Cada um é livre para fazer o que quer
>> quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Ouvi esta frase, num programa de televisão: “Cada um é livre para fazer o que quer”. Ela me fez pensar.
O homem é
dotado de capacidade de pensar e tomar decisões. É responsável por seus
atos. Não se pode impor a alguém uma religião ou uma ideologia, por
exemplo. Pais escrupulosos não imporão uma profissão a seus filhos.
Respeitarão suas habilidades e o seu pendor. Neste sentido, a frase tem
certa razão. Cada um faz o que quer de sua vida, sendo por isso
responsável. Neste sentido, a liberdade é plena.
Mas nem
sempre somos livres para fazermos o que queremos. Eu gostaria de fazer
muitas coisas que simplesmente não posso. Neste sentido, não somos
livres para fazer o que queremos. Querer não é poder. Podemos querer
coisas que não podemos ter.
Há
coisas que não apenas não podemos fazer, mas que não devemos fazer. Um
homem pode desejar ter todas as mulheres do mundo, mas ficará no desejo.
Alguém disse que Deus é mal humorado porque parte dos dez mandamentos
começa com um não. Ele nos proibiu coisas boas que gostaríamos de fazer.
Por isso diz uma música popular que “tudo que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda”.
As coisas boas são proibidas. Deveríamos poder fazer e ter todas as
coisas que gostaríamos. Abaixo as leis, abaixo os conceitos moralistas,
abaixo as religiões com suas regrinhas! Viva a anarquia, vivam os
desejos, façamos o que queremos e chega de conversa.
Mas isso
funciona? Por querer a mulher de Urias o rei Davi planejou a sua morte.
Fez o que quis: adulterou e idealizou um assassinato. Mas pagou um
preço muito alto pelo que fez. Pode-se fazer o que se quer ou é
necessário ter regras? Liberdade é o direito de fazer o que se quer? O
que uma pessoa quer e pensa ser seu direito pode ser a transgressão do
direito de outra.
Deus
colocou tantos não nos dez mandamentos não por mau humor, mas por saber
que somos maus, que somos pecadores. É uma incoerência o conceito
humanista de que o homem é bom. Se o homem é bom, por que a maldade e
tantas desgraças? Dizer que ele é bom e que a sociedade o corrompe é uma
incongruência. A sociedade não é pau nem pedra. É gente. A sociedade é a
soma das pessoas, que são más. Davi confessou sua maldade inata, quando
declarou: “eu nasci em iniquidade” (Sl 51.5). Isso é o que os teólogos chamam de “depravação, a capacidade inata no ser humano de buscar o mal”. O homem não é bom. É pecador. Bem disse Billy Graham, “o homem é exatamente aquilo que a Bíblia diz que ele é”.
Por ser pecador, o homem não pode fazer o que deseja, pensando que assim é livre. Disse Paulo: “o bem que quero, esse não faço; o mal que não quero, esse eu faço”
(Rm 7.19). Quando seguimos nossos instintos e paixões, não nos
realizamos, mas nos frustramos. Ouvimos a iniquidade, desprezando leis e
princípios que orientam a vida, e nos tornamos como os irracionais, que
não têm capacidade mental e seguem o instinto. E nos damos mal.
Fazer o que se quer não é ser livre. É ser escravo. Dos instintos. De uma natureza corrompida. Por isso Jesus disse que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”
(Jo 8.34). Não somos livres quando fazemos o que queremos, e regras e
princípios não são algemas. Imaginemos um trem que quisesse trafegar
fora dos trilhos para poder ser livre. Saísse dos trilhos e entrasse
pelo gramado, cheio de flores, alegre e festivo. Ele afundaria, com seu
peso. Há um lugar para ele transitar e fora deste lugar ele se
imobiliza.
Liberdade não é o direito de se fazer o que se quer. O pensador cristão Elton Trueblood disse que “liberdade não é liberdade para, mas liberdade de”.
Somos livres não para fazermos o que queremos, mas somos livres de
alguma coisa. Somos livres para sermos o que Deus espera de nós. Como
disse Kierkegaard: “Com a graça de Deus serei o que devo ser”. Jesus ilustrou isto muito bem: “se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres”
(Jo 8.36). Liberdade é a capacidade de poder gerir a sua vida. É a
capacidade de viver sem ser escravo de vícios, de paixões vis, de
drogas, da ansiedade, do medo do futuro. Desde quando uma pessoa escrava
de um pedaço de papel com mato dentro, um cigarro, é livre? Desde
quando alguém que não consegue livrar-se de uma garrafa é livre? Livre é
a pessoa que pode dizer: “Isto me faz bem e eu aceito. Tenho forças para fazê-lo, mesmo não gostando”. Livre é a pessoa que pode dizer: “Isto é agradável, mas trará más consequências. É bom, mas tenho a capacidade de rejeitar”. Liberdade é o direito de saber usar bem a vida, de discernir entre o que se deve e o que não se deve.
Voltemos a Jesus: “se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.
Ele dá discernimento espiritual e moral para sabermos o que buscar e o
que evitar. Ele dá poder para vencer o que é agradável, mas daninho. Ele
torna a pessoa livre. Muita gente censura os crentes, dizendo sermos
escravos, que não podemos fazer muitas coisas. Não é que não podemos. É
que não queremos. Não nos têm valor. Volto à questão do cigarro: é
ridículo um adulto chupando sofregamente um mau cheiroso invólucro de
papel com mato dentro, sem poder parar de fazê-lo, embora muitas vezes
querido fazê-lo. Coisa triste um bêbedo, caído na sarjeta, escravo do
álcool. Coisa deprimente e triste um casal se separando, com os filhos
prejudicados, por causa da infidelidade conjugal de uma das partes.
Os
crentes não vivemos debaixo de regrinhas. Vivemos na liberdade que
Cristo nos deu. Ele nos abriu os olhos e capacitou nossa vida para
vencermos o mal que desgraça e optarmos pelo bem que exalta.
Você
pode ser livre. Pode deixar de fazer o que lhe prejudica e fazer o bem
que sabe que deve fazer. Basta confiar em Cristo, fazendo dele seu
Senhor, cedendo-lhe sua vida, confiando-lhe a direção do seu viver. Você
descobrirá o que Jesus quis dizer com “e conhecereis a verdade e
verdade vos libertará”. Jesus é a verdade que liberta. O resto é
mentira. Seja livre. Assuma um compromisso com Cristo.
Fonte: Site do autor
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