (1.13).
7. Sua conduta
no Judaísmo.
Ele lembra aos seus leitores a sua origem. Era
praticante fervoroso do judaísmo, religião dos judeus. Era inimigo implacável
de Jesus Cristo; consentiu na morte de Estevão. Perseguiu ferozmente os
cristãos não só de Jerusalém, pois estava a caminho de Damasco, no enlaço dos
discípulos de Jesus (At 8.1-3; 9.1-2). Assim mostra o seu zelo pelo judaísmo e
a sua disposição para exterminar a igreja de Jesus Cristo. No entanto foi
alcançado pela graça de Deus. Um homem radical assim, não seria transformado em
outro homem com outro conceito de teologia, com outra visão de mundo, se Deus
não estivesse nesse negócio. Era impossível ser essa doutrina originada no
judaísmo.
Porém o diabo é astuto, como ele havia perdido o seu
maior discípulo nessa guerra, passou então usar os falsos mestres para misturar
o genuíno evangelho com a Lei de Moisés o qual não é diferente hoje.
8. Paulo
um vaso escolhido
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e
me chamou pela sua graça”. (v. 15).
Quando Jesus se revelou a Saulo disse que ele era um vaso escolhido (At
9.15). O apóstolo afirma, muitos anos depois de sua conversão, que já fora
escolhido por Deus para esse ministério desde o ventre de sua mãe.
Paulo reconhece a onisciência de Deus ao separá-lo antes de nascer para a
obra da salvação (1.15).
9. O
mestre bíblico de Paulo.
Porque não recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de
Jesus Cristo” (v.12).
Ninguém pregou para Saulo de Tarso; foi o próprio Jesus quem apareceu a
ele (At 9.3-6, 15). É isso que ele quer dizer, quando diz que não recebeu e nem
aprendeu de homem algum. Aqui ele faz uma demonstração da declaração feita em
Gl 1.1. Ele reivindica com muito vigor e propriedade a origem divina do
evangelho completo que pregava e ensinava.
10. “Não
consultei nem carne e nem sangue” (v.16).
É uma referência a seu encontro pessoal com Jesus no caminho de damasco e
que não procurou os apóstolos, para ser doutrinado por eles.
Nem tronei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos,
mas parti para a Arábia e voltei outra vez a Damasco. Depois de três anos, fui
a Jerusalém para ver Pedro e fiquei com ele 15 dias. E não vi a nenhum outro
dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl1.17-19).
Ele foi para a Arábia por um longo tempo e daí voltou a Damasco. Paulo
não estava com isso menosprezando a autoridade dos demais apóstolos; o que ele
estava dizendo é que tinha a mesma autoridade deles. Ele não esteve três anos e
meio com o Senhor Jesus no Seu ministério terreno, como os apóstolos em
Jerusalém, mas recebeu diretamente do Senhor o seu evangelho. Ele diz: “nem
tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos”.
Deus usou esse homem mais que qualquer um dos apóstolos (1ª Co 15.10).
Sua sabedoria sua espiritualidade, seu talento, sua criatividade, seu ímpeto,
seu zelo e disposição no trabalho. Somando a isso sua bagagem cultural, o
extraordinário conhecimento do Antigo Testamento, com a graça de Deus e a
inspiração do Espírito Santo, são a causa da sua teologia.
Como Paulo soube de tudo isso? É isso que ele explica em Gálatas
1.11-24).
Paulo sabia que os gentios eram o foco de seu ministério. Por isso ele não subiu a Jerusalém (local dos judeus). Lá já havia Pedro e outros para pregar a eles. Está intrínseco que a obra de Deus não era mais restrita aos JUDEUS que por terem a primazia, se tornaram arrogantes e totalmente irresponsáveis com a ELEIÇÃO que lhes foi concedida desde Abraão.
1.18-22 – Por ter Paulo consciência do seu ministério gentílico, só pisou
em território judeu após 3 anos de ministério e lá encontrou Tiago, irmão de
Jesus. O relato dos versos 18 e 19 têm Deus como testemunha. Era importante
para Paulo dizer isso porque ele estava sendo um apóstolo focado e obediente.
Na verdade, as igrejas da Judéia não o conheciam (1.22), mas sabiam da fama
daquele homem que solicitou cartas para perseguir a igreja (At 9.1-2) e consentiu
na morte de Estevão (At 8.1).
11. Paulo
uma testemunha viva do poder de Deus
1.23-24 – Paulo era uma testemunha viva do poder de Deus. Sua vida
pregressa foi transformada pelo poder Daquele que agora ele apregoava, sendo
assim, os gálatas não poderiam duvidar do poder da Palavra que eles estavam
abandonando, porque o próprio apóstolo era um testemunho vivo desse poder e
assim, os que conheceram a sua história “Glorificavam a Deus” a seu respeito
(1.24).
Pr.
Elias Ribas
Igreja
Assembléia de Deus
Blumenau
- SC.
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