“Não toqueis em meus ungidos”
>> quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
“Não toqueis em meus ungidos, não maltrateis meus profetas” (Salmo 105.15, King James).
Por Isaltino Gomes Coelho Filho
No meu grupo de estudos teológicos em Monte Dourado, no Vale do Rio
Jari (imponente tributário do majestoso Amazonas), alguém levantou esta
questão de não tocar nos ungidos do Senhor, exatamente quando
estudávamos Tito, no tocante ao caráter do obreiro. Comentei que o Salmo
105.15 vem sendo usado equivocadamente, para defender a intocabilidade
de obreiros que esgrimem o texto para se colocarem acima da crítica.
Eles são ungidos do Senhor e nada se lhes pode fazer, mesmo quando estão
em pecado.
A questão é que, embora os termos hebraicos sejam mesmo meshiahay e nabhyay
(“meus ungidos” e “meus profetas”), a alusão não é a uma classe de
homens, como os profetas quando da profecia já institucionalizada, e sim
a família eleita, os patriarcas até Jacó. O contexto é bem claro: todo o
salmo alude a Israel no Egito. A ordem para não tocar nos ungidos e
profetas do Senhor, no texto, foi dirigida às nações pagãs, por onde a
família eleita peregrinou, antes de chegar ao Egito. São os episódios
envolvendo Abraão, Isaque e Jacó em seus conflitos com seus vizinhos.
Esses vizinhos deviam saber que não podiam tocar na família ungida, os
ungidos e profetas de Deus. O episódio de Gênesis 20.1-7 elucida isso
bem. Não se podia tocar em Sara. Em Gênesis 20.7 aparece, pela primeira
vez, o termo “profeta” (nabhi)
e é aplicado a Abrão. Os ungidos e profetas intocáveis e não
maltratáveis, no texto, são os patriarcas. Não o pastor do século 21.
Tanto é assim que à frente dos meshiahay e nabhyay, os
ungidos e profetas, foi enviado “um homem, José, vendido como escravo”
(v. 17). Ele salvou os ungidos e profetas da fome, ao introduzi-los no
Egito.
Minha preocupação não é ser do contra nem mostrar que todo mundo está
errado. É, isso sim, alertar para que textos bíblicos não sejam usados
fora do contexto para provar teses para as quais eles não foram
destinados. O pastor deve ser respeitado e obedecido (Hb 13.17). Quando
faz seu trabalho bem feito deve receber salário em dobro. O “dupla
honra” (diplês timês), de
1Timóteo 5.17, significa “dobrados honorários”, como bem traduziu a
King James.O pastor há que ser respeitado e bem pago. Mas não está acima
da crítica e não é intocável. A igreja local tem autoridade sobre ele,
bem como tem autoridade sobre todos os crentes. Aliás, é preciso
resgatar a autoridade da igreja. Ela não está subordinada a pessoas, mas
ao seu Senhor, e seus membros estão debaixo da autoridade dela.
Mas o confortador é saber que Deus adverte ao mundo para não tocar nos
que são seus, no seu povo. A igreja de Jesus se compõe de homens e
mulheres que são os ungidos e os profetas de Deus neste mundo. Quando se
encontrou com Saulo no caminho de Damasco, Jesus não lhe perguntou por
que ele perseguia os membros da seita O Caminho. Perguntou-lhe: “Por que
me persegues?” (At 9.5). A perseguição que Saulo fazia aos seguidores
de Jesus era vista pelo Senhor como uma perseguição a ele, o Senhor. Ele
toma as dores do seu povo. Se o pastor for perseguido por membros da
igreja que se lembre que o Senhor Jesus vê e acerta as contas com
aqueles membros da igreja. Eu, particularmente, sem ser o queridinho do
Papai do céu, experimentei isso. Deixei com Deus para que cuidasse da
situação. Ele cuidou. O tempo é o segundo melhor juiz dos eventos (o
primeiro é Deus) e mostra quem é quem.
Pastores: lideremos nossos rebanhos, mas sejamos humildes para
reconhecer nossos erros e evitemos colocar-nos acima da crítica.
Ovelhas: respeitem, amem e honrem seus pastores. Dêem-lhes sustento
digno. Pastores e ovelhas: o Senhor cuida de nós. Não briguemos.
Entreguemos a Deus. Mundo: respeite o povo de Deus.
Fonte: Isaltino Gomes Coelho Filho
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